Share the post "Síndrome vertiginoso: o que é, causas, sintomas e tratamento"
O síndrome vertiginoso é causa frequente de procura de ajuda médica. A vertigem não é uma doença, mas sim um sintoma. A sua origem, muitas vezes sem aparente explicação, e a dificuldade de tratamentos resolutivos, acompanha pessoas dos 18 aos 100 anos, com sintomas diversos, que podem perdurar por vários anos.
No doente idoso está muitas vezes associado a doenças cardiovasculares ou neurológicas, disfunção multissensorial ou a iatrogenia, isto é, causado pelo tratamento de outras doenças (1).
Já no doente jovem é um sintoma que está muitas vezes associado a perturbações vestibulares (como labirintite ou doença posicional paroxística benigna), perturbações psiquiátricas e uso de certos grupos de fármacos como sedativos, antidepressivos ou tranquilizantes (2).
Síndrome vertiginoso: a vertigem
A vertigem é a causa de tontura que mais leva pessoas aos serviços de urgência, uma vez que é responsável por 54 % dos casos de tontura assistidos nos cuidados de saúde primários.
Destes casos, 90% são provocados por três patologias: Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB), neuronite vestibular ou Doença de Méniere. Os restantes casos serão iatrogénicos, causados pelo tratamento de outra patologia, ou provocados por causas centrais como a doença cerebrovascular, enxaqueca ou neoplasias intracraneanas.
A vertigem é provocada por um envolvimento assimétrico da actividade basal das vias vestibulares centrais ou periféricas, ocorre em episódios e diminui de intensidade à medida que o factor precipitante da vertigem se dissipa ou que a compensação central ocorre (1).
Sintomas do síndrome vertiginoso
A vertigem tem duas origens, que caracterizam diferentes doenças e formas de tratamento. Podem ser de origem periférica ou de origem central (3).
O Síndrome vertiginoso de origem periférica é caracterizado por:
- Vertigem muito intensa e de início brusco com alucinação de movimento, em regra rotatório
- Sintomas neurovegetativos (náusea, vómito, hipersudorese, taquicardia…) presentes e intensos
- Associação frequente com sintomas cocleares (hipoacusia e zumbido)
- Ausência de outros sintomas neurológicos
- Tendência à queda para o lado da lesão (nas lesões destrutivas ou inibitórias)
- Nistagmo horizontal com fase rápida batendo para o lado oposto (nas lesões irritativas do órgão receptor o nistagmo bate para o lado da lesão)
O síndrome vertiginoso de origem central caracteriza-se por:
- Perturbação do equilíbrio mal definida, a maior parte das vezes apenas uma sensação de insegurança ou instabilidade
- Presença de outros sintomas neurológicos
- Ausência de sintomas neurovegetativos marcados
- Queda para os dois lados
- Nistagmo pode ser vertical
Como saber a origem do síndrome vertiginoso?
Para saber a origem do síndrome vertiginoso, a história clínica e o exame objetivo so paciente são primordiais para o diagnóstico, razão pela qual deve procurar sempre orientação médica.
São inúmeras as possíveis causas etiológicas das perturbações do equilíbrio e do síndrome vertiginoso, sejam dependentes de doenças sistémicas gerais como algumas perturbações cardio-circulatórias, diabetes e outras, sejam secundárias a doenças neurológicas, por exemplo siringomielia, esclerose múltipla, etc., seja por alteração a nível do ouvido.
- Podem ser feitos uma série de exames, que vão corroborar com o diagnóstico:Hemograma,V.S.; Glicemia e prova de tolerância à glicose; Colesterol e triglicerídeos, T3, T4; e TSH Serologia da sífilis
- Exames radiológicos: Rx da coluna cervical; Rx simples do ouvido; T.A.C. do ouvido; Ressonância magnética nuclear do ouvido (2)
Causas do Síndrome Vertiginoso
O síndrome vertiginoso pode advir de causas periféricas, centrais ou mesmo psicológicas. Listamos algumas delas.
As causas periféricas
- VPPB: vertigem transitória causada por estimulação dos órgãos sensoriais vestibulares por canalolitíase. É geralmente provocada por movimento súbitos da cabeça e um sintoma característico é a provocação de uma vertigem incapacitante quando o doente se mexe ou na cama ou se tenta levantar de manhã.
- Doença de Méniere: é supostamente provocada por um aumento da endolinfa nos canais semicirculares. É caracterizada por uma tríade diagnóstica constituída pela presença de vertigem, acufenos e perda de audição progressiva.
- Neuronite vestibular aguda: provocada pela inflamação do nervo vestibular, geralmente associada a uma infecção viral do aparelho respiratório superior que a precede. Vão existir alterações do impulso nervoso do lado afectado que provocam a vertigem. Esta é inicialmente incapacitante mas, como a doença é autolimitada, com o tempo irá resolver espontaneamente.
- Colesteatoma.
- Síndrome de Ramsay-Hunt: (associado muitas vezes a imunossupressão que irá provocar a reactivação do vírus varicela-zoster).
- Fístula perilinfática: que surge após um traumatismo físico ou bárico
- Neurinoma do acústico: tumor raro mas cujo diagnóstico precoce se revela decisivo para o prognóstico. Deve sempre suspeitar-se da presença de um neurinoma do acústico quando a sintomatologia é unilateral – hipoacusia ou acufenos, especialmente quando os acufenos dominam o quadro clínico, e na presença de patologia vestibular.
- Vertigem Posicionai Paroxística Benigna: caracteriza-se por crises típicas de vertigem rotatória intensa, com duração de segundos e desencadeadas por determinado tipo de movimentos da cabeça, com duração de segundos e acompanhadas de intensa sintomatologia do foro neurovegetativo (3).
As causas centrais
- Tumores do ângulo cerebelopontino
- Acidentes cerebrovasculares: as causas mais preocupantes
A enxaqueca também aparece associada à vertigem, podendo esta surgir em cerca de 25 por cento dos doentes com queixas sugestivas de enxaqueca. De notar também que a vertigem pode, por si só, ser factor causal da enxaqueca.
Outras causas
- A vertigem de causa cervical
- A iatrogenia: para despistar o uso de fármacos ototóxicos ou cujo efeito lateral seja a vertigem
- A vertigem de causa psicológica
Avaliação audiovestibulométrica do síndrome vertiginoso
Em relação ao estudo vestibular propriamente dito, irá incidir basicamente sobre o estudo das funções vestibulo-espinal e vestibulo-ocular.
Provas para o estudo do equilíbrio postural estático
1. A prova de Romberg: que consiste em instruir o doente para permanecer na posição estática de pé, com os pés encostados e os braços estendidos durante pelo menos um minuto, avaliando-se então o desvio longitudinal e oscilação lateral da cabeça e dos ombros.
2. A prova dos braços estendidos.
Para a avaliação do equilíbrio postural dinâmico executa-se:
- Prova de Unterberger-Fukuda: pede-se ao doente para dar cerca de 80 passos procurando não sair do sítio. Na imagem obtida podemos avaliar o deslocamento longitudinal, o desvio lateral, o desvio angular, e o ângulo de rotação do corpo. De capital importância são o desvio ou oscilação lateral da cabeça e ombros – muito aumentados em lesões centrais – e o desvio angular – aumentado nas lesões periféricas
- Marcha cega de Babinsky. Esta avaliação pode ser feita pela craniocorpografia, método objectivo e que permite o registo e quantificação das alterações observadas e sua comparação com futuros exames
Para o estudo da função vestíbulo-ocular
A avaliação desta função baseia-se no estudo do nistagmo. Nistagmo é um movimento conjugado dos globos oculares composto por uma fase lenta, patológica, e uma fase rápida, de sentido inverso, compensatória. É o único sintoma quantificável do síndrome vertiginoso.
A objetivação e quantificação desta avaliação é feita através da Electronistagmografia (E.N.G.). Pode fazer-se a observação directa do nistagmo espontâneo, quando exista, ou provocando -o através de estímulos vestibulares, como a calorização ou rotação que, provocando correntes nos líquidos labirínticos, vão estimular ou inibir os impulsos vestibulares criando assim uma resposta que se traduz no desencadear de nistagmos.
A observação de algumas características do nistagmo permite-nos a divisão em nistagmo de origem periférica e central. (3)
Tratamento do síndrome vertiginoso
Os objectivos do tratamento devem ser centrados na tentativa de suprimir a angústia, controlar as náuseas e os vómitos e resolver o conflito sensorial que desencadeia o síndrome vertiginoso. O sintoma pior tolerado é, habitualmente, as náuseas e os vómitos, pelo que é fundamental o emprego de antieméticos como por exemplo (3).
O ideal é, sempre que possível, tratar a causa da lesão. Para isto deve sempre procurar orientação médica, e nunca iniciar o uso de medicamentos sem prescrição. Por norma, a medicação é a seguinte:
- Antibióticos, nas labirintites infecciosas e otites crónicas complicadas
- Diuréticos, na hidropsia endolinfática (como na doença de Menière)
- Vasodilatadores, nas vertigens periféricas de causa desconhecida em que se presume a responsabilidade de uma perturbação da circulação labiríntica
- A cinesiterapia, treino de habituação vestibular, pode ser considerado como tratamento etiopatogénico na vertigem posicionai paroxística benigna (utricu-lolitiase)
Convém ainda referir, nalguns casos de vertigem incapacitante, a necessidade de recurso à cirurgia.
1. Macedo, A. “Abordagem do síndrome vertiginoso”. Acta Med Port 2010 ;23: 095-100.Disponível em: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/download/591/275.
2. Associação Portuguesa de Otoneurologia. Disponível em https://www.otoneuro.pt/index.php/artigos/artigos-para-discussao/35-abordagem-basica-do-doente-vertiginoso
3. Procópio, D. (2011). “Vertigem central e vertigem periférica”. Revista Med Minas Gerais 2011; 21(2 Supl. 4). Disponível em: http://rmmg.org/exportar-pdf/907/v21n2s4a27.pdf.