Share the post "“Objetivo da Ritalina é melhorar qualidade de vida das crianças”"
É, muitas vezes, chamada de “a droga da matemática” ou “a droga da inteligência”. Já ouviu falar na Ritalina? Quisemos saber mais sobre a conhecida “droga legal”, constantemente polemizada em contexto social e cuja utilização envolve, ainda, muitos mitos. Por isso, conversamos com quem entende do assunto e procuramos saber mais sobre o tema.
Será a Ritalina segura para os mais novos? Quais efeitos secundários podemos esperar? Em que situações é recomendada e como é feito o diagnóstico que precede a sua utilização?
Quem responde é a Dra. Ana Luísa Mendes, pediatra, em entrevista ao Vida Ativa.
Mas, antes, vamos entender um pouco mais sobre o panorama que envolve o uso de medicamentos como a Ritalina e similares.
Hiperatividade e Défice de Atenção sem rótulos
Preguiça, falta de motivação e tagarelice – estes são alguns dos adjetivos que se atribuem a crianças que, muitas vezes, são diagnosticadas com Hiperatividade e Défice de Atenção.
Tal como a perturbação do espetro do autismo, a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma das mais estudadas e frequentes na atualidade.
Contudo, e apesar dos avanços no conhecimento, este distúrbio no neurodesenvolvimento é, tantas vezes, amplamente discriminado – tal como o seu tratamento farmacêutico mais comum, geralmente feito através de uma combinação entre a administração de metilfenidato e outras terapias.
Ora, este tipo de abordagens não tem em consideração, na maioria das vezes, o facto de que algumas opiniões menos fundamentadas possam provocar alarido – quer nos pacientes, quer nas suas famílias.
Destacamos aqui que esta perturbação foi já considerada pelas agências competentes de saúde, a nível mundial, como uma patologia de alto risco para a saúde pública.
E o que é A Ritalina?
Ritalina é, na verdade, é o nome comercial mais associado ao metilfenidato, um estimulante do sistema nervoso central que integra a família das anfetaminas e cuja prescrição não é invulgar em diagnóstico clínico de crianças com PHDA.
Para desmistificar pontos-chave deste tema conversamos com uma médica especialista em Pediatria, que nos responde a algumas questões-chave.
Ritalina em conversa com especialista
Uma entrevista com a pediatra Ana Luísa Mendes
Vida Ativa: Quais são as indicações médicas para o tratamento com Ritalina?
Ana Luísa Mendes: Trata-se de um medicamento da classe dos psicoestimulantes e é usado para o tratamento da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) e da Narcolepsia.
VA: Qualquer criança desatenta, irrequieta e que se distrai facilmente terá necessidade de tratamento medicamentoso com Ritalina?
ALM: Não, a decisão de tratar com qualquer medicamento depende de uma avaliação médica na qual o especialista chega a um diagnóstico concreto, baseado nos critérios da DSM V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, ou Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).
Após esse diagnóstico médico, o tratamento pode ou não passar pelo uso de medicamentos tais como o metilfenidato, dependendo de vários fatores, nomeadamente o tipo de PHDA, idade, história clínica, antecedentes pessoais e familiares, entre outros.
VA: Como é feito o diagnóstico do PHDA?
ALM: O diagnóstico de PHDA é feito, habitualmente, numa consulta de Pediatria do Desenvolvimento e requere uma avaliação multidisciplinar, que passa pela recolha de uma história clínica detalhada, que inclui informação sobre antecedentes familiares, pessoais, assim como um exame físico completo e habitualmente aplicação de escalas de diagnóstico específicas.
Na maioria dos casos serão solicitados relatórios com informação dos pais e da escola e avaliação por profissionais de saúde diferentes.
VA: O diagnóstico é fundamental para o tratamento com Ritalina?
ALM: É essencial, pois o tratamento da PHDA não passa apenas pela medicação e quando esta é prescrita deve ser complementada com outro tipo de terapêutica, monitorizada e ajustada frequentemente em consulta médica específica.
VA: Quais especialidades médicas podem prescrever Ritalina em crianças?
ALM: Habitualmente, o diagnóstico é feito em consulta de Pediatria do Desenvolvimento ou Pedopsiquiatria.
VA: Quais as causas associadas a este transtorno?
ALM: Não são conhecidas as causas da PHDA, mas sabemos que há uma maior incidência de PHDA em crianças com determinadas patologias, e que há componentes genéticos importantes (por isso há habitualmente algum familiar direto com PHDA) e a influência de fatores ambientais, sendo que estes últimos têm um papel menos definido.
VA: Todas as crianças com PHDA têm indicação para fazer tratamento com Ritalina?
ALM: Não, depende de múltiplos fatores, mas o metilfenidato, para as crianças que necessitam de medicação, é habitualmente a primeira escolha pelo seu perfil de segurança e tolerância.
VA: Metilfenidato ajuda a aumentar a capacidade de concentração nos estudos?
ALM: Sim, quando estas crianças e jovens tem critérios de PHDA que justifiquem o uso desta medicação, e habitualmente em conjunto com terapia cognitivo-comportamental e seguimento multidisciplinar.
VA: Que benefícios esperar da terapêutica?
ALM: O objetivo da medicação é melhorar a qualidade de vida das crianças, não só ao nível do desempenho escolar mas também pessoal, nas tarefas do dia a dia e nas relações interpares e familiares.
VA: Quanto tempo leva este medicamento a fazer efeito?
ALM: O metilfenidato tem formulações de curta acção, cujos efeitos são sentidos em minutos, outros de média e de longa duração (com efeito em horas), e a opção entre estes depende da criança ou adolescente a quem são prescritos e do que se
pretende tratar.
A dose e tipo de formulação de metilfenidato usada pode variar ao longo do tratamento, de acordo com a resposta à medicação, calendário escolar, presença de efeitos secundários entre outros fatores, e por isso o médico irá programar as consultas de acordo com o caso específico de cada criança ou adolescente.
VA: Quais os efeitos laterais, a curto e longo prazo?
ALM: O metilfenidato é uma medicação segura e cujos efeitos secundários são habitualmente ligeiros e transitórios, desaparecendo com o uso continuado da medicação.
Os mais frequentes são a perda de apetite, dor abdominal, alteração dos padrões de sono e dor de cabeça.
VA: Há contraindicações?
ALM: Existem algumas contra-indicações importantes para o uso deste tipo de fármacos, nomeadamente a existência de doença cardíaca, tiques, outro tipo de doenças psiquiátricas, o uso de alguns medicamentos, entre outras. Por isso não podem ser usados em todas as crianças e adultos. Apenas com prescrição médica e monitorização frequente em consulta de especialidade.