As situações de alegada violência policial tendo por base motivações racistas têm abundado nos Estados Unidos da América, mas a morte recente de George Floyd às mãos da polícia enquanto suplicava que não conseguia respirar tornou-se viral e gerou ira e indignação não só nos Estados Unidos da América, mas por todo o mundo. Os protestos somam-se e a incredulidade perante o racismo ganha espaço. Mas como podemos, a partir do nosso país e da nossa casa, combater o racismo?
Será o racismo uma questão do passado? Infelizmente, não
Alguns autores definem racismo como uma forma particular de preconceito, definida por crenças erróneas preconcebidas sobre raça e membros de grupos raciais. Tendo em conta esta definição, o racismo parece ser construído tendo por base estereótipos, suposições e visões preconceituosas.
Todavia, não se trata apenas de um ponto de vista preconceituoso. O racismo está presente em muitas dinâmicas institucionais, históricas, culturais e estruturais, que perpetuam as vantagens de um grupo dominante/privilegiado face a outro grupo, que é oprimido pelo sistema racista.
Apesar de muitas pessoas assumirem que o racismo é uma questão do passado, este está bem presente na sociedade de hoje e continua a perpetuar estereótipos e comportamentos opressivos.
Muitas das pessoas que assumem que o racismo é uma questão do passado pertencem ao grupo considerado dominante/privilegiado em função da cor da pele, apesar de muitas vezes não terem noção/conhecimento do próprio privilégio. O que acontece é que o racismo não tendo impacto no seu dia a dia, não o afetando de forma negativa, acaba por ser encarado como um conceito abstrato e distante (1).
O racismo não é um problema do passado. A sociedade luta e debate-se há muitos anos com a disparidade, o preconceito, o racismo, questões que são frequentemente ignoradas e evitadas, mas que ganharam maior visibilidade com o trágico falecimento de George Floyd.
Como fazer a diferença?
Os trágicos acontecimentos recentes podem despoletar sentimentos diversos, desde tristeza, frustração, à ira. Em muitas pessoas cresce a vontade de ajudar a combater o racismo e de participar ativamente na mudança social que urge ser feita.
Mas, estando fisicamente longe do local onde os protestos estão a acontecer, como é possível ajudar e unir a voz à daqueles que protestam do outro lado do mundo? Como contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e livre de preconceitos?
Ficar em silêncio não é opção
Ficar em silêncio perante a opressão e a marginalização de outros seres humanos é ser cúmplice.
A unidade, a compaixão e a igualdade que todos desejam não será atingida se cada um de nós adotar comportamentos egoístas e egocêntricos. É importante que cada pessoa se desafie a si mesma a ser uma pessoa melhor e a fazer melhor pelos outros (2).
Praticar a auto-reflexão
O racismo nem sempre é explícito ou óbvio para muitas pessoas. Por vezes, até sem se aperceberem e por ignorância ou desinformação, são feitos comentários racistas ou adotados comportamentos racistas. Mas a ignorância e a desinformação não podem ser desculpas usadas sempre.
Cada pessoa deve fazer por superar os seus próprios preconceitos, reconhecer pensamentos tendenciosos e crenças erróneas, procurando ser parte da mudança que desejam ver no mundo (3).
Provocar a mudança naqueles que são próximos
Aproveite o seu conhecimento para fazer a diferença. Se tem amigos e familiares que recorrem ao estereótipo racial, seja franco e assertivo.
Mostre o seu desagrado face às generalizações raciais formuladas por aqueles que lhe são próximos e tente influenciar de forma positiva, por exemplo, expondo-os a informação fidedigna e interessante acerca da discriminação racial e injustiça social (por exemplo, artigos, livros, filmes) (3).
Procurar ser um exemplo positivo
Se é pai ou mãe, não duvide nem hesite. Pode e deve iniciar uma conversa franca e honesta com o seu filho acerca do racismo e acerca dos acontecimentos recentes que têm sido emitidos pelos meios de comunicação social.
Pergunte à criança o que é que já sabe ou julga saber acerca do racismo. Pergunte qual a opinião acerca do racismo. Tente entender o que é a criança já sabe sobre preconceitos raciais.
Mostre-se disponível para responder a todas as questões, de forma franca, clara e adaptada à idade da criança. Se não souber alguma resposta, procure a informação adequada e retome o assunto com a criança.
Como pais, devemos estabelecer as bases para que as crianças cresçam num ambiente de aceitação e valorização das diferenças, bem como devemos promover a igualdade e a inclusão junto dos mais pequenos.
Os pais não devem esquecer que o combate ao preconceito é sobretudo feito dando o exemplo e nunca esquecendo que são os modelos que os filhos seguem (3).
Em suma
Possivelmente muitas pessoas sentem-se impotentes face aos trágicos acontecimentos recentes e face às diárias situações de discriminação racial e não sabem como elevar a sua voz, assumir uma posição e fazer a diferença.
É possível sair da zona de conforto e da posição de privilégio e procurar ser parte da mudança positiva de que o mundo precisa, até porque, como vimos, o silêncio não é solução e tende a favorecer o opressor e não a vítima.
As dicas acima podem ajudar a fazer a diferença, bem como uma assertiva e informada presença nas redes sociais ou a colaboração com organizações que lutam contra a discriminação racial. São várias as formas de fazer a diferença, o importante mesmo é não ser indiferente (3).
- Shouhayib, J. (2015). Racism in psychology. American Psychological Association. Disponível em: https://www.apa.org/pi/about/newsletter/2015/12/racism-psychology
- Stein, T. (2020). Racism and Violence Are Not New and Won’t Change Until We Do . Psychology Today. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-integrationist/202005/racism-and-violence-are-not-new-and-wont-change-until-we-do
- Fattahi, N. (2020). Don’t Underestimate the Power of Your Voice . Psychology Today. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/ie/blog/multicultural-mental-health/202006/dont-underestimate-the-power-your-voice