Os resultados de semanas de confinamento estão à vista: número de infetados em queda e índices de transmissibilidade cada vez mais animadores. Mas o perigo ainda espreita e o risco de infeção é real.
São já muitos os contextos em que o teste à presença de COVID-19 está a ser implementado, garantindo um retorno seguro à vida ativa. Importa então saber, o que esperar perante um diagnóstico positivo para COVID-19.
O país parece respirar de alívio perante os números emanados pelos boletins diários da DGS, mas a realidade sugere cautela: o fim desta pandemia não está à vista e o risco de contágio não desapareceu.
O final do período de restrições decretado pelo estado de emergência devolve parte da sociedade portuguesa à vida quotidiana, aos locais de trabalho, às escolas, à utilização de transportes públicos e, inevitavelmente, a uma maior exposição ao risco de contrair infeção por COVID 19.
Conseguir evitá-lo vai depender da capacidade individual e coletiva de cumprir regras de convivência segura e de adaptar os atos comuns da vida diária a estes tempo de pandemia. Apenas assim poderemos evitar a tão temida segunda vaga da doença.
Quando devo suspeitar de infeção por COVID-19?
Os sintomas aparecem 2 a 14 dias após a exposição ao vírus. Neste momento, o vírus circula em transmissão comunitária o que significa que pode não ser possível identificar a origem da cadeia de transmissão.
Febre e tosse seca são os sintomas mais observados em doentes com infeção por COVID-19, mas a existência de dificuldade respiratória, não sendo tão comum, é também um dos sintomas e deverá ser sempre um sinal de alerta de possível evolução da gravidade da doença.
Para além destes, sabemos hoje que pacientes infetados com COVID-19 podem apresentar outro tipo de sintomas, diferentes daqueles que se verificaram na vaga inicial da doença.
O próprio Centers for Disease Control and Prevention (CDC) acrescentou recentemente 6 novos sintomas da doença aos previamente conhecidos:
- Arrepios.
- Tremores persistentes com calafrios.
- Dor muscular.
- Dor de cabeça.
- Dor de garganta.
- Perda de paladar ou olfato.
Outros sintomas menos comuns foram também descritos: sintomas gastrointestinais como náusea, vómito ou diarreia (2) e dermatológicos como rash eritematoso, eczema e vesículas (3).
Há, no entanto, uma percentagem desconhecida de doentes totalmente assintomáticos. Nestes casos, apenas a realização do teste poderá identificar a infeção.
A não existência de sintomas não significa, ainda assim, que estes portadores assintomáticos não possam transmitir a doença. Aliás, mesmo nos doentes que desenvolvem sintomas, a transmissão da doença pode acontecer cerca de 1 a 2 dias antes do seu aparecimento, mantendo-se o período infecioso de 7 a 12 dias em casos moderados e até duas semanas, em média, em casos graves da doença.
Tenho COVID-19. E agora?
Um diagnóstico de infeção por COVID 19 não precisa ser assustador. Em Portugal, cerca de 80-85% dos casos cursam com sintomas ligeiros e são tratados em regime domiciliário.
Na inexistência de um tratamento específico, a terapêutica terá o objetivo de atenuar os sintomas e manter o doente confortável. Há, ainda assim, a necessidade de vigiar a evolução dos sintomas e de travar a possível transmissão da infeção a terceiros.
Por essa razão, após o diagnóstico positivo, será pedido ao doente que cumpra isolamento social. O isolamento é determinado pela Autoridade de Saúde se, após avaliação da situação clínica, o médico assistente considerar que não existe necessidade de internamento (4).
A duração desse isolamento é igualmente comunicado pela Autoridade de Saúde ou médico e deve ser cumprido, mesmo na ausência de qualquer sintoma. É essencial permanecer em casa durante o período total de isolamento.
Serão avaliadas as condições da habitação do doente para o cumprimento do isolamento em segurança. Idealmente, as pessoas com quem coabita devem ficar noutro alojamento, principalmente se forem idosas ou pertencentes a grupos de risco ou maior vulnerabilidade.
Se a pessoa em isolamento for a cuidadora de um familiar ou coabitante idoso ou vulnerável, deve tentar-se que essa responsabilidade seja provisoriamente assumida por outra pessoa, de forma a evitar o possível contágio.
Se, pelo contrário, for a pessoa em isolamento a necessitar de cuidadores, o seu número deve ser limitado, preferencialmente a uma única pessoa, saudável, que não seja portadora de doença crónica ou imunodeprimida.
Que cuidados ter em casa, durante o isolamento?
Na impossibilidade de isolamento em habitação individual, os cuidados durante o isolamento deverão focar-se não só no infetado por COVID-19, mas também na proteção daqueles com quem coabita.
A pessoa em isolamento deve permanecer numa divisão da casa, separado das restantes, essa divisão deverá ser bem ventilada e confortável, com janela para o exterior e a porta deve ser mantida fechada.
O quarto de dormir é, habitualmente, a melhor solução, sobretudo se possuir casa de banho privativa.
Tendo em conta os cuidados com a gestão dos espaços comuns, higiene pessoal e das superfícies, tratamento de resíduos, roupas, etc., as indicações da DGS para pessoas que estão em isolamento em casa são:
- Ficar em casa, e só sair se estritamente necessário, falando sempre primeiro com a Autoridade de Saúde ou o médico assistente, e seguindo as suas recomendações
- Ter um quarto e, se possível, uma casa de banho só para si
- Sair do quarto, só em situação de extrema necessidade e colocando uma máscara descartável. Se não for possível usar máscara, as pessoas com quem partilha casa, devem fazê-lo
- Manter distância das outras pessoas presentes – limitar o tempo em que está com pessoas na mesma divisão, manter uma distância de pelo menos 2 metros ou 3 passos de adulto quando estiverem outras pessoas presentes
- Tomar o banho em último lugar, caso a casa de banho seja partilhada, e limpá-la minuciosamente de seguida
- Lavar as mãos com regularidade, com água e sabão ou solução à base de álcool, durante pelo menos 20 segundos
- Cumprir as regras de etiqueta respiratória (tossir e espirrar para o cotovelo ou para um lenço de papel, que deve ser deitado ao lixo de seguida), lavando as mãos depois
- Lavar e desinfetar as superfícies com regularidade
- Arejar as divisões da casa regularmente (abrir portas e janelas para fazer circular o ar)
- Pedir a amigos, familiares ou serviços de entrega, itens necessários tais como alimentos ou medicamentos. Nesta situação deve solicitar ajuda ou realizar pedidos por telefone; certificar-se de que quem faz a entrega a deixa à porta, e não entra em casa. Não deverá haver contacto com a pessoa que faz a entrega
- Proteger os animais de estimação mantendo distância deles. Se não for possível deve lavar as mãos antes e depois de cada contacto
As pessoas que estão em isolamento em casa NÃO DEVEM
- Fazer deslocações para o trabalho, escola, espaços públicos ou outros locais
- Receber visitas em casa ou ter contactos desnecessários, sobretudo com pessoas mais velhas ou com doenças crónicas
- Utilizar espaços comuns com outras pessoas presentes, incluindo nos períodos de refeições. Partilhar artigos de higiene como sabonete, toalha ou utensílios de cozinha, como pratos, copos, chávenas
- Partilhar a utilização de telemóveis, auscultadores ou teclados. Se tal não for possível, desinfete os equipamentos antes e depois de cada utilização
- Beber por pacotes ou garrafas, nem partilhar alimentos ou embalagens cujo interior é manipulado com as mãos (batatas fritas, frutos secos e outros snacks)
- Depositar os seus resíduos num ecoponto
Outros cuidados a ter em casa
- A roupa, roupa de cama e toalhas devem ser lavadas na máquina, na maior temperatura possível (acima de 60º), utilizado detergente de máquina.
- Se possível utilizar máquina de secar a roupa e ferro na maior temperatura permitidas pelas roupas em questão.
- Lavar as mãos após tratamento de roupas sujas. Evitar sacudir a roupa de cama enrolando-a no sentido de dentro para fora, fazendo um “embrulho”.
- Para limpar as superfícies sujas, ter em atenção que:
- Deve utilizar luvas e roupa protetora (exemplo: avental de plástico)
- Deve ter especial atenção com as zonas de contacto frequente como maçanetas das portas, interruptores de luz ou outros objetos
- Os produtos utilizados devem estar dentro do prazo de validade
Na limpeza das superfícies deve adotar os seguintes passos:
- Lavar as mãos
- Colocar as luvas
- Limpar primeiro com produtos de limpeza domésticos adequados às superfícies, como por exemplo soluções lava tudo, detergente ou água e sabão
- Desinfetar de seguida com produtos de desinfeção domésticos, como por exemplo lixivia. As instruções de diluição devem ser seguidas de acordo com os rótulos. Além da lixívia, podem ser usados desinfetantes à base de álcool com pelo menos 70% de álcool.
- Deixar atuar durante 10 minutos
- Enxaguar apenas com água quente e deixar secar ao ar
- Retirar as luvas
- Lavar as mãos
- Durante a desinfeção, deve-se assegurar a ventilação do espaço (abrir janelas e/ou portas para circular o ar)
- Na casa de banho deve utilizar um produto de limpeza misto que contenha em simultâneo detergente e desinfetante na composição, por ser de aplicação mais fácil e ação mais rápida.
Os resíduos produzidos, quer pela pessoa em isolamento, quer pelos coabitantes também devem ter cuidados especiais:
- Devem ser colocados num caixote do lixo de abertura não manual com saco plástico
- O saco de plástico deve ser cheio apenas até 2/3 da sua capacidade e deve ser bem fechado com 2 nós bem apertados e, preferencialmente, com um atilho ou adesivo
- O saco deve ser colocado dentro de um segundo saco plástico, também bem fechado.
- Para fechar os sacos plásticos devem utilizar luvas, de preferência de uso único. Depois estas devem ser removidas, sem tocar na parte de fora da luva, e descartadas no novo saco do lixo, lavando as mãos de seguida
- Os resíduos nunca devem ser calcados, nem deve ser apertado o saco para sair o ar
- Estes resíduos devem ser descartados em contentores coletivos de resíduos após 24 horas da sua produção, NUNCA no ecoponto
- Devem limpar e desinfetar os caixotes do lixo com regularidade (4)
O que fazer se desenvolver sintomas? Quais são os sinais de alerta?
Muitas pessoas em isolamento por COVID-19 desenvolvem apenas sintomas leves e evoluem para uma recuperação completa sem necessidade de intervenção médica relevante.
Segundo dados da DGS, apenas 15% dos casos apresentam um quadro grave, com pneumonia, dificuldade respiratória e 5% podem eventualmente precisar de cuidados intensivos com necessidade de ventilação (1).
No entanto, a vigilância apertada dos sintomas é fundamental para despistar precocemente sinais de agravamento. Saber quando e como pedir ajuda pode evitar desfechos indesejados.
Deve cumprir as prescrições médicas escrupulosamente e nunca recorrer à auto-medicação.
A temperatura corporal deve ser avaliada e registada duas vezes por dia, mesmo na ausência de sintomas.
Em caso de alteração ou agravamento de sintomas deverá ser pedida ajuda rapidamente. De forma a evitar deslocações ao médico assistente ou urgência hospitalar desnecessárias, deve ser realizado contacto prévio com os serviços de saúde ou através da linha Saúde 24 (808 24 24 24). Se foi fornecido o contacto de um profissional de saúde de referência, deve usar-se preferencialmente essa via, averiguando a existência de alternativas à deslocação, como a prescrição de medicação à distância ou possibilidade de teleconsulta (4).
Deverão ser evitadas a todo o custo, deslocações a unidades de saúde sem contacto prévio. No entanto, se em algum momento surgir:
- Dificuldade em respirar
- Dor ou pressão persistente no peito
- Confusão ou incapacidade em despertar
- Lábios ou rosto arroxeados ou azulados (2)
Poderá estar a ocorrer uma situação de emergência com necessidade de ativação de meios de emergência médica pré-hospitalar. É mandatório ligar 112 imediatamente e informar o operador da chamada da situação de isolamento.
Quando estarei curado?
Perante os critérios vigentes à data deste artigo, serão considerados como curados aqueles que testem negativo em, pelo menos, dois testes com intervalo de 24h.
Esses testes serão realizados após um mínimo de 14 dias após o diagnóstico inicial e serão repetidos a quantidade de vezes necessária até à confirmação da recuperação, o que, em alguns doentes, só acontece após várias semanas.
Até essa confirmação, todas as medidas de isolamento deverão ser mantidas, mesmo que o doente se encontre assintomático.
Está ainda por esclarecer se existirá imunidade para o vírus nos indivíduos recuperados, qual o seu grau e duração.
Mantenha-se física e mentalmente ativo
É importante que o tempo de isolamento seja uma oportunidade para fazer algumas das coisas que nunca consegue colocar em dia:
- Descanse, ajudará o seu corpo a recuperar
- Leia ou veja aquele filme ou série que tem andado a adiar
- Mantenha-se ligado aos amigos e família através das plataformas digitais
- Visite museus – faça visitas virtuais a museus de todo o mundo sem sair de casa
- Se estiver fisicamente capaz, faça exercícios leves e alongamentos
- Ministério da Saúde. COVID-19: perguntas frequentes. Disponível em: https://covid19.min-saude.pt/perguntas-frequentes/
- CDC. Symptoms of Coronavirus. Disponível em: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/symptoms-testing/symptoms.html
- Dr. Sebastiano Recalcati, Cutaneous manifestations in COVID‐19: a first perspective, Journal of The European Academy of Dermatology and Venereology,March 2020
- Ministério da Saúde. Novo Coronavírus: distancimento social. Disponível em: https://covid19.min-saude.pt/wp-content/uploads/2020/04/Distanciamento-social-07-04-2020.pdf