A piómetra canina é uma infecção bacteriana do útero secundária a uma alteração hormonal caracterizada por uma hiperplasia (aumento) quística do endométrio (camada interna do útero), que ocorre maioritariamente em cadelas não castradas com mais de 5 anos de idade, 4 a 8 semanas após o cio.
Etiologia da piómetra canina
A hiperplasia quística do útero consiste no aumento patológico progressivo do tamanho e número de glândulas do endométrio como resposta à contínua exposição à hormona progesterona, exposição essa que ocorre em cada ciclo éstrico (cio). Esta hiperplasia é responsável pela produção de secreções que se vão acumulando no interior do útero.
Paralelamente, a hormona progesterona diminui as defesas locais do útero e a sua capacidade de contração. Do ponto de vista reprodutivo, esta hormona existe para, quando ocorre a fecundação, permitir que o embrião encontre um ambiente favorável ao seu desenvolvimento no útero, sem que seja atacado pelas defesas locais nem expulso.
Cadeia de acontecimentos
Durante a fase ativa do ciclo reprodutivo da cadela, o cérvix ( zona de transição da vagina para o útero) permanece aberto e tal propicia a passagem de bactérias, que fazem parte da flora normal da vagina, para o útero.
Após o cio, o cérvix fecha e o útero está sob a influência da progesterona. A junção de todos estes acontecimentos forma as condições ideais para a multiplicação bacteriana e consequente piómetra.
Quais são os animais com maior risco de ter piómetra canina?
A maioria das piómetras ocorre em cadelas com mais de 5 anos que tenham desenvolvido hiperplasia quística do endométrio devido à exposição continuada e repetida à progesterona, produzida durante os sucessivos cios.
Há também outro grupo de risco, mais jovem e que não tem relação com a hiperplasia quística do endométrio. As fêmeas que sofreram tratamentos hormonais com estrogénios para abortar ou com progestagénios para prevenir o cio estão muito predispostas à piómetra, pelo que a administração destes fármacos como forma de controlo reprodutivo é desaconselhada.
Também se pode desenvolver em fêmeas castradas mas cujo o tecido uterino não foi inteiramente removido, assim como quando há complicações e infeções pós-parto.
Devido ao facto do ciclo reprodutivo das gatas ser diferente, com menores concentrações sanguíneas de progesterona, é mais frequente a ocorrência de piómetra em cadelas.
Sinais clínicos da piómetra canina
Os sinais clínicos da piómetra são por vezes pouco evidentes, o que explica que esta seja frequentemente uma patologia que se desenvolve discretamente sem os donos se aperceberem da gravidade da situação.
Usualmente, surgem 4 a 8 semanas após o cio ou após a administração das hormonas supramencionadas.
São variados, e incluem letargia, anorexia, polidipsia (aumento da ingestão de água), poliúria (aumento da produção de urina) e vómitos.
A piómetra canina pode apresentar-se de duas formas:
- Aberta – o cérvix encontra-se aberto e permite a passagem para a vagina do pus que se forma no útero;
- Fechada – o cérvix encontra-se fechado e não permite a passagem para a vagina do pus formado no útero.
Sinais clínicos | Piómetra com cérvix aberto | Piómetra com cérvix fechado |
Corrimento vulvar purulento | Sim | Não |
Distensão abdominal | Ausente ou moderada | Sim |
Febre / Depressão / Perda de apetite | Ausente ou moderada | Presente e severa |
Vómitos / Polidipsia – poliúria | Por vezes | Quase sempre presente |
Consoante se trate de uma forma ou de outra, a apresentação clínica varia. Existe absorção das bactérias e toxinas presentes no pus para a corrente sanguínea, o que pode, em casos mais graves, levar a uma septicemia (infecção generalizada), comprometendo o funcionamento orgânico.
Nas piómetras fechadas, o útero pode acumular pus até ao limite da sua capacidade, podendo resultar em ruptura e infecção severa da cavidade abdominal.
Diagnóstico da piómetra
O diagnóstico é feito com base na história clínica do animal, nomeadamente os sinais apresentados e o tempo passado após o cio. A realização de uma radiografia e/ou ecografia abdominal confirmam o diagnóstico, permitindo visualizar o útero com excessivo conteúdo líquido.
Devem também ser realizados exames ao sangue de forma a perceber se já houve mais órgãos afetados devido à disseminação da infecção, nomeadamente o rim.
Tratamento da piómetra canina
O tratamento de escolha para este problema é a ovariohisterectomia (remoção do útero e ovários), após a sua estabilização através de soro e antibióticos.
No caso da cadela ter valor reprodutivo, pode-se considerar o tratamento médico, em alternativa à castração, com a administração de antibióticos e de hormonas que ajudam a expulsar o conteúdo purulento.
No entanto, apenas a ovariohisterectomia previne a reincidência da piómetra canina.