Embora os agentes farmacológicos presentes na Ritalina tenham uma elevada eficácia demonstrada em crianças com perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA), a verdade é há ainda alguma controvérsia sobre a utilização deste tipo de medicamentos.
De facto, os medos, a má informação, o estigma, e a completa desinformação sobre a medicação e o tratamento em geral, contribuem em grande parte para que a PHDA seja a mais incompreendida perturbação do neurodesenvolvimento.
Por isso mesmo, existe uma necessidade contínua de compreender melhor no que consiste a perturbação de hiperatividade e défice de atenção e os efeitos que os medicamentos têm neste tipo de tratamento.
Para além disto, o facto de ter um impacto significativo na vida das crianças que é transversal aos diferentes contextos onde estão inseridas, faz com que exista a necessidade de uma abordagem, muitas vezes, multidisciplinar.
Ou seja, na maioria dos casos, a avaliação e tratamento envolve a pediatria, a neurologia, psicologia e pedopsiquiatria.
É por isso essencial que se faça um diagnóstico assertivo em crianças com PHDA, para que seja possível realizar uma intervenção adequada para cada caso e eficaz.
Fique connosco e saiba tudo sobre a administração de Ritalina em crianças com a perturbação de hiperatividade e défice de atenção.
O que é Ritalina e para que serve?
Também conhecido pelos nomes comercias de Ritalina ou Concerta, o cloridrato de metilfenidato é um medicamento que possui uma ação estimulante do sistema nervoso central. E é normalmente utilizado no tratamento medicamentoso da perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA).
Em Portugal, os medicamentos aprovados para o tratamento desta perturbação são o metilfenidato (Ritalina), a atomoxetina e a lisdexanfetamina.
Contudo, são já vários os estudos que demonstram que a administração de Ritalina não é só benéfica no controlo da patologia, como também parece ainda beneficiar o cérebro das crianças com PHDA.
Bons exemplos disso, são precisamente as revelações dos estudos de ressonância magnética estrutural e funcional – que mostram que a massa cerebral total de crianças com PHDA que tomam medicação é igual às que não sofrem da patologia.
Por outro lado, os estudos referem ainda que, as crianças com PHDA que não tomam medicação, têm um volume de massa cerebral reduzido quando comparado com as crianças que os tomam e com as que não sofrem da patologia.
De uma forma geral, a Ritalina possui duas indicações apenas:
- Tratamento medicamentoso da PHDA;
- Narcolepsia (sendo que para o tratamento desta doença em crianças, não se aplica o uso de Ritalina).
Em que consiste a PHDA?
Também conhecido em Portugal como transtorno do défice de atenção e hiperatividade (TDAH), a perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA), é uma perturbação do neurodesenvolvimento bastante comum na infância.
De facto, a prevalência deste tipo de diagnóstico tem vindo a aumentar ao longo dos anos e o impacto significativo que assume na vida da criança constitui um desafio que preocupa cada vez mais a sociedade atual.
A PHDA é a perturbação mais comum do neurodesenvolvimento nas crianças (com uma prevalência de 5 a 7% na idade escolar) e pode mesmo persistir até à vida adulta.
Como se caracteriza?
A PHDA caracteriza-se por hiperatividade, desatenção e/ou impulsividade que são intensos o suficiente e desproporcionais à idade da criança, de modo a afetarem o seu funcionamento cognitivo, comportamental, social, escolar e emocional.
No fundo, as crianças diagnosticadas com esta perturbação apresentam dificuldades em conter movimentos, inibir impulsos, capacidade de prestar atenção e regular comportamentos que afetam a comunicação, a socialização e a vida diária.
É importante ainda referir que este tipo de perturbação é mais comum nos meninos do que em meninas e é habitualmente descoberto durante os primeiros anos escolares – quando a criança começa a demonstrar algumas dificuldades sérias de concentração ou problemas comportamentais.
Assim, é de extrema importância que seja feito um diagnóstico precoce para melhorar a qualidade de vida da criança. Relativamente aos tratamentos, envolvem normalmente medicamentos como Ritalina e intervenções comportamentais.
Ritalina: de que forma age o medicamento no cérebro?
Agora que já sabemos no que consiste este fármaco e para que é utilizado nas crianças, é importante percebermos como age no cérebro dos mais pequenos.
Assim, a Ritalina é um medicamento que age inibindo a recaptação da dopamina e da noradrenalina na fenda sináptica, fazendo com que estes dois neurotransmissores permaneçam ativos por mais tempo.
Para uma melhor compreensão do tema, a dopamina e a noradrenalina são neurotransmissores que têm uma ação estimuladora no sistema nervoso central. Por isso mesmo, acabam por desempenhar um papel essencial na capacidade de concentração e no pensamento em geral.
Ou seja, quando se verifica a administração de Ritalina, existem mais neurotransmissores estimulantes disponíveis para os neurónios. O resultado é um aumento da capacidade de concentração, do controlo do comportamento e da capacidade de manter a atenção.
Qual a diferença do uso de Ritalina face às anfetaminas?
Apesar da controvérsia gerada em relação ao uso de Ritalina em crianças, há ainda quem possa confundir este medicamento com anfetaminas.
Apesar de o cloridrato de metilfenidato (Ritalina) estimular o sistema nervoso central de forma semelhante às anfetaminas, a verdade é que as suas ações são bem mais ligeiras.
Além disto, ao contrário das anfetaminas, este fármaco produz efeitos bastante mais percetíveis nas atividades mentais do que nas atividades motoras – um aspeto de extrema relevância quando o assunto são crianças e adolescentes.
Efeitos laterais deste medicamento em crianças
Como qualquer outro medicamento, também a Ritalina tem a sua própria lista de possíveis efeitos laterais. Sendo que uns são mais comuns do que outros, alguns são leves e outros podem ser potencialmente graves.
Possíveis efeitos laterais verificados:
- Perda do apetite;
- Dor de cabeça;
- Boca seca;
- Irritabilidade;
- Insónias;
- Náuseas e vómitos;
- Dor de garganta;
- Pingo no nariz;
- Labilidade emocional;
- Perda de peso;
- Ansiedade;
- Dor abdominal;
- Tonturas;
- Palpitações;
- Transpiração;
- Depressão;
- Tremores;
- Urticária;
- Tosse.
Importa ainda relembrar que, a conduta terapêutica deve-se basear no bom senso e na experiência pessoal de cada profissional de saúde, para evitar que outros tipos de problemas possam surgir na criança.
Além disto, saiba que atualmente a procura pelo alívio dos sintomas da PHDA deve passar quer pelos tratamentos específicos, utilizando medicação ou “neurofeedback”, quer pelos aspetos comportamentais.
Assim, é crucial que perante a suspeita de uma perturbação de hiperatividade com défice de atenção, os pais consultem o pediatra o mais rápido possível para que seja possível melhorar a qualidade de vida da criança e da família.