A Tríade da Atleta Feminina é uma condição médica que é definida pela presença conjunta ou separada de três sintomas graves: baixa ingestão alimentar (que pode estar associada a anorexia ou não), distúrbios menstruais e baixa densidade óssea.
Esta síndrome foi definida pela primeira vez em 1997 e atualizada em 2007 e novamente em 2014, pelo que o seu reconhecimento não é tão recente quanto isso.
O que é a Tríade da Atleta Feminina?
Pode ser definida como a relação entre uma alimentação insuficiente em termos energéticos (tendo em conta as necessidades da atleta), com ou sem distúrbio alimentar, as funções menstrual, hormonal e a saúde óssea, em atletas do sexo feminino.
Os três sintomas existem em conjunto, numa pequena percentagem das atletas, mas existem em elevada proporção quando se refere a apenas um ou dois conjugados.
Quais são as principais causas da Tríade da Atleta Feminina?
A principal causa associada à Tríade da Atleta Feminina é uma alimentação deficitária tendo em conta a energia necessária para manter o bom funcionamento geral e dar resposta às atividades desportivas.
Existem, ainda, outros fatores associados ao aparecimento da Tríade da Atleta Feminina:
- Percentagem de gordura corporal demasiado baixa;
- Perturbações do comportamento alimentar (anorexia e/ou bulimia);
- Emagrecimento repentino;
- Prática de dietas demasiado restritivas e desequilibradas que excluem nutrientes essenciais para a saúde da atleta;
- Eliminação de um ou mais grupos de alimentos – frequentemente, consumo demasiado baixo de hidratos de carbono (arroz, aveia, massa, pão);
- Prática exagerada de exercício físico, principalmente sem haver compensação energética adequada na parte alimentar.
As atletas que praticam desportos em que uma forma física mais magra beneficia a performance – , como por exemplo a ginástica e o ballet – estão particularmente sujeitas à ocorrência desta síndrome.
Quais as consequências da Tríade da Atleta Feminina?
Associados a esta condição médica, existem várias consequências e riscos a ter em conta.
- Baixa autoestima: são até, reportados casos de tentativa de suicídio por algumas das atletas.
- Depressão e transtornos de ansiedade.
- Alterações de humor: maior nível de irritabilidade, tristeza e tendência para o isolamento social.
- Problemas cardiovasculares.
- Diversos tipos de problemas hormonais.
- Problemas ao nível gastrointestinal.
- Problemas renais.
- Maior risco de mortalidade.
- Maior risco de lesão.
- Menor desempenho ao nível desportivo.
- Menor desempenho cognitivo.
- Diminuição da imunidade.
Qual o tratamento da Tríade da Atleta Feminina?
A Tríade da Atleta Feminina é resultado do desequilíbrio energético, isto significa que há mais gasto do que consumo – ingestão de menos comida do que aquela que seria necessária para proporcionar a energia despendida. Assim, ajustar o gasto de energia e a disponibilidade de energia é o primeiro objetivo da intervenção dos profissionais.
Em termos gerais, o equilíbrio energético deverá ser alcançado aumentando o aporte calórico, reduzindo a atividade física (por exemplo, redução do número de treinos efetuados), ou por uma conjugação de ambos.
É importante sublinhar que, enquanto a recuperação do equilíbrio energético pode ser alcançada em dias ou semanas, já a recuperação do equilíbrio hormonal e do estado menstrual normal pode demorar meses, e a recuperação dos níveis de densidade óssea pode demorar vários anos.
Uma abordagem multidisciplinar, em que se envolve o paciente, obstetra-ginecologista, nutricionista desportivo, treinadores, pais e prestador de cuidados de saúde mental, se indicado, é aconselhada.
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Qual deve ser atuação do profissional de Nutrição no tratamento da Tríade da Atleta Feminina?
- Adequar o consumo ao gasto: perceber quantas calorias a atleta gasta por dia e elaborar um plano alimentar que inclua uma alimentação suficiente para proporcionar as calorias que são gastas.
- Ter em conta que, se a atleta tem um dos sintomas, provavelmente poderá desenvolver os outros.
- Trabalhar em conjunto com os preparadores físicos das atletas, e perceber se fazem exercícios com pesos: são benéficos para acumulação de massa óssea e muscular.
- Explicar que, desde que haja uma reposição alimentar (ou seja, desde que a atleta passe a ingerir mais comida), deve ser mantida atividade física regular, para que a saúde óssea, cardiovascular e menstrual seja otimizada.
- Garantir que as atletas ingerem alimentos ricos em cálcio (exemplos: iogurte, leite, amêndoa, agrião, amêndoas, sementes de girassol) e vitamina D (exemplos: óleo de fígado de bacalhau, salmão, ovo).
É possível prevenir a Tríade da Atleta Feminina?
Uma vez que a principal causa é uma alimentação insuficiente em termos calóricos, a principal forma de prevenir consiste em manter a alimentação da atleta adaptada ao seu gasto. Esta planificação alimentar deve ser orientada por especialistas na área da Nutrição.
Por outro lado, para que haja uma prevenção mais eficaz, deve haver um controlo mais próximo por parte dos treinadores e dos encarregados de educação de atletas femininas jovens.
Os treinadores e outros técnicos desportivos devem estar informados sobre a síndrome e os seus riscos, e devem saber reconhecer os seus sintomas, tendo especial responsabilidade na sua prevenção e diagnóstico: os planos de treino deverão ser adequados em termos nutricionais, médicos e psicológicos; e, quando necessário, devem saber como encaminhar as atletas para aconselhamento nutricional, médico e de saúde mental.
Medidas preventivas que podem revelar-se importantes
- Moderar a intensidade dos treinos: apesar de poder ser uma medida muitas vezes considerada, até, penosa para a atleta, a solução pode passar pela moderação da intensidade dos treinos. Ao reduzir a intensidade dos treinos, há um menor gasto calórico, pelo que a ingestão alimentar não tem de ser tão elevada.
- Plano alimentar elaborado por um Nutricionista, para garantir uma ingestão de todos os nutrientes essenciais. Por vezes, a falta de alguma vitamina ou mineral pode fazer toda a diferença no aparecimento de algum dos sintomas da Tríade, em especial no caso da baixa densidade óssea.- Análises mais regulares da composição corporal, para garantir que existe uma evolução positiva.
- Perceber se existem alterações menstruais, e, se sim, quais as hormonas desreguladas, para se poder repor o equilíbrio.
Concluindo…
A Tríade da Atleta feminina é uma condição séria, que deve ser tida em conta pelos diversos profissionais de saúde. Condiciona a saúde geral da atleta, e pode envolver vários âmbitos da sua vida. Por isso, deve ser tratada em contexto multidisciplinar, isto é, em trabalho conjunto do nutricionista, do médico, do preparador físico e, eventualmente, do psicólogo.
Artigo originalmente publicado em Janeiro de 2019. Atualizado em Setembro de 2022.