A médica pediatra Filipa Marujo responde a um conjunto de perguntas colocado pelos seguidores do Vida Ativa sobre a pandemia da COVID-19. Aconselhamos vivamente a leitura.
20 perguntas e respostas sobre a COVID-19
1. Qual é o tratamento que fazem nos hospitais para a COVID-19?
Neste momento, pelo elevado número de casos em Portugal, apenas ficam internados os doentes com doença grave.
Um dos critérios de doença grave é a presença de falta de ar e necessidade de suporte ventilatório (usa-se uma máquina, um ventilador, que auxilia e suporta a respiração do doente). Quando o doente apresenta falha de vários órgãos (coração, rim…) dão-se medicamentos e usam-se técnicas que simulam as funções dos órgãos comprometidos.
Outros tratamentos estão a ser testados com anti-virais, por exemplo.
2. Deve mesmo evitar-se tomar ibuprofeno?
Em alguns doentes o uso de ibuprofeno pareceu agravar o seu estado clínico, tendo sido interpretado como um possível desencadeador da multiplacação do vírus. Porém, isto foi meramente observacional e os estudos com ibuprofeno não comprovaram esta suspeição. Muita coisa está por descobrir e responder.
A minha opinião é que se deve optar em primeiro lugar pelo paracetamol para controlar sintomas como febre e dor. Se não for suficiente, o uso de ibuprofeno é uma opção.
3. Qual a temperatura a que se deve lavar a roupa para se garantir que se elimina o vírus?
A roupa deve ser lavada à temperatura mais alta que a máquina puder suportar (dependendo da termoresistência) – ciclo de desinfeção pelo calor (pelo menos a 60ºC durante 30 minutos, ou entre 80-90ºC, com 10 minutos de contacto do calor com a roupa.
4. É mais fácil fazer o diagnóstico de COVID-19 a quem tem a imunização da gripe sazonal?
A vacina da gripe não protege contra todas as estirpes do vírus influenza. A prévia imunização não invalida nem impede a COVID-19.
5. Como combater a ansiedade e hiperatividade em tempo de quarentena?
Existem várias medidas que têm sido sugeridas por várias entidades, incluindo a Direção-Geral da Saúde (DGS).
É importante cuidar de nós próprios. Devemos manter uma alimentação equilibrada e recomenda-se a prática de exercício físico diário. Visto que o tempo livre é algum, toca a puxar pela imaginação.
Manter os horários de sono e descanso. Manter rotinas e atividades habituais; ter objetivos diários. Devemos manter-nos informados, mas perceber que também há tempo para ouvir música, ler um livro ou ver aquele filme que já desejava há tanto tempo. Cuidado, filtrar a informação credível.
Manter o contacto com os amigos e familiares. Somos uns sortudos por vivermos na era da tecnologia. Basta escolher: telemóvel, email, redes sociais ou vídeo-chamada.
6. Com sintomas leves (como tosse seca) mas sem contacto com infetados, o que devemos fazer?
Manter-se em casa, evitar contacto próximo com familiares e ter sempre em mente as regras de higiene respiratória. Mais do que nunca é importante lavar as mãos frequentemente ao longo do dia.
Só se deve dirigir ao hospital se os sintomas agravarem (surgimento de falta de ar ou febre que não cede com os antipiréticos).
7. Ao trazer as compras do supermercado devemos esperar algumas horas antes de as arrumar?
As compras devem ser desinfetadas e os sacos utilizados para o seu transporte colocados no lixo ou fora de casa para aproveitar na próxima ida ao supermercado.
8. É possível ser infetado mais que uma vez?
Ainda não se sabe se é possível ser infetado mais do que uma vez, visto ainda não existir um teste que faça a pesquisa de anticorpos para este vírus. Porém, vários autores referem que, à semelhança do que acontece com outras infeções virais, uma vez que contraída, a pessoa ficará imune e não a deverá adquirir novamente. No entanto, existem sempre exceções. Teremos de descobrir mais acerca deste vírus.
9. As grávidas correm mais riscos que as outras pessoas?
Nos trabalhos científicos publicados, não existe informação sobre a suscetibilidade de mulheres grávidas à COVID-19.
As grávidas sofrem alterações imunológicas e fisiológicas que as podem tornar mais suscetíveis a infeções respiratórias virais, incluindo a COVID-19. Durante a gravidez, as mulheres também podem estar em risco de doença grave, morbilidade ou mortalidade em comparação com a população em geral, como observado em casos de outras infeções relacionadas com coronavírus [incluindo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV) e coronavírus da síndrome respiratória do Médio Oriente (MERS- CoV)] e outras infeções respiratórias virais, como a gripe (influenza).
As grávidas devem empenhar-se em ações preventivas habituais para evitar infeções, tais como lavar as mãos frequentemente e evitar as pessoas doentes, ou casos suspeitos que estejam sob vigilância. Devem respeitar a distância recomendada entre pessoas próximas (1 metro).
10. O vírus propaga-se pelo ar?
Não. O vírus transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas, ou superfícies e objetos contaminados.
A transmissão ocorre através de gotículas libertadas pelo nariz ou boca quando tossimos ou espirramos, que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo.
As gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada e, assim, infetar outras pessoas que toquem nestes objetos ou superfícies se depois levarem as mãos aos olhos, nariz ou boca.
11. Porque é que as crianças têm menos sintomas?
Por razões ainda não conhecidas pela comunidade científica este vírus parece afetar mais adultos do que crianças, e estas parecem desenvolver menos sintomas e doença mais leve.
O motivo para esta desigualdade ainda não foi totalmente compreendido, mas a resposta pode estar na diferença entre o sistema imunitários das crianças e dos adultos. Isto porque à medida que se envelhece, o sistema imunitário torna-se mais fraco e pode dificultar a resposta a este novo coronavírus. Encontram-se padrões de resposta semelhantes com outras doenças virais, como é o caso da varicela. Nesta, os adultos tendem a apresentar quadros muito mais graves de doença e são mais suscetíveis a complicações.
A diferença também pode estar no padrão de resposta a infeções por parte das crianças, cuja resposta imunológica pode ser mais moderada. Isto justifica-se pelo facto das crianças terem tradicionalmente mais infeções e, que por isso, o seu sistema imunitário esteja habituado a ser frequentemente “atacado”, coordenando e regulando melhor a sua resposta ao agente infecioso.
Outra hipótese especulada pelos especialistas, é que as crianças são habitualmente “bombardeadas” com outros coronavírus, que apenas causam uma constipação sem complicações, e que com isso produzam anticorpos que ficam em circulação na corrente sanguínea conferindo proteção cruzada para o SARS-CoV-2. Esta pode ser outra das razões que justifique a clínica leve das crianças em resposta a este novo coronavírus, um quadro de coriza associada ou não a tosse.
12. Em termos de higiene, o que fazer quando vimos da rua em termos de higiene?
- Deixar sapatos da rua fora de casa ou numa parte da casa considerada como “suja” (idealmente deve ser perto da porta da rua).
- Desinfetar as mãos com água e sabão ou, como alternativa, solução alcoólica.
- Despir a roupa da rua e desinfetar novamente as mãos.
13. Podemos pegar coronavírus aos animais de estimação?
Não. Por isso não abandonem os vossos animais de estimação.
14. Determinado tipo de sangue é susceptível de ser contaminado mais facilmente que outro?
Não existe nenhuma evidência até à data.
15. Que cuidados devemos ter quando vamos às compras?
Cuidados de higiene respiratória: não tossir para cima de ninguém, não levar as mãos aos olhos, boca ou nariz. Manter uma distância de, pelo menos, um metro do próximo. Afaste-se se se aperceber que alguém próximo está a tossir. Ao chegar a casa ter os cuidados já referidos (relativamente às compras e às medidas de entrada em casa já referidas).
16. Frutas e legumes estão mais expostos ao coronavírus no supermercado?
Sim. O vírus pode permanecer em cima das superfícies, onde se pode incluir as frutas e legumes, durante várias horas. Não comer estes produtos crus ou com casca (sem a devida desinfecção). As frutas e verduras antes de serem consumidas devem ser desinfectadas com água e vinagre durante 15 minutos, sem preparação com o cuidado de lavar as mãos após a sua preparação.
17. O ar condicionado é perigoso para a propagação do coronavírus?
Sim, claro. Permite a propagação das partículas aerossolizadas.
18. Sendo um vírus sazonal ,tal como outros vírus, podemos estimar e tendo em conta, o que se está a passar na Europa, qual o perÍodo de tempo que continuará a infectar ?
Não se pode estimar o período durante o qual o vírus vai permanecer em circulação. Muitos fatores condicionam esta situação. Neste momento, a nossa melhor arma é o distanciamento social associado ao isolamento profilático.
19. Devemos sair de casa com máscara?
A máscara pode dar uma falsa sensação de proteção. A máscara deve ser usada por doentes infetados de forma a evitar a infeção dos seus pares.
20. A COVid-19 pode ser transmitido ao feto?
Pensa-se que o vírus que causa a COVID-19 se espalha principalmente por contato próximo com uma pessoa infetada através de gotículas respiratórias.
De acordo com o conhecimento até à data, não parece haver transmissão do vírus através da placenta ou do leite materno. Também não se registaram complicações nos recém-nascidos de mães infetadas com a COVID-19.