Share the post "Proteína de cânhamo: o que é, perfil nutricional e como pode ser utilizada"
As proteínas em pó são suplementos alimentares obtidos a partir do processamento de vários alimentos de origem animal (como o leite), ou vegetal (como algumas sementes e leguminosas).
Podem ser utilizadas para variados propósitos, entre os quais o aumento de massa muscular, a melhoria da performance desportiva ou a adequação nutricional de dietas, como a dieta vegetariana ou vegan.
Neste artigo, vamos ficar a conhecer a proteína de cânhamo (uma proteína de origem vegetal), o seu interesse a nível nutricional, os benefícios associados ao seu consumo e em que contexto poderá ser utilizada.
O que é a proteína de cânhamo?
A proteína de cânhamo é um suplemento alimentar obtido através da pressão a frio aplicada nas sementes de cânhamo, de forma a extrair inicialmente o máximo do seu conteúdo em óleo.
De seguida, as sementes são submetidas a um processo de moagem até à obtenção de um pó homogéneo, rico em proteína e facilmente assimilável pelo nosso organismo. O produto final é embalado e distribuído e tem um sabor neutro ou similar ao dos frutos secos.
Qual o seu perfil nutricional e quais os seus benefícios?
As sementes de cânhamo são particularmente apreciadas e consumidas pela sua alta densidade nutricional. No entanto, apesar de existir literatura relativa à composição nutricional das mesmas, ainda são necessários estudos que permitam compreender com clareza os efeitos benéficos do consumo dos seus subprodutos, como a proteína de cânhamo, o óleo de cânhamo ou a farinha de cânhamo (1).
Apesar de alguns estudos relatarem que o perfil nutricional das sementes de cânhamo pode variar consoante o seu genótipo e fatores ambientais associados à zona de cultivo, esta apresenta tipicamente cerca de 25-35% de gordura, 20-25% de hidratos de carbono (principalmente fibra insolúvel) e 20-25% de proteína de alto valor biológico (1).
Rica em aminoácidos essenciais
As proteínas presentes nas sementes de cânhamo, a partir das quais é obtido o suplemento alimentar, são de alto valor biológico, contendo todos os aminoácidos essenciais.
Os aminoácidos essenciais são aminoácidos cujo nosso organismo não tem a capacidade de produzir e que têm de ser obtidos a partir da alimentação.
As principais fontes alimentares de alto valor biológico são fontes animais como a carne, peixe, leite e ovos. Assim, o cânhamo apresenta uma excelente alternativa proteica vegetal para indivíduos que praticam uma alimentação vegetariana ou vegan (1, 2, 3).
Para além destes, é ainda importante destacar a arginina. Apesar de não ser um aminoácido essencial, a arginina é um precursor do óxido nítrico, um composto importante na saúde cardiovascular. Adicionalmente, a arginina e o óxido nítrico têm sido associados à melhoria da função imunitária e à reparação muscular (1, 4).
Fonte de ómega 6 e ómega 3
A proteína de cânhamo apresenta ainda uma alta digestibilidade. Estudos referem que a digestibilidade das proteínas de cânhamo se assemelha à de outras leguminosas (como as lentilhas) e é superior à de proteínas presentes em cereais (4, 5).
Apesar do seu processo de produção, cuja etapa inicial inclui a extração do óleo das sementes, a proteína de cânhamo em pó acaba por conter ainda cerca de 10% de gorduras insaturadas (6). Ao consumir uma porção de proteína de cânhamo (que tipicamente ronda as 25g a 30g), obtemos cerca de 3 g deste tipo de gordura.
Para além do teor em gordura insaturada, o rácio de ómega-6 / ómega-3 presente no cânhamo é outro fator que o enriquece nutricionalmente (7, 8).
Fonte de minerais
A proteína de cânhamo é também fonte de minerais como o fósforo, potássio, magnésio, cálcio, ferro, manganês, zinco e cobre.
A sua riqueza nutricional pode ainda ser atribuída à presença de compostos bioativos como compostos fenólicos com ação antioxidante, anti-inflamatória e neuroprotetora e de fitoesteróis (compostos que intervém na redução da absorção de colesterol) (1, 7).
Em que contexto é utilizada?
Sendo uma proteína de origem vegetal, a proteína de cânhamo é frequentemente consumida por indivíduos que praticam uma alimentação vegetariana ou vegan.
A sua riqueza não só em proteína e aminoácidos essenciais, mas também noutros nutrientes provenientes especialmente de fontes alimentares de origem animal (como o ómega-3 ou ferro), torna-a uma proteína de eleição para esta população em específico.
As razões que promovem a inclusão de um suplemento na rotina alimentar podem ser variadas.
Indivíduos que praticam desporto podem recorrer à ingestão proteica através de suplementos de forma a potenciar o ganho de massa muscular ou melhorar a performance desportiva (10).
Por outro lado, a ingestão de proteína de cânhamo pode ser benéfica também para colmatar deficiências ou inadequações especificas de padrões alimentares individuais (como o veganismo).
Como pode ser utilizada?
A proteína de cânhamo pode ser ingerida em crú, adicionada a sumos ou batidos, a iogurtes ou patés. Poderá ainda ser um componente de algumas refeições intermédias como pudins de chia ou papas de aveia.
Relativamente à dose adequada, esta é dependente das necessidades nutricionais e objetivos concretos de cada indivíduo.
Por norma, no rótulo destes produtos alimentares, é aconselhada uma dose de ingestão diária. No entanto, consulte o seu nutricionista para aferir quais as suas necessidades proteicas individuais.
Pode ser interessante para substituir outros tipos de proteína?
A nível nutricional, a proteína de cânhamo em pó, quando comparada com proteína de soro de leite (um dos suplementos proteicos de origem animal mais utilizados, tipicamente denominada proteína whey) e proteína de soja em pó, apresenta um menor teor proteico, mas maior teor em fibra insolúvel e gordura insaturada (11).
Relativamente à composição em aminoácidos essenciais, ao comparar a proteína de cânhamo com a caseína (uma proteína de origem animal de referência), verificou-se que apenas a isoleucina, a lisina e a fenilalanina estavam presentes em menor quantidade (1).
Assim, é possível constatar que a proteína de cânhamo parece ser uma opção viável e promissora para potenciar o aporte não só de proteína de alto valor biológico, mas também de ácidos gordos essenciais e fibra insolúvel, especialmente em dietas de cariz vegetariano ou vegan.
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