O psyllium é uma secreção rica em fibras obtida através das sementes de plantas da família Plantago, incuindo P. ovata, P, psyllium e P. indica, com origem nas regiões sub-tropicais.
Os benefícios do psyllium para a saúde, bem como as suas aplicações na indústria alimentar têm vindo a ser estudados há vários anos. São já reconhecidas as suas propriedades laxantes, hipocolesterolemiantes, hipoglicemiantes e indutoras de perda de peso, bem como um possível papel na redução do risco de cancro do cólon e no tratamento da síndrome do cólon irritável (1).
Para além dos benefícios para a saúde, o psyllium é ainda usado como desfloculante na indústria têxtil e de papel, como agente emulsificante e como lubrificante em produtos à base de carne (2).
Efeitos hipolipidémicos do psyllium
Vários fatores influenciam a incidência de doença cardiovascular (DCV). A dislipidemia (lípidos sanguíneos elevados) é caracterizada por níveis de colesterol sérico acima de 190 mg/dL, estando indubitavelmente associada ao um aumento do risco cardiovascular (3).
Paralelamente ao colesterol sérico, também as concentrações séricas de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), elevada densidade (HDL) e triglicerídeos (TG) estão associadas ao mesmo risco. Vários estudos, tanto em modelos animais como humanos, associam o psyllium a melhorias marcadas do perfil lipídico e diminuição do risco cardiovascular (CV) (1). Num ensaio clínico com voluntários humanos, o psyllium mostrou-se eficaz na diminuição dos níveis de colesterol sérico entre 5 e 20%, tendo sido utilizadas doses diárias entre 3,5 e 24 gramas (4).
Outro estudo demonstrou o potencial deste suplemento na redução do LDL em 50% dos homens dislipidemicos intervenientes no ensaio (5). Os mecanismos que explicam a ação hipocolesterolemiante do psyllium são vários:
- Aumento da produção de sais biliares, por promover a ação da enzima que converte o colesterol em ácidos biliares;
- Ligação do psyllium com os sais biliares, prevenindo a sua reabsorção e potenciando a sua eliminação pelas fezes;
- Limitando a absorção de gorduras por interferir com as enzimas digestivas e/ou alterando a superfície absortiva do intestino delgado;
- Diminuindo a taxa de produção de colesterol pelo fígado devido à fermentação do psyllium pela flora intestinal, que produz mais ácidos gordos de cadeia curta (SCFA) (1).
Por último, convém salientar que o potencial hipocolesterolemiante do psyllium é maior quando a sua toma é acompanhada de alimentos, ao invés de ser isolada (1).
Efeito hipoglicemiante do psyllium
As fibras hidrossolúveis são conhecidas pelo seu papel no controlo da glicemia e das concentrações de insulina, após as refeições, em diabéticos não insulino-dependentes (6).
O psyllium é usado tradicionalemente na índia como forma de tratamento para a diabetes, tendo sido estudado em modelos animais e humanos quanto à sua eficácia enquanto agente hipoglicemiante (1, 6). O mecanismo proposto para estas propriedades é a inibição da absorção de glicose a nível intestinal (1).
Existem vários estudos que apontam para o potencial da utilização do psyllium no tratamento da diabetes. A suplementação da dieta com psyllium resultou na redução das concentrações de glicose e insulina no sangue após as refeições, em homens com colesterol elevado e em diabéticos tipo 2 (7,8).
Dois estudos reportaram que a ingestão de cerca de 5 gramas de psyllium por dia, 2 vezes por semana durante 8 semanas resultou na redução das concentrações de glicose, tanto pós-prandiais (19%) como ao longo do dia (11%), em diabéticos tipo 2 (9,10). Os mesmos estudos sugerem que a suplementação com psyllium pode ser útil na modulação da carga glicémica (CG) da refeição, ajudando no controlo glicémico.
Papel do psyllium na prevenção do cancro
A suplementação com psyllium tem vindo a ser associada à prevenção do cancro, particularmente do cólon e mama (11, 12).
Embora o mecanismo por detrás desta associação esteja ainda por definir, os dados levam a crer que a fermentação do psyllium e a subsequente formação de SCFA – que incluem o acetato, o butirato, o propionato e o n-butirato – no cólon distal é responsável pelo efeito protetor conferido por este suplemento (11). A presença de SCFA, mais especificamente o n-butirato, tem sido associada à diminuição da propagação das células cancerosas, induzindo ainda a diferenciação das células da mucosa, potenciando a imunidade nessa zona do intestino.
No que diz respeito ao cancro da mama, os investigadores referem que os ratos alimentados com um rácio de 1:1 de farelo de trigo para psyllium apresentavam a menor taxa de tumorogénese mamária do que os que consumiam outro tipo de fibras (12). No entanto, dado o metabolismo celular dos modelos animais ser bastante diferente do dos humanos, restam ensaios clínicos que confirmem este possível benefício.
Efeito laxante e no sistema gastrointestinal do psyllium
O efeito laxante deste suplemento é o mais comprovado de todos os listados acima. Pelo facto de ser uma fibra solúvel, absorve a água no cólon, aumentando o volume e incrementando o conteúdo fecal. Para além disso, estimula a contração das paredes do cólon, promovendo a motilidade intestinal.
Num estudo realizado com 15 adultos, utilizando 15 gramas de psyllium por dia, verificou-se que, por formar um gel com ação lubrificante, facilitava a propulsão do conteúdo fecal através do cólon (13). Outro estudo obteve os mesmos resultados, sugerindo ainda que o efeito laxante aumentava com o tempo, sendo inclusive mais eficaz que o docusato sódico – um fármaco laxante – no tratamento da obstipação idiopática (sem causa definida) (14).
Vários estudos têm sido elaborados no sentido de associar a suplementação com psyllium à saúde gastrointestinal em geral. Uma revisão de literatura aponta para um possível efeito benéfico deste suplemento no tratamento da síndrome do cólon irritável e da obstipação associada a esta doença (15).
Outro possível efeito do psyllium é o seu efeito no atraso da motilidade gástrica, que pode ser benéfico nos casos de diarreias, incluindo as induzidas por fármacos que inibem a absorção de gorduras, frequentemente utilizados nos tratamentos para perda de peso (16).
Possíveis efeitos adversos do psyllium
Independentemente dos benefícios acima apontados, foram também descritos alguns efeitos adversos associados a este suplemento. Alguns deles incluem:
- Alteração da absorção de fármacos;
- Supressão do apetite e redução da ingestão alimentar;
- Flatulência e inchaço abdominal;
- Cãibras e dor abdominal;
- Redução da absorção de cálcio, magnésio e zinco devido à elevada viscosidade e fermentabilidade;
- Sintomas anafiláticos e morte (1).
Como tomar psyllium e quais as doses recomendadas
O psyllium pode ser consumido em doses de 5 a 10 gramas, 30 minutos antes das refeições, com um copo de água, se o objetivo for combater a obstipação.
Se utilizar este suplemento para controlar os valores de colesterol e de açúcar no sangue, deve fazê-lo com as refeições, pelo menos 2 vezes por semana. No entanto, ressalva-se que é importante consultar o seu médico ou nutricionista antes de iniciar a toma de qualquer suplemento, especialmente se visar controlo metabólico.