Share the post "Suplementos alimentares: conheça os riscos e os benefícios"
Existem inúmeros suplementos alimentares no mercado, com alegações bastante aliciantes para os atletas, profissionais ou não, e que incluem a melhoria da performance, o aumento da massa muscular e a perda de peso/massa gorda.
Embora estes potenciais benefícios dos suplementos sejam os pontos que recebem mais atenção por parte do consumidor, a verdade é que a toma destes produtos também apresenta riscos e efeitos secundários. Neste artigo fique a saber quais são os riscos dos suplementos alimentares.
O que são suplementos alimentares?
Um suplemento alimentar é um produto destinado a complementar a dieta em um ou mais componentes específicos, sejam eles macronutrientes (proteínas, hidratos de carbono ou gorduras), micronutrientes (vitaminas ou minerais) ou outros componentes sob a forma de concentrados ou extratos (cafeína, beta-alanina, entre outros).
Regra geral, a utilização de suplementos é maior na população atlética, sendo naturalmente superior nos atletas de elite em relação aos não-elite.
As razões para a toma deste tipo de produtos são várias, incluindo a promoção da recuperação, manutenção do estado de saúde, manipulação da composição corporal, melhoria da performance e compensar para possíveis carências associadas à dieta (1).
Suplementos alimentares: análise custo-benefício
Se pondera tomar um suplemento alimentar, deve sempre ponderar o custo-benefício, ou seja, perceber os potenciais benefícios e quais são os dados científicos disponíveis que efetivamente comprovam esses benefícios.
O custo envolve obviamente a componente financeira – até porque, regra geral, alguns destes produtos são dispendiosos – e os efeitos negativos que os suplementos podem ter na performance desportiva e saúde.
Por exemplo, desde 2002 que há relatos sistemáticos de produtos intencionalmente contaminados com quantidades elevadas de compostos considerados dopping, tal como a metandienona, o estanozolol, a boldenona, a oxandrolona e a metiltestosterona, compostos esses não declarados nos rótulos (2).
Para atletas de elite, este é um risco que pode ter consequências devastadoras, havendo inclusive alguns cuja carreira tem fim devido a testes positivos para dopping não-intencional.
Outro exemplo é a existência de dimetilamilamina (uma anfetamina) em alguns suplementos para melhoria da performance desportiva e perda de peso, cujos riscos para a saúde incluem hipertensão, arritmia, respiração ofegante, sensação de aperto no peito, bem como convulsões e outros sintomas neurológicos (3).
Além disso, existe sempre o risco de o suplemento não apresentar o que é alegado no rótulo ou pelo menos, as quantidades de substância ativa com efeito comprovado.
A incerteza quanto às substâncias que contêm
O consumo de suplementos representa um risco principalmente porque é praticamente impossível saber se o que é discriminado no rótulo corresponde ou não à realidade:
- Alguns suplementos podem conter substâncias banidas pela Agência Mundial Anti-dopping (WADA)
- Alguns suplementos podem ter sofrido contaminação cruzada durante o processo de fabrico, principalmente por fraca higienização da maquinaria
- Alguns suplementos podem apresentar compostos ou ingredientes que não estão discriminados no rótulo
- Alguns suplementos podem ser contrafeitos, especialmente os comprados online
- Alguns suplementos podem apresentar mais ou menos quantidade de determinado ingrediente, ou mesmo nenhum dos ingredientes listados no rótulo
O que pode ser feito para minimizar estes riscos?
Embora haja efetivamente riscos no consumo de suplementos, os consumidores devem ter em consideração algumas questões.
A decisão de tomar qualquer suplemento deverá ser devidamente informada quanto à relação risco-benefício, baseada sempre na evidência científica existente.
Se decidir que os benefícios são superiores aos riscos, é aconselhável adquirir suplementos de grandes empresas, uma vez que as marcas de suplementos mais reputadas apresentam padrões de mais elevados de produção, incluindo testes de segurança e qualidade.
Regulamentação dos suplementos alimentares
Cada país apresenta os seus próprios regimes de regulamentação para o registo e comercialização de suplementos. Em alguns casos, os suplementos são regulamentados como alimentos e noutros como agentes terapêuticos, ou seja, medicamentos de venda livre.
No caso da Europa e Estados Unidos, as entidades responsáveis por este controlo (União Europeia e Food and Drugs Administration (FDA), respetivamente), classificam estes produtos como géneros alimentares. No entanto, existem algumas diferenças na forma como as duas entidades lidam com os suplementos antes da sua comercialização.
Regulamentação na Europa
Na Europa, apenas é avaliada a lista de ingredientes, sem que se confirme os reais ingredientes do suplemento, ou seja, em qualquer um dos casos os produtos podem ser comercializados mesmo que estejam adulterados ou contaminados.
Na Europa, para aprovação e venda, os suplementos devem respeitar 3 premissas:
- Segurança: um comité avalia as bases da informação científica disponível até ao momento, determinando se o produto pode constituir um risco para a saúde humana.
- Rotulagem: o rótulo não deve iludir ou desinformar o consumidor e, por isso, os produtores devem garantir a correta rotulagem dos seus produtos, devendo dar-se especial enfoque aos géneros cujo objetivo é um substituto de um alimento.
- Intenção de uso: quando o produto se destina a substituir um alimento, a sua composição nutricional não deve ser tão distinta ao ponto de trazer desvantagem nutricional ao consumidor.
Regulamentação na Europa
No caso dos Estados Unidos, a FDA não está autorizada a rever a segurança e eficácia dos suplementos antes da sua vinda para o mercado, sendo isso responsabilidade dos produtores e distribuidores.
Mesmo quando a fórmula de um suplemento é alterada, como por exemplo quando se introduz um novo ingrediente, e essa alteração é comunicada à FDA, a entidade apenas a revê (não aprova ou aprova) e somente em questões de segurança, não de eficácia.
Como parte das funções de monitorização da FDA, os produtores são obrigados a comunicar qualquer efeito secundário perigoso associado a um suplemento e, na verdade, entre 2010 e 2012 estes números mais do que duplicaram (1009 casos para 2844) (4).
Outro problema é a livre circulação de produtos. Uma vez que grande parte dos suplementos são adquiridos online, mesmo em países em que a legislação é mais apertada, é possível conseguir produtos provenientes de países com pouca ou nenhuma legislação.
Assim, antes de adquirir ou consumir algum suplemento alimentar, garanta que tem indicação médica ou do seu nutricionista para o fazer. Sempre que ponderar a toma de algum suplemento alimentar, aconselhe-se com os mesmos para as marcas a escolher e como garantir a correta administração dos mesmos.
- Geyer H, Parr MK, Mareck U, Reinhart U, Schrader Y, Schänzer W. (2004). Analysis of non-hormonal nutritional supplements for anabolic-androgenic steroids – results of an international study. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14986195/
- Mathews, N.M. (2017). Prohibited contaminants in dietary supplements. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5753965/#bibr10-1941738117727736
- FDA. (2018). DMAA in Products Marketed as Dietary Supplements. Disponível em: https://www.fda.gov/food/dietary-supplement-products-ingredients/dmaa-products-marketed-dietary-supplements
- American Cancer Society. (última revisão: 2015). Risks and side effects of dietary supplements. Disponível em: https://www.cancer.org/treatment/treatments-and-side-effects/complementary-and-alternative-medicine/dietary-supplements/risks-and-side-effects.html