A salmonella é uma bactéria que causa uma infeção chamada salmonelose, um tipo de gastroenterite.
A gastrenterite por salmonella representa um problema de saúde pública mundial, sendo a sua incidência real muito superior ao número de casos declarados.
Nos Estados Unidos, estima-se uma incidência de 1.4 milhões de casos por ano, sendo declarados apenas 10%. Em Portugal, entre 2004 e 2008 foram notificados anualmente 456 episódios, 82% dos quais em crianças com menos de 15 anos de idade.
A salmonelose é reconhecida como uma das principais infeções transmitidas pelo consumo de alimentos. Apesar da maioria das espécies de salmonella ser patogénica para humanos, as características e severidade das doenças que originam são variáveis.
Embora seja reconhecida uma relação entre a salmonelose e as condições de higiene e sanitárias, a disponibilidade de água potável e a preparação dos alimentos, nas últimas décadas tem-se verificado um aumento do número de casos nos países industrializados, facto que pode ser justificado pela globalização e pela alteração dos hábitos alimentares.
O que é a salmonella?
A salmonella é uma bactéria que pertence à família Enterobacteriaceae. Conhecem-se mais de 2300 tipos de salmonella e esta diferenciação tem sido extremamente importante no controlo dos surtos.
A salmonella foi descoberta por um médico americano chamado Dr. Salmon, e é conhecida há mais de 100 anos. A doença causada pela salmonella é a salmonelose.
A salmonelose é considerada uma infecção zoonótica, uma vez que é uma doença de animais que pode ser transmitida a humanos. Os animais para consumo são infetados através do contacto com outros animais infetados, como aves e roedores, ou através do consumo de rações ou de água contaminados.
Quais são os sintomas?
Na maioria dos casos, a salmonelose manifesta-se por diarreia, dores abdominais e febre que se desenvolvem 12 a 72 horas após a infeção.
A doença dura entre 4 a 7 dias e a maioria dos afetados recupera sem necessitar de qualquer tratamento.
Em alguns casos, a infecção pode tornar-se grave, levando a que o doente necessite de ser hospitalizado. Isto acontece quando a salmonella migra dos intestinos para a corrente sanguínea e, consequentemente, para outros órgãos. Este quadro requer um tratamento urgente com antibióticos.
Quem tem maior risco de sofrer uma infecção pela salmonella?
Os idosos, crianças e indivíduos com o sistema imunitário debilitado são os que têm maior probabilidade de desenvolver uma infecção severa pela salmonella.
As infeções de salmonella são mais comuns no Verão que no Inverno.
Como se adquire a salmonella?
A salmonella é transmitida através da ingestão de alimentos contaminados com fezes animais. Os alimentos contaminados apresentam aparência e cheiro normais, daí esta contaminação ser difícil de detetar. Os alimentos contaminados são usualmente de origem animal, embora possa também ocorrer contaminação noutros, até de origem vegetal.
Uma correta preparação dos alimentos permite a destruição da salmonella, contudo, a contaminação pode ocorrer até a partir das mãos de quem manipula ou confecciona os alimentos.
Uma vez que a salmonella pode estar presente nas fezes de alguns animais domésticos, essa é uma possível fonte de contaminação, sobretudo se não lavar as mãos depois de contactar com os animais.
Os répteis, como as tartarugas ou as iguanas, por exemplo, são potenciais hospedeiros da salmonella e os seus cuidadores devem lavar as mãos imediatamente após manusear estes animais, mesmo que o réptil seja saudável.
Os equipamentos, superfícies ou outros materiais presentes nos ambientes de processamento de alimentos, industriais ou domésticos, quando limpos e desinfectados de forma inadequada, podem ser contaminados com salmonella e funcionar como fonte da bactéria.
Também é possível a transmissão da bactéria por via fecal-oral, principalmente em hospitais, lares de idosos e infantários, quando as regras de higiene pessoal não são cumpridas.
Alimentos mais frequentemente associados a infecções por salmonella
A carne, o leite e os ovos são os principais veículos de transmissão de salmonella. Estes alimentos, quando insuficientemente cozinhados ou quando contaminados após confecção, permitem a sobrevivência da bactéria.
Os frutos, as ervas aromáticas e as especiarias são também possíveis fontes de salmonella, dada a possibilidade de terem estado em contacto com matéria fecal animal durante o seu cultivo, apesar de não ser tão comum.
Os alimentos portadores da bactéria, ao entrarem em contacto (direto ou indireto) com outros alimentos, podem contaminá-los, tornando-os num novo veículo de infecção, caso não sejam sujeitos a qualquer tratamento térmico antes de serem consumidos.
Como se faz o diagnóstico de salmonella?
Muitas doenças podem causar as mesmas manifestações que a salmonelose, sendo o diagnóstico, na maior parte das vezes, associado à história alimentar recente.
Porém, a comprovação de que as manifestações clinicas são causadas pela salmonella só pode ser feita pela identificação da bactéria nas fezes do infetado e esta é apenas útil nos casos mais graves, em que a administração de antibiótico é necessária.
Uma vez identificada, pode ser realizada a cultura das fezes para a determinação do tipo específico de salmonella e qual antibiótico deve ser utilizado para o tratamento.
Como se trata a salmonella?
Como se referiu, a gastroenterite por salmonella raramente requer maior tratamento que uma hidratação adequada e uma dieta com baixo teor de fibra (para não potenciar ainda mais o funcionamento dos intestinos). Seguindo estas recomendações, geralmente melhora ao fim de 5 a 7 dias.
Se, por outro lado, a diarreia for muito intensa, poderá ser necessário recorrer a uma hidratação por via intravenosa em ambiente hospitalar.
O uso de antibióticos apenas se justifica nos casos de diarreia grave e febres elevadas, nos doentes hospitalizados ou naqueles com maior risco de complicações (crianças, idosos e imunocomprometidos).
Existem consequências a longo prazo de uma infecção por salmonella?
Indivíduos com diarreia devido a uma infecção por salmonella normalmente recuperam completamente, apesar de poder demorar vários meses até aos seus hábitos intestinais voltarem ao normal.
Um número pequeno de pessoas com salmonelose desenvolve dor nas articulações, fenómeno chamado de artrite reativa. A artrite reativa pode durar meses ou anos e pode levar à artrite crónica, uma patologia bastante difícil de tratar. Indivíduos com artrite reativa podem também desenvolver irritação nos olhos e dores ao urinar.
Como prevenir da salmonella?
Não existe vacina contra a salmonella, sendo que a melhor forma de a prevenir a sua infecção é através de cuidados alimentares e na forma como manuseia os alimentos.
A prevenção da contaminação implica o controlo em todas as etapas da cadeia alimentar.
Assim, aqui tem algumas dicas de como manter a salmonella longe:
- Cozinhe bem os alimentos, evitando principalmente a carne ou os ovos “mal passados”;
- Não ingira alimentos ou bebidas que contenham ovos crus ou leite não-pasteurizado (maionese caseira, molho holandês, gelado caseiro…);
- Lave as mãos, as superfícies da cozinha e os utensílios com água corrente e sabão imediatamente depois de estes estarem em contacto com carne crua ou ovos crus;
- Tenha extremo cuidado com os alimentos preparados para crianças, idosos e imunocomprometidos;
- Lave bem as mãos com água e sabão depois de estarem em contacto com répteis, pássaros ou fezes;
- Evite contacto direto entre répteis (tartarugas, iguanas, lagartos,…) e os indivíduos mais sensíveis à infecção por salmonella;
- Não trabalhe com carne crua e com crianças (trocar a fralda, dar de comer,…) ao mesmo tempo;
- Todos os alimentos devem ser mantidos em boas condições de refrigeração antes de serem utilizados;
- Todos os alimentos devem ser bem lavados antes da sua preparação e consumo;
- Evite o contacto direto ou através de utensílios ou superfícies entre carne ou ovos crus e alimentos cozinhados ou alimentos consumidos em cru (frutas, vegetais, …);
- Se já tiver salmonelose, não prepare alimentos e não sirva água a outros enquanto os seus sintomas não desaparecerem.