As patologias congénitas cardíacas em cães são um grave problema na prática clínica, uma vez que condicionam a qualidade de vida do animal e na sua maioria são transmissíveis à descendência. Assim, torna-se importante diagnosticar estes problemas precocemente e estar atento a possíveis sinais de doença cardíaca.
O que são patologias congénitas cardíacas em cães?
As patologias congénitas são defeitos presentes no nascimento que podem ter várias causas, nomeadamente, genéticas, ambientais, tóxicas, infeciosas, nutricionais, entre outros.
Estes defeitos podem ocorrer em vários sistemas do organismo do animal incluindo o coração, sendo estes os mais frequentes em animais domésticos.
4 Patologias congénitas cardíacas em cães
1. Estenose subaórtica
A estenose subaórtica é uma das patologias congénitas cardíacas em cães mais frequentes. Consiste na obstrução de saída de sangue do ventrículo esquerdo, devido a uma crista, anel ou nódulo de tecido fibroso no seu interior, abaixo da válvula aórtica.
É um defeito cardíaco comum em raças de maior porte, como em boxers, pastores alemães, rotweilleres. Muitos animais podem ser assintomáticos, ou seja, não manifestar qualquer sintoma e sofrerem de “morte súbita”.
2. Estenose pulmonar
A estenose pulmonar é uma doença cardíaca congénita que se carateriza pela obstrução de fluxo de sangue do ventrículo direito do coração, sendo mais frequente a forma valvular. Esta é uma das três patologias congénitas cardíacas em cães mais frequentes.
3. Ducto arterioso persistente
Os cães, tal como os humanos, têm o coração dividido em 4 partes: 2 ventrículos e 2 átrios. O sangue circula por todas estas cavidades passando por duas circulações:
- Pulmonar: o sangue é levado do coração aos pulmões, levando sangue pobre em oxigénio para os pulmões e devolvendo-o rico em oxigénio, para que o sangue prossiga para a circulação sistémica
- Sistémica: o sangue oxigenado, ou seja, rico em oxigénio, é levado do coração para os tecidos de todo o corpo
Durante a vida fetal, os pulmões não são funcionais, havendo passagem de sangue maternal oxigenado para o coração do feto através do ducto aórtico.
Imediatamente após o nascimento, esse ducto é fechado através do ligamento arterioso, no entanto, se por algum motivo esse fechamento não ocorrer, ocorre o defeito do ducto arterioso persistente.
4. Tetralogia de Fallot
A tetraologia de Fallot é uma doença cardíaca congénita reconhecida por apresentar quatro defeitos:
- Estenose da válvula pulmonar, ocorrendo obstrução da saída do sangue do coração
- Defeito do septo interventricular, ocorrendo comunicação entre ambos os ventrículos do coração
- Dextroposição da artéria aórtica, ou seja, esta artéria, que em situação normal, estaria no lado esquerdo do animal, encontra-se no seu lado direito
- Hipertrofia congénita secundária do ventrículo direito, ou seja, espessamento do ventrículo
O sinal clínico mais comum desta patologia é a cianose, ou seja, aparência arroxeada da pele e mucosas, devido à falta de oxigenação do sangue.
Algumas raças estão mais predispostas para desenvolver este defeito, como os Fox Terrier, Collie e Buldogue inglês.
Sintomas de patologias congénitas cardíacas em cães
Grande parte destes defeitos pode não causar qualquer sintoma. Quando surgem sintomas, estes são transcendentes a vários problemas cardíacos como:
- Fraqueza
- Cansaço
- Dispneia, dificuldade respiratória
- Sincope, desmaio
- Cianose, coloração das mucosas azulada
- Morte súbita
Estes sintomas, quando surgem em cachorros até 1 ano de idade, são sugestivos de doença congénita cardíaca, e devem ser investigados.
Diagnósticos de patologias congénitas cardíacas em cães
A deteção de patologias congénitas cardíacas em cães pode ser um verdadeiro desafio, uma vez que os animais são na maioria das vezes assintomáticos.
Se surgirem sintomas, o diagnóstico da presença de patologia cardíaca é feito com base nos sintomas e historia clínica do animal. Na maioria dos defeitos, é possível a auscultação de um sopro.
Para distinguir o tipo de defeito cardíaco é necessário a realização de exames complementares como radiografias torácicas, ecocardiografia e eletrocardiograma (ECG).
Tratamento de patologias congénitas cardíacas em cães
O tratamento destas patologias passa sempre por cirurgia. No entanto, em algumas situações mais graves a resolução não é possível. É importante que o defeito cardíaco seja diagnosticado o mais cedo possível, pois mesmo sem sintomas, o coração do cão com defeitos cardíacos está a trabalhar sobre esforço, podendo levar a sequelas.
A cirurgia resolve o problema congénito principal, no entanto, as sequelas permanecem. Assim, para que o cão possa ter uma vida normal, deve ser diagnosticado e tratado numa fase precoce.
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MSD Veterinary Manual – Overview of Congenital and Inherited Anomalies of the Cardiovascular System. Disponível em: https://www.msdvetmanual.com/circulatory-system/congenital-and-inherited-anomalies-of-the-cardiovascular-system/overview-of-congenital-and-inherited-anomalies-of-the-cardiovascular-system?query=cardiac%20congenital%20dogs