Se contar a partir da data da inseminação, estou grávida há quatro semanas mas, na verdade, pelas contas da medicina, são sete já que o que vale é sempre a data da última menstruação. A melhor coisa que fiz antes de sequer começar as tentativas, foi ler o Grande livro da grávida, da Marcela Forjaz. Aquelas páginas mostraram-me com o que contar. Sei que 60% das gravidezes não passam dos primeiros dias e sei que, se depois do positivo, sentir cólicas como as menstruais não é razão para alarme, pelo contrário!, é o meu corpo a adaptar-se.
Sei isto e foi o que me descansou nestas primeiras semanas. Isso e o otimismo. Claro, continuo a correr para o quarto de banho porque o comprimido que coloco todos os dias inunda-me as cuecas, por isso, passo a vida a confirmar se não anda por lá uma hemorragia. Não anda. À partida, está tudo bem aqui dentro, ele continua a crescer alegremente e vai tudo correr bem. E eu estou otimista, descansada e super zen – nem me reconheço! Claro que se pudesse fazer uma ecografia a cada hora… tanto melhor!
Hoje foi dia de ir ver o mirtilo que anda a nadar na minha barriga e, estranhamente, uma aflição começou a crescer. Não sei o que é isto, de onde vem, nem porque raio estou assim aflita. Na sala de espera estamos apenas nós e outro casal. Mas o espaço começa cada vez a ficar mais pequeno e o ar irrespirável. Mudo de posição várias vezes, inspiro e expiro, ponho a cabeça entre as pernas mas sinto as palpitações cada vez mais intensas, um enjoo a querer crescer e… aitenhoquesairdestasala!
Vim para o corredor e sentei-me no largo parapeito da janela onde posso encostar as costas ao vidro gelado da janela. Normalmente, é a única forma de evitar o vómito, o desmaio ou a escalada para um ataque de pânico. Fecho os olhos, inspiro e expiro lentamente e falo para dentro de mim. Confesso que me sinto um bocado ridícula, penso que estou a exagerar, não há razões para estar assim, tástaarmarmiúda!, mas continuo aflita. Há casais que vão chegando e reviram os olhos à cena. C@gu&i!
Quase uma hora depois de lá estar, o coração já desacelerou mas o medo ainda não se foi. Volto à sala e pouco depois somos chamados. Tento disfarçar mas não estou tão animada como de costume, o Dr. Cris nota e é ele quem defende a minha apatia. Caramba, não tive dores, não tive perdas de sangue, não tive nada. Não há razão para estar assim. Sinto-me ridícula na mesma e assim que vejo as imagens no ecrã procuro o meu pequenito, cheia de medo que o safadinho se tenha pirado. “Está tudo bem. Aqui está ele, afinal, é mesmo só um. Sete semanas e um dia.”
Veja também:
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- #11: público ou privado?
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- #35: O meu plano de parto