A Síndrome de Asperger é uma perturbação do desenvolvimento dentro do espetro do autismo que se manifesta, sobretudo, por alterações na interação social, na comunicação e no comportamento com interesses e padrões restritos (1, 2).
Síndrome de Asperger: o que é?
Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, as Perturbações do Espetro do Autismo (PEA) “são uma síndroma neurocomportamental com origem em perturbações do sistema nervoso central que afeta o normal desenvolvimento da criança. Os sintomas ocorrem nos primeiros três anos de vida e incluem três grandes domínios de perturbação: social, comportamental e comunicacional” (3).
O Síndrome de Asperger é uma condição que afeta o modo como uma pessoa interage, comunica e se relaciona com os outros, sendo mais comum nos rapazes do que em raparigas. Estas alterações têm impacto no desenvolvimento da atividade e adaptação aos vários contextos, na comunicação, entre outros (1, 4).
Os indivíduos com Síndrome de Asperger geralmente têm elevadas habilidades cognitivas e a linguagem é funcional, o que não se verifica em outras condições, como o autismo. Contudo, embora tenham uma linguagem e vocabulário mais elaborados, estão incapacitadas de o usar em contexto social.
Normalmente, eles abordam os outros, mas de uma forma inapropriada e excêntrica (1, 2). Isto é, para que possa melhor compreender, eles até podem expressar interesse em fazer amizades, mas são as suas abordagens, desajeitadas, a forma de comunicação monocórdica e implícita (por exemplo, sinais de tédio, pressa para deixar o ambiente e necessidade de privacidade) e a insensibilidade em relação aos sentimentos e intenções das pessoas que os condicionam.
A dificuldade em interpretar e aprender as capacidades da interação social, afetivas e emocionais com os outros, faz com que estes indivíduos fiquem rápida e cronicamente frustrados, uma vez que sentem que não conseguem estabelecer relacionamentos interpessoais.
Alguns desenvolvem sintomas de ansiedade ou de humor que podem requerer tratamento, incluindo medicação como poderá verificar mais à frente (1).
Síndrome de Asperger: causas
Ainda não são totalmente conhecidas, mas pensa-se que incluam um conjunto de fatores neurobiológicos que afetam o desenvolvimento cerebral (4).
Em alguns casos há uma componente genética, onde um dos pais (normalmente o pai) mostra ou o quadro completo de Síndrome de Asperger ou pelo menos alguns traços associados ao mesmo (1).
Síndrome de Asperger: características
Uma das características dos indivíduos com Síndrome de Asperger é o facto de apresentarem um interesse específico numa determinada área. Os interesses mais frequentes relacionam-se com áreas intelectuais específicas.
“Quando as crianças entram para a escola, ou mesmo antes, elas irão mostrar interesse obsessivo numa determinada área como a matemática, aspetos da ciência, leitura ou algum aspeto da história ou geografia, querendo aprender tudo quanto for possível sobre o objeto e tendendo a insistir nisso em conversas e jogos livres” (2).
Verifique as características mais comuns quer sejam crianças, jovens ou adultos (5, 6):
- Dificuldade na interação social: falta de reciprocidade social e emocional
- Dificuldade na comunicação verbal e não verbal: por norma usam vários comportamentos não verbais como a postura pouco usual, gestos corporais, contacto visual escasso e ausência de expressão facial
- Interpretação literal da linguagem: peculiaridades do discurso e da linguagem
- Comportamentos rotineiros ou repetitivos como girar coisas
- Interesses limitados
Síndrome de Asperger: sinais
Existem alguns sinais, aos quais sugerimos que esteja atento (4,5):
- Hipersensibilidade aos estímulos sensoriais: ruídos, cheiros, sabores, texturas, luzes, etc
- Atraso significativo na linguagem
- Pobre linguagem ou comunicação, verbal ou não verbal
- Dificuldade no pensamento abstrato e interpretação dos conceitos, ou seja, há uma interpretação literal dos enunciados
- Dificuldade no estabelecimento de relações de amizade
- Dificuldades nas regras sociais: muito rígidos
- Atitudes consideradas bizarras e excêntricas
- Dificuldade em entender e expressar emoções
- O “brincar” e imaginação são pobres ou inexistentes
- Número limitado de interesses com obsessão por determinados temas
- Comportamentos repetitivos ou rotineiros
- Dificuldade na adaptação a alterações repentinas das rotinas
- Resistência à mudança
- Atraso no desenvolvimento motor ou falta de coordenação motora
- Baixo nível de tolerância à frustração
Síndrome de Asperger: como diagnosticar?
Se identificar alguns dos sinais de alerta é aconselhável que se dirija a um profissional especializado.
A avaliação passa por áreas de especialidade como a Neuropediatria ou Pedopsiquiatria e Psicologia, onde será feita uma avaliação global tendo em conta as características e especificadores sintomáticos, ou seja, o comprometimento que os mesmos têm em cada indivíduo (4).
Síndrome de Asperger: tratamento
Não existe cura para esta problemática. Contudo, quanto mais precocemente for a intervenção melhor será a evolução do quadro clínico.
Uma intervenção precoce pode permitir a melhoria de dificuldades e potenciar o melhor de cada indivíduo. Como?
- O treino de competências sociais é essencial. Este permite: aprendizagem social ajustada ao ensinar, por exemplo, formas mais eficazes de comunicação, a interpretar expressões não verbais, emoções, entre outras
- Promoção da autonomia
- Colaboração dos professores
- Psicoterapia (abordagem comportamental)
- Instrução e treino parental
- Intervenção farmacológica (apenas se houver sobreposição de diagnóstico de hiperatividade ou défice de atenção) (4, 2)
Síndrome de Asperger: intervenção dos professores e meio envolvente
Compreenda que a criança tem uma perturbação neurodesenvolvimental que a leva a comportar-se e a responder de forma diferente de outros estudantes.
Devido às particularidades, já descritas, de indivíduos com Síndrome de Asperger é importante que os professores e profissionais envolventes estejam alerta para as necessidades destas crianças que precisam de mais apoio.
O próprio Asperger compreendeu a importância da atitude do professor: “estas crianças frequentemente mostram uma surpreendente sensibilidade à personalidade do professor (…) E podem ser ensinados, mas somente por aqueles que lhes dão verdadeira afeição e compreensão. Pessoas que mostrem delicadeza e, sim, humor. (…) A atitude emocional básica do professor influencia, involuntária e inconscientemente, o humor e o comportamento da criança” (2).
Não só os professores mas todos os que na escola lidam com crianças com Síndrome de Asperger devem tentar seguir algumas linhas orientadoras de forma a promover o melhor equilíbrio destas crianças (2):
- Rotinas: crianças com Síndrome de Asperger têm dificuldade em lidar com mudanças por isso é importante que estas sejam consistentes, estruturadas e previsíveis
- Regras: pela sua tendência rígida, as regras devem ser expressas de forma clara e se possível, escritas mantendo alguma flexibilidade na sua aplicação
- Área de interesse: como têm interesses específicos por determinadas áreas, as tarefas vão ser melhor aceites e aprendidas se o foco for em uma das suas áreas de interesse; estas podem funcionar como compensação de uma tarefa realizada com sucesso
- Evite luta de forças: elas não entendem, nem lidam bem com atitudes rígidas ou impostas, podendo perder o controle sobre si mesmas
- Aprendizagem baseada no concreto
Em suma…
Intervir o mais cedo possível e delinear um plano de intervenção ajustado à criança/jovem ou adulto é imprescindível para uma melhora da sintomatologia.
O trabalho multidisciplinar é bastante importante, ao promovermos as potencialidades destes indivíduos é possível que estes em adultos tenham uma integração profissional bem sucedida.
1. Klin A. (2006). “Autism and Asperger syndrome: an overview”. Rev Bras Psiquiatr. 28, 3-11. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbp/v28s1/a02v28s1.pdf
2. Teixeira P. (2005). “Síndrome de Asperger”. Disponível em: https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0254.pdf
3. American Psychiatric Association (2013). Acedido a 16 de outubro. Disponível em: http://www.fpda.pt/autismo
4. Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (2017). Disponível em: https://www.apsa.org.pt
5. American Psychiatric Association (2014). “DSM-5: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais” (5.ª ed.). Porto Alegre: Artmed.
6. Psychnet -UK Mental Health. “Asperger´s Syndrome”. Disponível em: http://www.psychnet-uk.com/x_new_site/DSM_IV/aspergers_syndrome.html