Enfermeira Paula Gonçalves
Enfermeira Paula Gonçalves
15 Abr, 2020 - 10:55

Testes de imunidade para a COVID-19: o que são e como podem ajudar

Enfermeira Paula Gonçalves

Qual será o momento certo para abandonar as medidas de isolamento e regressar à normalidade? A resposta poderá estar nos testes de imunidade.

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Para quando os testes de imunidade em Portugal? Bem, antes de mais, importa saber que o país parece ter atingido o tão desejado “planalto” da curva de evolução de novos casos de infeção por COVID-19 mas, nas palavras de Marta Temido, Ministra da Saúde, “todos os resultados são muito preliminares e devem ser interpretados com cautela”, o que nos diz que ainda não é altura de baixar os braços (1).

No boletim de previsões semanais para o número de mortes devido ao COVID-19, os cientistas do Imperial College London continuam a colocar Portugal como país com nível elevado de transmissibilidade do vírus e afirmam que muitos infetados podem estar a escapar às estatísticas por apresentarem sintomas muito ligeiros ou serem completamente assintomáticos (2).

Sem o recurso à testagem massiva da população e sem saber com exatidão quantos portugueses foram infetados, coloca-se a questão: até quando será necessário manter as medidas até agora impostas para controlo da pandemia? Qual a forma mais segura de o fazer?

Graça Freitas, Diretora-Geral da Saúde, abre a porta a uma possível solução. À semelhança de países como a Alemanha e o Reino Unido, Portugal prepara-se para iniciar testes à imunidade dos portugueses para o novo coronavírus.

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O que são testes de imunidade À COVID-19?

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Os testes de imunidade (ou testes de anticorpos) permitem perceber quem já esteve em contacto com o vírus e produziu anticorpos que o protegem de uma nova infeção. Uma vez adquirida essa imunidade, uma nova exposição ao vírus não acarretaria risco de reinfeção.

Anticorpos são proteínas produzidas pelas nossas células de defesa e cada anticorpo atua de forma específica, ligando-se apenas a um determinado agressor. Sendo este um “novo” agressor, estes testes de anticorpos estão ainda a ser desenvolvidos e carecem de posterior validação e certificação para uso em larga escala.

“Um teste não confiável é pior do que nenhum teste”, pode ler-se na página governamental do Reino Unido, que espera conseguir produzir milhões de testes em breve (3).

Em causa está a sua fiabilidade e precisão, uma vez que as implicações de resultados erróneos poderia ser desastrosa. Embora já aplicados a uma dimensão regional, ainda nenhum país lançou um programa completo de testes de anticorpos COVID-19.

Em Portugal, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) prepara-se para entrar numa fase piloto para “ver como é que esses testes podem ser feitos e quando”. Graça Freitas adiantou estar a ser definido “o tipo de amostra, o tipo de testes, como vão ser os testes e como vai ser aferido o nível de anticorpos”. Esta “fase preparatória” deverá contemplar 1.700 testes (1).

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Como é feito o teste de imunidade?

Testes de imunidade: homem a fazer análises ao sangue

Os testes de imunidade são testes serológicos. São realizados com a colheita de uma amostra de sangue para pesquisa da presença dos anticorpos COVID-19.

Dependendo do modelo de teste a aplicar, ele poderá fornecer resultados rápidos, ser feito em casa e apenas com uma picada no dedo ou assemelhar-se a uma colheita de sangue convencional.

O resultado poderá confirmar se o indivíduo teve contacto com o vírus e produziu anticorpos que lhe conferem imunidade, protegendo-o de uma nova infeção.

Como poderão estes testes ajudar a combater a pandemia?

Aplicados a faixas específicas da sociedade ou em larga escala, testes de imunidade ajudariam a tomar decisões cruciais como:

  • Quais os profissionais de saúde que poderiam continuar no combate à doença com menor risco de serem infetados
  • Quais os cidadãos passíveis de voltar à vida ativa em segurança (especialmente importante para setores essenciais à economia):
  • Quando iniciar o alívio das medidas de confinamento social

Mas são ainda muitas as dúvidas que se colocam relativamente à implementação destes testes. Uma das mais inquietantes é saber qual o momento ideal para a sua implementação.

Apenas um mês após o surgimento dos primeiros casos em Portugal, a implementação precoce destes testes poderia encontrar uma população que ainda não foi exposta durante o período de tempo suficiente para desenvolver imunidade, um processo que não acontece de forma instantânea.

Por outro lado, estamos perante um vírus ainda pouco conhecido o que torna difícil perceber qual a durabilidade e consistência dessa imunidade, o que exigirá testes de imunidade em intervalos regulares, de forma a perceber como essa imunidade evolui na população.

Variáveis que dificultam a implementação dos testes de imunidade

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Outra das questões que dificultam a compreensão do impacto da implementação dos testes de imunidade em larga escala é saber qual a percentagem necessária para se poder considerar atingida a imunidade de grupo ou se é possível ser atingida, o que pode ser dificultado se se vier a provar que a duração da imunidade é muito curta.

Alguns países apostam nestes testes para a atribuição de “certificados de imunidade” aos cidadãos que se comprovem imunizados. Mas essa pode ser uma medida arriscada pela incapacidade de perceber durante quanto tempo cada pessoa poderá efetivamente manter-se imune.

Por outro lado, e à semelhança de outros vírus, sabemos que variações de estirpe podem levar a nova infeção. Temos como exemplo o vírus da gripe, cuja vacina existe, mas não impede reinfeção pelas mutações sazonais do vírus.

Investigadores de Harvard perspetivam que, sem outras respostas capazes de controlar o vírus para além do distanciamento social, várias vagas do surto por COVID-19 surgirão até 2022 (4). Com previsões catastróficas para a economia global, a expectativa aumenta quanto a poder contar com os testes de imunidade no apoio à decisão de retorno à atividade social e empresarial, amenizando esses impactos até ao surgimento de uma vacina. Em tempo de incertezas, esperemos boas notícias.

Fontes

  1. Ministério da Saúde. Portugal está numa fase de planalto da pandemia. Disponível em: https://covid19.min-saude.pt/portugal-esta-numa-fase-de-planalto-da-pandemia/
  2. Imperial College London. Epidemiologists launch new weekly forecast of coronavirus deaths. Disponível em: https://www.imperial.ac.uk/news/196797/epidemiologists-launch-weekly-forecast-coronavirus-deaths/
  3. UK Department of Health & Social Care. Coronavirus (COVID-19): scaling up our testing programmes. Disponível em: https://www.gov.uk/government/publications/coronavirus-covid-19-scaling-up-testing-programmes/coronavirus-covid-19-scaling-up-our-testing-programmes
  4. Harvard University. Disponível em: http://nrs.harvard.edu/urn-3:HUL.InstRepos:42638988
    https://covid19.min-saude.pt/portugal-vai-testar-imunidade-a-covid-19/
https://sangeetabhatia03.github.io/covid19-short-term-forecasts/index.html
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