As vertigens são um sintoma, mais do que uma doença por si só. Trata-se de uma sensação de que o ambiente em redor se encontra em movimento ou uma ilusão rotatória.
Esta noção pode ser praticamente imperceptível, sem impacto no quotidiano da pessoa mas, em casos extremos ser tão severa a ponto de impossibilitar a manutenção do equilíbrio e, desta forma, a realização de simples atividades do nosso dia a dia, desde conduzir até uma simples caminhada.
Os ataques vertiginosos podem-se desenvolver subitamente e durar alguns segundos ou até horas. Alguns sintomas associados à vertigem podem incluir vómitos, náuseas e a perda de equilibrio.
O que causa as vertigens?
Dependendo da condição de base que causa vertigem, podem haver sintomas adicionais, como febre, zumbido ou perda de audição.
A vertigem é principalmente causada por um problema relacionado com o processamento da noção de equilíbrio, que pode estar relacionada com o ouvido interno ou causada por patologia de estruturas cerebrais. Nesse sentido, as causas de vertigem dividem-se em centrais e periféricas.
As vertigens de origem periférica, muito mais comuns, são principalmente causadas por anomalias no mecanismo responsável pela manutenção postural do ouvido interno.
As principais causas incluem:
- Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB);
- Traumatismo craniano;
- Labirintite;
- Neuronite vestibular;
- Doença de Meniére.
Algumas medicações também têm o potencial de interferir no funcionamento do ouvido interno e desta forma contribuir para a vertigem de causa periférica.
A Vertigem Posicional Paroxística Benigna é a denominada doença dos cristais. É uma das causas mais comuns de vertigem, que ocorre tipicamente associada a movimentos súbitos da cabeça (ao levantar-se, olhar nos dois sentidos ao atravessar uma rua, acenar com a cabeça, ao virar-se na cama).
Caracteriza-se por ataques de vertigem curtos, intensos e recorrentes que duram de breves segundos até minutos. Acompanha-se tipicamente de náusea. Pode-se verificar um movimento incontrolável dos olhos, ao qual chamamos de nistagmo – importante para o diagnóstico da patologia por parte do médico otorrinolaringologista.
Acredita-se que a Vertigem Posicional Paroxística Benigna seja causada por pequenos fragmentos de detritos (cristais de carbonato de cálcio), que se libertam do revestimento dos canais do ouvido interno. Os fragmentos geralmente não causam problemas, a menos que se posicionem num dos canais semicirculares internos do ouvido. O canal mais afetado é o posterior, numa percentagem de 85-90%.
Quando a cabeça está parada, estes fragmentos ficam no fundo do canal. No entanto, certos movimentos da cabeça fazem com que eles sejam arrastados ao longo do canal cheio de líquido, o que envia sinais para o cérebro de uma alteração da posição (mesmo não existindo), causando a noção de movimento do meio que nos rodeia.
Pode acometer qualquer faixa etária, desde crianças a pessoas com idade mais avançada. No entanto, verifica-se uma prevalência aumentada a partir dos 50 anos de idade.
Pode ocorrer espontaneamente, ou como consequência de uma infeção do ouvido, traumatismo craniano ou após um período prolongado de repouso no leito, como por exemplo no contexto de um período de convalescença.
Tratamento
Em fase aguda, deverá recorrer ao serviço de urgência ou consulta de Otorrinolaringologia por forma a realizar, por um lado as manobras de diagnóstico (Dix-Hallpike) e, depois de confirmado o diagnóstico, poderão ser realizadas manobras com um fim terapêutico (Epley).
Após a fase aguda e a sua respetiva resolução, deverá evitar movimentos bruscos ou alterações repentinas da posição da cabeça. Existem vários exercícios, nomeadamente os exercícios de Brandt-Daroff, cuja realização pode ser feita pelo doente em casa e podem ter indicação clínica por parte do médico otorrinolaringologista, e permitem uma recuperação favorável da função vestibular.
Pode ocorrer vertigem após traumatismo craniano. Se apresentar tontura ou vertigem após um traumatismo craniano deverá consultar o seu médico assistente.
É uma inflamação de uma estrutura do ouvido interno (labirinto) que controla a audição e o equilíbrio. Com a inflamação desta estrutura, há uma dessincronia entre a informação visual e a informação propriocetiva (que diz respeito ao equilíbrio).
Estes sinais conflituosos criam essa ilusão rotatória a que chamamos vertigem. É causada principalmente por uma infeção viral, normalmente no contexto de gripe, cuja disseminação atinge o labirinto. É, ao contrário da Vertigem Posicional Paroxística Benigna, acompanhada por perda auditiva e febre. No entanto, apresenta igualmente náusea, vómitos. Pode apresentar dor de ouvido.
Tratamento
Sendo a causa principalmente viral, o recurso a antibioterapia não é necessário, estando geralmente reservado para casos de etiologia bacteriana.
O tratamento sintomático com anti-eméticos e anti-inflamatórios é primordial na orientação desta patologia. Porém, a referenciação e seguimento por parte do médico otorrinolaringologista é fulcral, com vista à otimização do ponto de vista auditivo e do ponto de vista vestibular – podendo haver a necessidade de reabilitação vestibular.
É uma inflamação do nervo auditivo que conecta o labirinto às estruturas de processamento central – cerebrais. É commumente causada por uma infeção viral, ocorrendo subitamente e causando sintomas como instabilidade postural, náusea e vómitos.
Por norma, não apresenta perda auditiva associada. A sua duração pode variar, mas normalmente dura entre horas a dias, podendo levar semanas até o indivíduo conseguir voltar à vida normal.
Tratamento
De forma análoga à labirintite, tratando-se principalmente de uma causa viral, o tratamento visa o controlo sintomático. Aconselha-se repouso total enquanto o doente não verificar uma melhoria dos sintomas. A evição de bebidas alcoólicas é igualmente aconselhada.
A doença de Menière é uma doença rara, que afeta igualmente o ouvido interno, causando crises muito limitantes de vertigem, associadas a perda de audição (principalmente nas frequências graves, mas podendo afetar qualquer frequência do espetro auditivo), zumbido e planitude aural (sensação de pressão no ouvido, ou sensação de ouvido tapado).
Os doentes com esta patologia apresentam ataques súbitos de vertigem que podem durar horas até dias, causando náuseas e vómitos. A causa desta doença ainda não é totalmente conhecida, no entanto estudos apontam para um papel da hidropsia endolinfática.
Tratamento
O tratamento desta doença visa, durante a fase aguda, o controlo sintomático. Durante a fase latente, é aconselhável, por parte do doente, adoptar uma dieta pobre em sal, medicação prescrita pelo médico para prevenção das crises. A fisioterapia, quando indicada, pode ter um papel importante na reabilitação desta patologia.
No que diz respeito à orientação da parte auditiva, a reabilitação auditiva é sempre considerada, podendo haver a necessidade de terapia sonora para o zumbido ou aparelho auditivo, mediante as queixas do doente e a evolução da patologia.
Pelo seu carácter extremamente limitante, o stress e ansiedade que os doentes sofrem pela imprevisibilidade das crises e da sua intensidade e consequente limitação da sua vida quotidiana, é essencial a orientação médica desta vertente por forma a obter o melhor resultado possível, que se resume a uma melhor qualidade de vida para o doente.
Exames de diagnóstico para compreender as vertigens
Dependendo da sintomatologia apresentada, pode haver a necessidade de realização de exames complementares de diagnóstico, por parte do médico otorrinolaringologista.
Exame auditivo
Se apresentar zumbido ou perda auditiva, poderá ser útil a realização de audiograma, timpanograma ou exames acumétricos.
Videonistagmografia (VNG)
Às vezes é usada para verificar sinais de nistagmo com mais detalhes. O nistagmo pode indicar um problema nos órgãos que ajudam a equilibrar.
Durante este teste, óculos especiais são colocados sobre seus olhos e deverá olhar para vários alvos estáticos e móveis. Os óculos são equipados com uma câmara de vídeo para registar os movimentos de seus olhos. Eletronistagmografia também pode ser usada, onde os elétrodos são colocados ao redor do olho em vez de óculos de proteção.
Provas calóricas
Um teste calórico envolve a entrada de água morna ou fria ou ar no ouvido por cerca de 30 segundos. A mudança de temperatura estimula o equilíbrio do órgão no ouvido, permitindo ao médico otorrinolaringologista verificar o seu funcionamento.
Este teste não é doloroso, embora seja normal sentir tonturas durante o teste. Isso às vezes pode continuar por alguns minutos depois.
Postugrafia
Este exame visa testar o equilíbrio e fornece informações valiosas sobre a utilização da visão, propriocepção (sensações de seus pés e articulações) e da informação espacial que chega ao seu ouvido para manter o equilíbrio. Isso pode ajudar a planear a reabilitação e monitorizar seu tratamento.
Exames de imagem
Em alguns casos, exames de imagem podem ser necessários para procurar a causa de sua vertigem, como um neuroma acústico (um tumor cerebral não cancerígeno).
Normalmente, uma imagem de ressonância magnética ou uma tomografia computadorizada são utilizados para despiste deste tipo de patologia.
Reabilitação vestibular: treino cerebral para minimizar a tontura
A reabilitação vestibular, também chamada de treino de reabilitação vestibular, é uma forma de “treino cerebral”. Envolve a realização de um programa especial de exercícios que estimulam o cérebro a adaptar-se às mensagens anómalas enviadas pelos ouvidos.
Durante a reabilitação vestibular, o paciente continua-se a mover apesar das sensações de tontura e de vertigem.
O cérebro, eventualmente, aprende a confiar nos sinais vindos do resto do corpo, como olhos e pernas, em vez dos sinais conflituosos vindos do ouvido interno. Ao confiar noutros sinais (input sensorial), o cérebro minimiza qualquer tontura e ajuda a manter o equilíbrio.
A reabilitação vestibular tem indicações específicas que deverão ser discutidas com o médico otorrinolaringologista.
Em suma, a patologia vertiginosa na sua grande maioria é, apesar de benigna, uma patologia muito incapacitante das atividades da vida diária do paciente. O melhor tratamento deverá ter em conta a patologia de base e desta forma minimizar o efeito da mesma no quotidiano, de forma a que possa usufruir de experiências como uma simples caminhada ou um passeio à beira-mar da melhor forma, contribuindo para o seu bem-estar.
Artigo originalmente publicado em Setembro de 2020. Atualizado em Setembro de 2022.