Os sumos detox têm vindo a ganhar cada vez mais relevância numa estratégia de perda de peso e desintoxicação do organismo. No entanto, a sua segurança e eficácia carecem de evidência científica.
As dietas líquidas – geralmente à base de sumos detox – envolvem consumir apenas líquidos, habitualmente sumos obtidos de vegetais, frutas ou uma mistura dos dois, numa tentativa de perda de peso rápido e desintoxicação do corpo.
A maior parte das toxinas são provenientes de excessos alimentares, ingestão de bebidas alcoólicas e stress, entre outras.
Como estas dietas são bastante restritivas em termos de grupos alimentares e calorias, o ceticismo no seio da comunidade científica relativamente à segurança para a saúde é cada vez maior, especialmente em relação aos alegados benefícios.
Neste artigo discutimos os possíveis riscos e eventuais benefícios dos sumos detox.
Possíveis benefícios dos sumos detox
Os defensores deste método de perda de peso referem como potenciais benefícios:
- As frutas e vegetais serem ricos em vitaminas e minerais e, portanto, a ingestão destes sumos pode contribuir com nutrientes extra no organismo para melhorar a saúde geral;
- Os sumos detox serem ricos em compostos anti-inflamatórios que podem estimular o sistema imune e ajudar as pessoas a sentir-se com mais energia;
- A ideia de que os sumos detox têm a capacidade de potenciar a libertação das toxinas do organismo (embora raramente sejam explicados os mecanismos do ponto de vista científico);
- Os sumos poderem ajudar a melhorar a função gastrointestinal devido ao elevado conteúdo enzimático;
- Perda de peso acentuada nas primeiras semanas, associada a valores energéticos muito baixos e depleção dos níveis de glicogénio;
- Auxílio na perda de líquidos se a retenção existir devido á depleção das reservas de glicogénio;
No entanto, a maioria desses potenciais benefícios não é apoiada por evidência científica.
Potenciais riscos dos sumos detox
Os riscos associados aos sumos detox estão já confirmados, apoiados na evidência científica. Veja quais são.
- Ingerir grandes quantidades de sumos detox pode comprometer a saúde renal: o elevado conteúdo de oxalatos pode conduzir à formação de cálculos (pedras) renais e culminar em falência renal aguda.
- Certos alimentos dos sumos detox podem interferir com a biodisponibilidade de medicamentos que poderão interferir com as suas concentrações.
- O valor energético das dietas líquidas é bastante baixo, podendo algumas atingir as 400 kcal por dia. A perda de peso pode ser rápida (até 21 kg em 14 semanas) mas a suspensão da intervenção gera rápidas recuperações ponderais, que não são travadas com restrição energética nem prática de atividade física.
- Se estes sumos não forem pasteurizados, há risco de contaminação alimentar que é especialmente perigosa em jovens adultos, pessoas mais velhas ou para aqueles com um sistema imune mais debilitado.
- Algumas dietas líquidas incluem laxantes como forma de potenciar a perda de peso. Esta prática pode conduzir a um tipo de malnutrição associada à mal absorção de macro e micronutrientes, água e eletrólitos comprometendo o estado nutricional.
- O baixo consumo energético a longo prazo pode ter impacto no metabolismo basal e taxa de massa isenta de gordura, facilitando o processo de ganho de peso.
- Carência de proteínas e vitaminas, o desequilíbrio dos eletrólitos (iões), acumulação de ácido láctico no corpo e, mesmo, a morte, em caso de restrição calórica prolongada no tempo.
- Como os comportamentos alimentares compensatórios tendem a ser maiores após a ingestão de alimentos líquidos devido ao seu potencial saciante, a tendência é comer mais e pior após a toma de sumos detox.
- O processamento de frutas e vegetais diminui o seu conteúdo original em fibras, cuja função benéfica foi comprovada no risco de desenvolver obesidade e diabetes, doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro.
- O baixo conteúdo em fibras obtido no produto final – se extraído apenas o sumo – pode afetar a capacidade saciante do alimento, principalmente porque a viscosidade das fibras atrasa o esvaziamento gástrico e promove uma melhor digestão e absorção dos nutrientes.
Independentemente da popularidade deste tipo de dietas, não foram encontradas diferenças na perda de peso ao ano, comparativamente às abordagens tradicionais (restrição contínua).
Além disso, apesar da perda de peso inicial ser bem maior (14 a 21 kg em 11 a 14 semanas), um aumento de peso após a cessação da intervenção que não parece ser atenuado com estratégias de alteração de estilos de vida.
Por último, é importante referir que o nosso organismo já dispõe de mecanismos internos de desintoxicação (fígado, rins e sistema linfático) que, quando bem tratados, são perfeitamente capazes de eliminar os compostos tóxicos através das fezes, urina e suor.
Conclusão
Os sumos detox são um tema controverso na comunidade científica já que se apresentam como opções de perda de peso rápida a curto prazo que podem ter um impacto muito negativo na saúde geral a longo prazo.
A evidência que aponta para os seus benefícios é escassa e não constitui uma base sólida para se introduzir este tipo de programas na alimentação.
Caso queira experimentar esta prática como forma de perder algum peso de forma rápida, aconselhe-se com o seu médico de forma a assegurar-se que não apresenta nenhum fator de risco que predisponha para o dano renal.
Aconselhe-se ainda com o seu nutricionista e cumpra as recomendações de tempo durante o qual é seguro seguir uma dieta detox sem correr nenhum dos riscos acima mencionados.