A busca pelo viagra feminino tem despertado grande curiosidade, mas será que existe realmente uma solução para a diminuição do apetite sexual feminino?
Viagra feminino: mito ou realidade?
Corria o ano de 2015, quando a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA), deu aval à comercialização do primeiro medicamento, com o nome comercial de Addyi, que visava combater a diminuição do desejo sexual feminino.
Este medicamento tem sido comercializado desde então nos Estados Unidos da América, com necessidade de receita médica, especialmente dirigido às mulheres que estão a entrar na menopausa. Promete melhorar o desejo sexual, assumindo-se como uma espécie de viagra feminino.
No entanto, ao contrário do que acontece no viagra masculino, este medicamento funciona de forma distinta e há a necessidade de ser tomado diariamente, de forma a equilibrar determinados neurotransmissores cerebrais que têm um importante papel ao nível do desejo e da motivação sexual.
O medicamento que gera controvérsia
A aprovação deste medicamento não está isenta de polémica e discussão. Inicialmente ,foi desenvolvido como antidepressivo, contudo, quando a sua eficácia não foi comprovada acabou por ser descontinuado. Posteriormente, voltou a ser novamente estudado, com o objetivo de intervir ao nível da diminuição do desejo sexual feminino.
Após alguns chumbos devido aos efeitos secundários que apresenta (tonturas, náuseas, sonolência e diminuição da pressão arterial), a sua comercialização acabou por ser aprovada mas os seus efeitos positivos não se fizeram sentir exponencialmente nas mulheres, ao contrário do que seria de esperar (alguns estudos referem que apenas 8 a 13% das mulheres que participaram no estudo sentiram melhorias no desejo sexual).
Tendo em conta estes dados, a existência e a pertinência de um viagra feminino tem gerado muita controvérsia e discussão na comunidade científica.
Se por um lado, o viagra feminino poderia representar uma revolução ao nível da sexualidade feminina e na forma de tratar as disfunções sexuais, a verdade é que a maioria dos casos de diminuição da libido feminina parece dever-se a questões do foro psicológico (apenas uma pequena parte das dificuldades sexuais das mulheres se deve a desajustes dos neurotransmissores).
Testosterona: a hormona do sexo?
A ação da testosterona no cérebro humano passa por tornar as pessoas mais atentas aos sinais sexuais e estimular a sua imaginação sexual.
Esta ação da testosterona no desejo sexual tem sido sobretudo testada e comprovada nos homens. No entanto, um número mais limitado de estudos tem igualmente vindo a sugerir que também nas mulheres existe uma relação semelhante.
Tendo em conta esses indicadores, a testosterona passou a ser procurada para tratar dificuldades ao nível do desejo sexual nas mulheres, dando início à busca pelo viagra feminino.
Desta forma, tem havido um maior investimento em estudos acerca da relação entre a testosterona e o desejo sexual feminino. Estes estudos têm mostrado que, nas mulheres, a relação entre a testosterona e a libido é bastante menos linear do que nos homens.
O que acontece é que, se em algumas mulheres a testosterona aumenta o desejo sexual, outras mulheres não mostram qualquer reação ao tratamento. Assim, o desafio atual passa por compreender porque é que algumas mulheres com dificuldades ao nível do desejo sexual respondem positivamente à testosterona e outras não.
Alguns especialistas defendem que o facto de algumas mulheres evidenciarem um nível baixo de libido apesar de terem níveis de testosterona normais pode estar associado a fatores de ordem psicológica, tais como determinadas características de personalidade ou dificuldade em sentir as próprias emoções.
A confirmar-se, o problema da falta de libido poderá então ser abordado através da psicologia e os clínicos poderão avaliar a personalidade das pacientes e o seu estado emocional, previamente à prescrição de testosterona.
Viagra masculino: uma descoberta acidental
Ao contrário do viagra feminino, que tem vindo a ganhar maior visibilidade nos últimos anos, o viagra masculino é já sobejamente conhecido. No entanto, a sua descoberta parece ter sido um verdadeiro acaso.
O viagra, que é possivelmente o medicamento mais utilizado para o tratamento da disfunção erétil, foi descoberto de forma totalmente acidental, na medida em que o seu propósito original passava por relaxar os vasos sanguíneos que rodeiam o coração com o objetivo de melhorar o fluxo sanguíneo em algumas doenças cardiovasculares.
No entanto, foram vários os homens que após serem submetidos ao tratamento relataram um efeito secundário comum – a indução da ereção após a toma do medicamento.
Naturalmente, iniciou-se de imediato o estudo acerca da pertinência deste medicamento para o tratamento da disfunção erétil e o famoso comprimido azul começou a ser comercializado.
Em suma
Ao contrário da disfunção erétil, em que a maioria das causas se prende com questões físicas, o desejo sexual feminino é influenciado sobretudo por fatores psicológicos (por exemplo, a relação com o companheiro, problemas do dia-a-dia, problemas familiares, problemas profissionais, o pré e pós-parto, autoimagem corporal).
Assim sendo, a ausência ou diminuição de desejo não é uma questão que possa ser resolvida com recurso a determinados fármacos, daí que a necessidade do viagra feminino seja constantemente questionada.
A solução farmacológica avançada em 2015 despertou discussão e polémica e os resultados não foram animadores.
Contudo, recentemente, foram conhecidas notícias de que a FDA aprovou uma injeção (Vyleesi) que visa melhorar o desejo sexual feminino e que, ao contrário das versões que já estavam disponíveis no mercado, não é de uso diário, podendo ser tomada apenas quando necessária.
Como qualquer outro fármaco, o Vyleesi também apresenta efeitos secundários desagradáveis (dor de cabeça, náuseas, rubor, escurecimento de partes da pele e das gengivas) e está contraindicado em mulheres com pressão alta ou que padeçam de doenças cardiovasculares.
Sendo ainda uma novidade, importa compreender no futuro qual a sua real eficácia, de forma a perceber se chegou de facto ao mercado o verdadeiro viagra feminino.