A sarna canina é uma doença de pele causada por ácaros que se caracteriza pela formação de crostas e pápulas na pele com consequente vermelhidão e perda de pelo.
Há diferentes tipos de sarna consoante a espécie de ácaro presente, e cada uma varia nos sinais clínicos, severidade e evolução.
A maioria é contagiosa e pode afetar os humanos, pelo que é necessária uma atenção redobrada e uma atuação rápida para evitar a infestação.
Neste artigo apenas serão abordadas as sarnas que afetam cães.
O que são os ácaros?
Os ácaros são pequenos parasitas externos com menos de 1 mm de comprimento e cujo ciclo de vida normalmente é todo passado no hospedeiro (neste caso, no cão).
Quando presentes no cão, localizam-se sob e sobre a pele, e podem classificar-se em não escavadores e escavadores. Estes últimos mantêm-se à superfície, nutrindo-se apenas de restos de descamação da pele enquanto que os outros escavam túneis na derme ou residem nos folículos dos pelos e glândulas sebáceas.
Sarna canina: ácaros escavadores
1. Sarna sarcóptica
Esta sarna canina, altamente contagiosa e presente por todo o mundo, é causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei .
Usualmente, este ácaro é muito específico da espécie que está a infestar (neste caso o cão), no entanto pode afetar as pessoas que entrem em contacto com o animal.
Descrição
O ciclo de vida deste ácaro (17-21 dias) é passado no cão, e as fêmeas escavam túneis na pele deste para depositar os ovos.
Ela é maioritariamente transmitida entre cães com contacto direto, mas a transmissão através de coisas (camas, coleiras etc.) também pode ocorrer.
Sinais clínicos
Estes podem manifestar-se em qualquer momento desde 10 dias a 8 semanas após o contacto com o animal afetado.
- Locais de preferência do ácaro: orelhas, focinho, barriga, cotovelos
- Comichão intensa (devido à sensibilidade da pele às secreções dos ácaros)
- Vermelhidão e papos
- Descamação de pele e crostas
- Perda de pelo (alopécia)
- Engrossamento da pele
- Pode disseminar-se pelo corpo todo em casos avançados
Devido à intensa comichão, o cão pode coçar-se de tal forma que causa danos na própria pele, abrindo caminho para infeções secundárias por bactérias e fungos, agravando a situação.
Diagnóstico
É baseado na história e sinais clínicos apresentados. A confirmação da presença do parasita pode ser conseguida através de uma raspagem da pela na zona das lesões, podendo ser necessário realizar várias.
Tratamento
Este deve abranger todos os animais e materiais que entraram em contacto com o cão afetado.
O médico veterinário irá aconselhar um champô adequado para a lavagem e remoção das crostas. Dependendo da severidade do caso, pode ser resolvido apenas com medicação tópica ou então recorrendo a medicação oral ou injetável. A tosquia do pelo é recomendada.
É essencial respeitar a duração do tratamento, que pode durar várias semanas.
2. Sarna demodécica
É natural que o ácaro Demodex esteja presente, em pequeno número, nos folículos do pelo e glândulas sebáceas dos cães. No entanto, há casos em que esse número é muito superior ao normal.
Ainda não estão bem esclarecidos os motivos de tal aumento, mas acredita-se que se possa dever a uma predisposição hereditária ou então a uma supressão das defesas do animal.
Esta sarna canina não é considerada contagiosa.
Existem duas formas que se diferenciam pela idade do cão e pela extensão das lesões.
Sarna demodécica localizada
Presente maioritariamente em cães com 3 a 8 meses de idade.
As áreas dos lábios, em torno dos olhos e patas da frente são as mais afetadas, ficando avermelhadas e com inchaços localizados. A comichão pode estar presente, mas é ligeira.
Alguns casos evoluem para a forma generalizada, mas a maioria resolve-se sem tratamento.
Sarna demodécica generalizada
Esta forma é severa e causa inflamação generalizada na pele e almofadas plantares, com perda de pelo, vermelhidão, descamação e infeção bacteriana secundária dos folículos pilosos. Nestes casos, já pode estar presente comichão.
- Generalizada juvenil: aparece antes do primeiro ano de vida, tende a ser recorrente e considera-se que é hereditária, pelo que é recomendado que estes cães não se reproduzam.
- Generalizada adulta: cães com mais de 5 anos de idade que estão com as defesas em baixo devido a doenças que afetam o sistema imunitário (cancro, hiperadrenocorticismo etc.) e que por isso estão mais propensos a ficarem infestados.
A sua cura é difícil e recidivam com frequência.
O tratamento passa por eliminar os ácaros e a infeção bacteriana secundária. Pode durar meses, e é muito importante ir controlando com raspagens para verificar se o ácaro está ou não presente.
Sarna canina: ácaros não escavadores
1. Sarna otodética
Esta sarna canina, que afeta maioritariamente os ouvidos, é causada pelo ácaro Otodetes cynotis. É responsável por cerca de 10% das otites em cães e é muito contagiosa.
Sinais clínicos
Cães afetados por esta sarna sentem uma intensa comichão no ouvido que pode fazer com que se auto mutilem de tanto se coçarem, abanam a cabeça e têm a orelha “caída”. É comum haver uma acumulação de cera castanha escura. Pode propagar-se à cabeça, pescoço, membros e área em torno do ânus.
Diagnóstico
É baseado na história e sinais clínicos apresentados. A inspeção do canal auditivo com um otoscópio revela a otite e a avaliação microscópica da cera recolhida pode demonstrar a presença do ácaro.
Tratamento
Tanto o animal afetado como os que contactam com ele devem ser tratados. O médico veterinário, consoante a gravidade da situação, irá recomendar medicação local e possivelmente também oral/injetável.
A correta lavagem dos ouvidos com produtos adequados, como medida de rotina, também está indicada.
2. Sarna por Cheyletiella
Esta sarna canina, também conhecida por “caspa ambulante”, é provocada pelo ácaro Cheyletiella yasguri. Tal alcunha deve-se ao facto destes ácaros, que são maiores, se encontrarem sobre a superfície da pele e serem visíveis à vista desarmada, parecendo que se movem.
É altamente contagiosa e como é mais superficial torna-se facilmente transmissível para os humanos.
Afeta principalmente animais jovens.
Sinais clínicos
A descamação da pele e a presença dos ácaros no dorso são sinais comuns. Nem todos têm comichão, e alguns são até assintomáticos.
Diagnóstico
A presença do parasita pode ser obtida através da remoção destes com um pente fino ou com a remoção de uma amostra de pelo com fita cola e posterior observação ao microscópio.
Tratamento
É necessário tratar todos os expostos (humanos e animais), assim como o ambiente.
O médico veterinário poderá optar entre medicação tópica ou então oral/injetável, com o objetivo de eliminar os ácaros. Na maioria das vezes, o tratamento prolonga-se por mais de que um mês.