Passas a vida a ouvir que basta uma vez para engravidar, o pânico instala-se, usas três métodos anticoncepcionais para garantir que não tens surpresas mas, depois, na vida real, as coisas não são bem assim. A janela fértil é muito curta, são meia dúzia de dias, e numa grande percentagem dos casos é preciso, além de desejo, que várias estrelas, cometas, planetas e santos se alinhem para que a coisa se dê.
A idade para ter o primeiro filho avançou mas o nosso corpo não seguiu a evolução. O pico fértil continua entre os 25 e os 30 anos e a qualidade dos espermatozoides está muito diferente. Ninguém nos diz isto, por isso, tomei para mim esta missão: homens e mulheres, antes de adiarem a decisão de ter filhos, confirmem que o podem fazer. Marquem uma consulta com um ginecologista e um andrologista especialista em fertilidade, confirmem que têm tempo para esperar e decidam em função disso. Soubesse o que sei hoje e não teria esperado dois anos para engravidar.
Tomada a decisão, fui à ginecologista, li o Grande Livro da Grávida e sabia tudo sobre cuidados com a alimentação, período fértil e vitaminas mas seis meses passaram e nada aconteceu. Naquela altura, percebi logo que algo não estava bem. Era a certeza de uma vida a gritar-me cá dentro: és infértil, por isso, esquece as grandes mesas de Natal, as paredes cobertas de fotografias, os miúdos aos gritos escada acima e escada abaixo, mais os netos que daí hão-de vir. Esquece.
Aguardei mais seis meses até que conversei com a minha médica (porque é que fiz? porque não queria parecer histérica e ansiosa. estúpido, né?). As indicações: era preciso que ele fizesse um espermograma. Antes de encher o corpo da mulher com quaisquer drogas que ajudem à conceção é este o primeiro passo, disse-me a médica.
Ora, para fazer um espermograma é preciso guardar abstinência sexual durante três dias mas nunca ultrapassar os sete. Pois bem, entre uma coisa e outra, este prazo nem sempre foi cumprido, tanto para baixo como para cima (sim, já sei que o resto do mundo faz sexo todos os dias…).
Alguns meses depois, chegou o veredicto: teratozoospermia.
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