Catarina Milheiro
Catarina Milheiro
16 Jul, 2024 - 11:29

Lidar com narcisistas: alerta para relações abusivas

Catarina Milheiro

São sempre grandes diante dos outros, não sentem culpa nem empatia, e são abusadores por natureza. Saiba quem são os narcisistas.

Já todos ouvimos dizer “aquela pessoa tem um comportamento meio narcisista” ou “não me identifico com pessoas narcisistas”. Mas será que sabemos de verdade o que significa isto?

Não admitir que se está errado, não suportar a crítica, utilizar da ironia ou da humilhação para “por a pata no outro” e estar sempre numa situação de superioridade, não conseguir lidar com a felicidade alheia, sentir uma inveja patológica, mentir de forma compulsiva e não ser capaz de se colocar no lugar do outro. Essas são algumas características da personalidade narcisista, a porta para uma relação que, por norma, é abusiva e faz vítimas.

Parece complexo, mas a verdade é que, muitas vezes, por detrás dessa máscara de extrema confiança está uma autoestima bastante frágil e vulnerável à mais pequena crítica.

Saiba mais sobre este tema e aprenda a identificar as red flags.

Transtorno de personalidade narcisista

O Transtorno de Personalidade Narcisista é uma condição mental formada pela combinação entre um padrão comportamental generalizado de superioridade, necessidade de atenção constante, bajulação e falta de empatia – commumente, os seus comportamentos e atitudes causam relações perturbadas.

Trata-se de um dos vários tipos de transtornos de personalidade e pode ser bastante complicado de lidar para as pessoas que rodeiam o narcisista.

Sabia que, na maior parte das situações, os narcisistas não bocejam ao verem alguém a fazê-lo? Repetir o bocejo é uma atitude de empatia, que desperta reações químicas no cérebro. Narcisistas, por não serem capazes de sentir empatia, não o fazem. Incrível, certo?

O Transtorno de Personalidade Narcisista caracteriza-se por um padrão generalizado de sensação de grandiosidade e superioridade, pela necessidade de ser admirado e ainda por uma enorme falta de empatia.

Conforme referimos, é algo persistente e geral no modo de pensar, reagir, perceber e até de se relacionar que causa um sofrimento negativo à pessoa em questão e acaba por prejudicar a sua capacidade funcional (assim como qualquer outro transtorno de personalidade).

Os indivíduos com este tipo de transtorno narcisista têm uma opinião exagerada sobre o seu próprio valor – muitas vezes vista como a grandiosidade que estão constantemente a referir ou ostentar.

Os problemas de autoestima são também muito frequentes em pessoas narcisistas, uma vez que para se sentirem superiores necessitam de:

  • se relacionarem com pessoas especiais e diferentes;
  • desvalorizar as outras pessoas;
  • fazer parte de instituições superiores.

Trata-se de um quadro mais frequente nos homens e as estimativas variam, sendo que se estima que o transtorno ocorra em cerca de 6% da população geral.

Principais causas do narcisismo

O Transtorno de Personalidade Narcisista não tem uma causa pré-definida. Contudo, há estudos que referem que o transtorno é o resultado de alguns fatores genéticos, ambientais ou experienciais.

O que significa que há quem tenha uma predisposição inata e genética que gera o problema, há quem seja narcisista devido ao ambiente narcisista em que vive (amigos, família ou escola) e há quem tenha essa predisposição por experiências ou traumas da própria pessoa.

No fundo, tudo depende muito da situação de cada um. Uma simples combinação de fatores pode realmente mudar o cérebro de alguém que tenha pré-disposição para desenvolver um transtorno de personalidade.

5 sintomas associados ao Transtorno de Personalidade Narcisista

1.

Necessidade de bajulação

Um dos sintomas mais comuns é a necessidade do indivíduo de ser bajulado constantemente. Isto é, de ser admirado e elogiado.

Estes tipos de pessoas narcisistas fazem de tudo para que consigam ser reconhecidas pela mais ínfima coisa: desde conquistas, bens materiais até à própria beleza, por exemplo. De facto, chegam mesmo a acreditar que ser bajulado é um direito.

2.

Falta de empatia

As pessoas narcisistas têm falta de empatia e são incapazes de reconhecer e compreender as necessidades do outro, mesmo que seja um familiar próximo. Mas na maior parte das vezes eles mentem que sentem – especialmente nas fases iniciais dos seus relacionamentos, em que conquistam as pessoas com o que se chama de bombing love (ou bomba de amor).

No entanto, no fundo, passada a fase da conquista, aparecem os sinais de que não importa quem são os outros nem aquilo que precisam e querem na vida. Para o narcisista só tem importância aquilo em que ele próprio acredita e quer para si.

3.

Dificuldade em manter relações

Quem tem Transtorno de Personalidade Narcisista pode ser muito popular. Contudo, nem sempre conseguirá construir muitos relacionamentos sólidos. Mas atenção, há narcisistas que permanecem num emprego ou casamento por toda a vida, se não forem interrompidos.

Narcisistas passam a vida a reclamar dos outros e de tudo o que os rodeia, e não têm o menor problema em aproveitarem-se de outras pessoas para obterem o que pretendem. Adoram obter benefícios.

4.

Só eles importam

A sensação e a crença de que só eles importam fazem parte do dia-a-dia das pessoas com este tipo de transtorno. São pensamentos, conversas e comportamentos com o objetivo de se elogiarem a si próprios, baseados na crença de que são merecedores de um tratamento especial. Esperam ser vistos, servidos, cuidados – mas não oferecem praticamente nada em troca.

5.

Minimizam os defeitos e escondem as suas fragilidades

Um dos sintomas mais comuns é o facto de os narcisistas minimizarem os seus próprios defeitos, falhas e atitudes. No fundo, eles nunca falham na vida, no trabalho e no quotidiano com outras pessoas – são perfeitos em todos os sentidos para eles mesmos. Se falharem, arranjam rapidamente uma explicação e sentem, até, orgulho.

É raro admitirem que estão arrependidos e demonstrarem remorsos por uma atitude ou comportamento, mesmo que até reconheçam o problema.

Por outro lado, são pessoas que escondem as suas fragilidades e sentimentos. Há um enorme vazio no interior do narcisista e se isso for colocado em evidência, podem tornar-se pessoas agressivas, passarem a culpa para os outros, agir com indiferença e magoar o outro intencionalmente.

Aliás, todas a atitudes do narcisista são intencionais, pensadas e planeadas. Ele controla tudo o que está a sua volta, estuda perfeitamente os seus alvos para alcançar objetivos e utiliza das suas estratégias para, por norma, criar um ciclo de abuso, onde ele sai sempre como superior.

Existe tratamento para este tipo de Transtorno?

Se se questiona se o Transtorno de Personalidade Narcisista tem cura, saiba que a resposta não é lá muito positiva. Esta não é uma doença e não há um medicamento na farmácia. É um conjunto de traços de personalidade, uma escolha do indivíduo.

Existe tratamento que pode ser colocado em prática, contudo, não há muita esperança. A terapia, para que pudesse ajudar o indivíduo, deveria ser do interesse do mesmo. Mas não é. Lembre-se: o narcisista sente orgulho da forma que encontrou para existir e tem um sentimento de grandiosidade que o protege do seu vazio interior.

Por achar que está certo, que os outros estão errados e que não há nada de errado com a sua personalidade e ações, não há uma forma eficiente de combater esta condição de caráter muito caracterizada pelo orgulho do que se é.

Os tratamentos possíveis passam pela psicoterapia e, por vezes, pela administração de medicação adequada a outros quadros mentais associados, orientada pelo médico psiquiatra.

Psicoterapia

Neste caso, a psicoterapia é o tipo de tratamento mais importante a fazer uma vez que vai estimular o desenvolvimento das funções interpessoais. Ou seja, vai forçar o indivíduo a assimilar as emoções e aquilo em que pensa.

Nestas sessões o objetivo é fazer com que a pessoa compreenda que as suas ações têm responsabilidades e com isto aprender a interagir socialmente com outras pessoas de forma mais saudável – sem, no entanto, que existam importantes mudanças comportamentais.

Medicação

Não há medicamentos específicos para o Transtorno. No entanto, em alguns casos pode ser necessária a toma de alguns medicamentos que ajudem a diminuir outros sintomas causados pela doença.

Falamos de depressão, anorexia nervosa, presença de outro distúrbio de personalidade associado, doença mental distinta ou até um transtorno derivado do uso de outras substâncias como o álcool ou drogas, por exemplo.

O que se pretende com o tratamento medicamentoso é precisamente tratar outros problemas que possam estar a piorar o Transtorno. Importa ainda referir que este trabalho deve ser sempre feito juntamente com a psicoterapia.

Se desconfia que está a lidar com uma personalidade narcisista e que está numa relação abusiva, procure ajuda e estude o tema. Converse com pessoas próximas e procure terapia. Consciência, informação e ajuda especializada são as únicas armas para sair de um ciclo tóxico de abuso.

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