A urticária manifesta-se geralmente por erupções cutâneas (pápulas) de dimensões variáveis, acompanhadas por prurido (leve, moderado ou intenso) podendo afetar a pele de uma forma generalizada ou localizada. Em situações menos frequentes pode causar angioedema quando afeta a área mais profunda da pele (1-4).
É uma condição clínica muito frequente, em que 15% a 25% da população em algum momento da vida sofreu desta patologia.
O seu aparecimento é mais propenso em quem já teve um episódio de urticária anterior, pessoas que tenham tido outras reações alérgicas ou sofram de doenças que fragilizam o sistema imunitário, assim como quem tem familiares com historial de urticária. A maior parte dos casos relatados não tem gravidade, embora o desconforto que provoca possa contribuir para um impacto negativo na qualidade de vida (1).
Tipos de urticária
A urticária pode ser classificada de acordo com:
- a duração da sintomatologia (erupção cutânea e/ou angioedema)
- aguda (inferior a 6 semanas)
- crónica (superior a 6 semanas)
- a etiologia (espontânea ou induzível).
Urticária aguda
A urticária aguda é uma condição muito frequente (com uma taxa de prevalência na Europa entre 12% a 24%) e que consiste no aparecimento espontâneo de erupções cutâneas, podendo ou não ter angioedema associado.
É mais frequente em pessoas com doenças atópicas como rinite, asma ou eczema atópico, e nas crianças e adultos jovens. As alergias alimentares e medicamentosas podem estar associadas a este tipo de urticária, com sintomatologia de curta duraçãom que inicia após a exposição e finaliza em poucas horas.
Na maior parte dos casos a causa é idiopática, embora seja comum situações de urticária aguda com causa infecciosa em crianças (1,2).
Urticária crónica
Relativamente à urticária crónica, estima-se que seja mais frequente entre os 25 e os 55 anos de idade e 20% a 45% dos casos seja desencadeada a partir de casos de urticária aguda. A duração total dos sintomas é variável, podendo estender-se até 6 meses (50% dos casos) ou ter uma duração superior a 10 anos (20% dos casos) (1,2).
É de salientar que uma história clínica aprofundada é fundamental para orientar a investigação, incluindo um estudo complementar de diagnóstico laboratorial, sendo direcionado e decidido caso a caso pelo médico especialista em Imunoalergologia (1-3).
Além de agentes alergénicos como medicamentos (medicamentosa), alimentos (alimentar) e infeções (infecciosa), existem também outros fatores externos que podem desencadear este tipo de patologia (designada de urticária induzível), como por exemplo (1-3):
- Urticária ao calor e ao frio: causada por contato da pele com ar/água/sólido quente ou frio
- De pressão: provocada por pressão sobre a pele, que pode surgir apenas 3-12 horas após o estímulo mecânico
- Solar: desencadeada por exposição à luz visível e/ou ultravioleta
- Dermatográfica: desencadeada por fricção da pele
- Vibratória: desencadeada por mecanismo de vibração (por exemplo, martelo pneumático)
- Aquagénica: provocada por contacto pela água a qualquer temperatura
- De contacto: causada pelo contato a uma substância à qual a pessoa é alérgica, por exemplo pólen de gramíneas
- Colinérgica: causada por aumento da temperatura corporal, de causa interna ou externa ao organismo (por exemplo, banho de água quente, febre, exercício físico, stress emocional, etc.)
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico de urticária, particularmente, em casos de cronicidade, é baseado no exame físico e histórico clínico do utente, não sendo necessário testes laboratoriais extensivos, pois além de morosos podem ser inconclusivos. No entanto, dependendo do caso a analisar, existe a possibilidade de utilizar os comuns testes cutâneos de despiste de alergias ou até mesmo o doseamento de anticorpos IgE específicos (1,2).
Em casos específicos de urticária crónica induzível, é comum utilizar provas de provocação, mediante o tipo de estímulo a estudar. Menos usual, mas ainda assim sendo considerado em alguns casos é a análise de biópsia cutânea (2,3).
Tratamento da urticária
Cada caso deve ser avaliado individualmente, com uma terapêutica direcionada, sendo que em ambas as situações de urticária, os medicamentos utilizados têm como objetivo aliviar e controlar os sintomas, a fim de atenuar o desconforto causado.
Os anti-histamínicos orais são os fármacos de eleição, podendo ser necessário algum ajuste na dosagem quando a resposta clínica não é a desejável. Não é recomendável o uso de pomadas pois paradoxalmente podem agravar a urticária (1-4).
Em casos de fraca resposta terapêutica com anti-histamínicos, devem considerar-se fármacos alternativos, nomeadamente corticosteróides, ciclosporina (imunossupressor), montelucaste, ou omalizumab (tratamento injetável de administração exclusiva hospitalar) (1,3).
Quando existe um diagnóstico categórico referente ao agente responsável pela reação alérgica, é importante praticar medidas de evicção (1,2).
O impacto da urticária no dia a dia
A urticária é uma patologia que pode condicionar uma enorme instabilidade emocional pelo incómodo dos sintomas e pelas limitações que implica nos contactos e relações interpessoais.
A instabilidade emocional induzida pela doença pode agravar um distúrbio psicológico pré-existente, daí as designações de urticária nervosa ou urticária emocional.
Pode ter implicações muito relevantes no sono, devido ao agravamento dos sintomas durante a noite, motivo pelo qual por vezes se refere a urticária noturna. No entanto, quando é seguida com alguma paciência e empenho, quase sempre se encontra uma alternativa terapêutica eficaz que permite ao utente ter uma vida “dita” normal, com o menor desconforto possível (1).
- Saúde e bem estar. Urticária. Disponível em: https://www.saudebemestar.pt/pt/medicina/alergologia/urticaria/
- Antia C, Baquerizo K, Korman A, Bernstein J, Alikhan A. 2018. Urticaria: A comprehensive review (Epidemiology, diagnosis and work-flow). Elsevier. American Academy of Dermatology, Inc. USA(Cincinnati). 599-610. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30241623/
- METIS.UP. 2018. Urticária. Disponível em: http://metis.med.up.pt/index.php/Urtic%C3%A1ria
- Atlas da Saúde. Urticária. Disponível em: https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/urticaria