Share the post "Testes de imunidade para a COVID-19: o que são e como podem ajudar"
Para quando os testes de imunidade em Portugal? Bem, antes de mais, importa saber que o país parece ter atingido o tão desejado “planalto” da curva de evolução de novos casos de infeção por COVID-19 mas, nas palavras de Marta Temido, Ministra da Saúde, “todos os resultados são muito preliminares e devem ser interpretados com cautela”, o que nos diz que ainda não é altura de baixar os braços (1).
No boletim de previsões semanais para o número de mortes devido ao COVID-19, os cientistas do Imperial College London continuam a colocar Portugal como país com nível elevado de transmissibilidade do vírus e afirmam que muitos infetados podem estar a escapar às estatísticas por apresentarem sintomas muito ligeiros ou serem completamente assintomáticos (2).
Sem o recurso à testagem massiva da população e sem saber com exatidão quantos portugueses foram infetados, coloca-se a questão: até quando será necessário manter as medidas até agora impostas para controlo da pandemia? Qual a forma mais segura de o fazer?
Graça Freitas, Diretora-Geral da Saúde, abre a porta a uma possível solução. À semelhança de países como a Alemanha e o Reino Unido, Portugal prepara-se para iniciar testes à imunidade dos portugueses para o novo coronavírus.
O que são testes de imunidade À COVID-19?
Os testes de imunidade (ou testes de anticorpos) permitem perceber quem já esteve em contacto com o vírus e produziu anticorpos que o protegem de uma nova infeção. Uma vez adquirida essa imunidade, uma nova exposição ao vírus não acarretaria risco de reinfeção.
Anticorpos são proteínas produzidas pelas nossas células de defesa e cada anticorpo atua de forma específica, ligando-se apenas a um determinado agressor. Sendo este um “novo” agressor, estes testes de anticorpos estão ainda a ser desenvolvidos e carecem de posterior validação e certificação para uso em larga escala.
“Um teste não confiável é pior do que nenhum teste”, pode ler-se na página governamental do Reino Unido, que espera conseguir produzir milhões de testes em breve (3).
Em causa está a sua fiabilidade e precisão, uma vez que as implicações de resultados erróneos poderia ser desastrosa. Embora já aplicados a uma dimensão regional, ainda nenhum país lançou um programa completo de testes de anticorpos COVID-19.
Em Portugal, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) prepara-se para entrar numa fase piloto para “ver como é que esses testes podem ser feitos e quando”. Graça Freitas adiantou estar a ser definido “o tipo de amostra, o tipo de testes, como vão ser os testes e como vai ser aferido o nível de anticorpos”. Esta “fase preparatória” deverá contemplar 1.700 testes (1).
Como é feito o teste de imunidade?
Os testes de imunidade são testes serológicos. São realizados com a colheita de uma amostra de sangue para pesquisa da presença dos anticorpos COVID-19.
Dependendo do modelo de teste a aplicar, ele poderá fornecer resultados rápidos, ser feito em casa e apenas com uma picada no dedo ou assemelhar-se a uma colheita de sangue convencional.
O resultado poderá confirmar se o indivíduo teve contacto com o vírus e produziu anticorpos que lhe conferem imunidade, protegendo-o de uma nova infeção.
Como poderão estes testes ajudar a combater a pandemia?
Aplicados a faixas específicas da sociedade ou em larga escala, testes de imunidade ajudariam a tomar decisões cruciais como:
- Quais os profissionais de saúde que poderiam continuar no combate à doença com menor risco de serem infetados
- Quais os cidadãos passíveis de voltar à vida ativa em segurança (especialmente importante para setores essenciais à economia):
- Quando iniciar o alívio das medidas de confinamento social
Mas são ainda muitas as dúvidas que se colocam relativamente à implementação destes testes. Uma das mais inquietantes é saber qual o momento ideal para a sua implementação.
Apenas um mês após o surgimento dos primeiros casos em Portugal, a implementação precoce destes testes poderia encontrar uma população que ainda não foi exposta durante o período de tempo suficiente para desenvolver imunidade, um processo que não acontece de forma instantânea.
Por outro lado, estamos perante um vírus ainda pouco conhecido o que torna difícil perceber qual a durabilidade e consistência dessa imunidade, o que exigirá testes de imunidade em intervalos regulares, de forma a perceber como essa imunidade evolui na população.
Variáveis que dificultam a implementação dos testes de imunidade
Outra das questões que dificultam a compreensão do impacto da implementação dos testes de imunidade em larga escala é saber qual a percentagem necessária para se poder considerar atingida a imunidade de grupo ou se é possível ser atingida, o que pode ser dificultado se se vier a provar que a duração da imunidade é muito curta.
Alguns países apostam nestes testes para a atribuição de “certificados de imunidade” aos cidadãos que se comprovem imunizados. Mas essa pode ser uma medida arriscada pela incapacidade de perceber durante quanto tempo cada pessoa poderá efetivamente manter-se imune.
Por outro lado, e à semelhança de outros vírus, sabemos que variações de estirpe podem levar a nova infeção. Temos como exemplo o vírus da gripe, cuja vacina existe, mas não impede reinfeção pelas mutações sazonais do vírus.
Investigadores de Harvard perspetivam que, sem outras respostas capazes de controlar o vírus para além do distanciamento social, várias vagas do surto por COVID-19 surgirão até 2022 (4). Com previsões catastróficas para a economia global, a expectativa aumenta quanto a poder contar com os testes de imunidade no apoio à decisão de retorno à atividade social e empresarial, amenizando esses impactos até ao surgimento de uma vacina. Em tempo de incertezas, esperemos boas notícias.
- Ministério da Saúde. Portugal está numa fase de planalto da pandemia. Disponível em: https://covid19.min-saude.pt/portugal-esta-numa-fase-de-planalto-da-pandemia/
- Imperial College London. Epidemiologists launch new weekly forecast of coronavirus deaths. Disponível em: https://www.imperial.ac.uk/news/196797/epidemiologists-launch-weekly-forecast-coronavirus-deaths/
- UK Department of Health & Social Care. Coronavirus (COVID-19): scaling up our testing programmes. Disponível em: https://www.gov.uk/government/publications/coronavirus-covid-19-scaling-up-testing-programmes/coronavirus-covid-19-scaling-up-our-testing-programmes
- Harvard University. Disponível em: http://nrs.harvard.edu/urn-3:HUL.InstRepos:42638988
https://covid19.min-saude.pt/portugal-vai-testar-imunidade-a-covid-19/