O parto na água não é uma novidade, uma vez que remonta à Grécia Antiga. No entanto, ainda não é a primeira escolha da maioria dos obstetras/pais, pelo que não é o tipo de parto feito por rotina.
Ainda assim, o parto na água é considerado um dos tipos de partos mais humanizados e naturais possíveis, sendo menos traumático e agressivo, quer para a mãe, quer para o bebé.
O acompanhamento médico é fundamental em todo o processo, ou seja, desde o momento da decisão de fazer o parto na água, até ao momento de ter o bebé.
Parto na água: em que consiste?
O parto na água é um parto natural em que se utiliza a água como forma de relaxamento da mãe.
O bebé pode ou não nascer dentro de água, mas é necessário que, até ao período expulsivo, a mãe esteja dentro de uma piscina, submersa até ao nível dos seios quando está na posição de sentada.
O ambiente ideal será um quarto ou uma divisão isolada ou com privacidade, com pouca exposição à luz, ambiente sossegado, onde o pai, ou acompanhante, pode entrar na piscina para apoiar a mãe, permitindo uma participação mais ativa e mais intensa neste momento único na vida do casal.
A água deverá ser potável e estar quente, a uma temperatura entre os 35 e os 37 graus Celcius, pois favorece a irrigação sanguínea, induz uma redução da pressão arterial e contribui para o relaxamento da estrutura muscular, fatores que contribuem para atenuar as dores associados ao parto, reduzindo ou mesmo eliminando a necessidade de anestesia.
Não existem evidências nem indícios que um parto na água tenha maiores riscos em comparação com um parto normal para a mãe ou bebé.
No entanto, para um parto seguro, é importante que o parto na água seja combinado entre os pais e o hospital ou clínica onde o bebé irá nascer, meses antes do trabalho de parto começar.
Durante a preparação, o casal é convidado a realizar exercícios numa piscina aquecida, utilizando técnicas de respiração e autocontrolo.
É importante ter a noção de que, o parto deve ser assistido por uma equipa médica especializada e que, a qualquer momento, caso o parto complique ou haja a necessidade de recorrer a ventosa ou fórceps, a mulher deverá saída da piscina/banheira e cumprir com as indicações clinicas.
Vantagens do parto na água
São inúmeras as vantagens em realizar um parto na água, nomeadamente:
- Dentro de água, a mãe fica mais leve sendo mais fácil encontrar posições cómodas, menos dolorosas e mais eficientes durante o parto;
- Maior sensação de segurança materna por conseguir controlar as posições mais confortáveis;
- A água promove o relaxamento materno, bem como dos ligamentos e músculos do períneo, o que leva a que a mãe sinta:
- Menos dor, devido a sentir uma menor pressão no útero e no abdómen durante o processo das contrações, ou seja, as contrações são menos intensas;
- Aceleração do trabalho de parto;
- Menor sensação de cansaço, devido às vantagens referidas anteriormente;
- Uma transição da placenta para o exterior mais suave;
- Menor edema (inchaço) corporal;
- Sensação de maior privacidade, por sentir que não lhe estão a observar diretamente os genitais;
- Consegue respirar mais calmamente, contribuindo para uma boa oxigenação fetal;
- Maior libertação da hormona ocitocina e de endorfinas e uma diminuição da libertação da hormona de stress e da adrenalina, quando em comparação com o parto normal;
- Menor necessidade de episiotomia ou ocorrência de laceração do períneo;
- Diminuição da necessidade de se ter de recorrer a uma cesariana ou à utilização de ventosa ou fórceps;
- O bebé, por breves segundos, sente-se num ambiente mais próximo daquele em que estava no interior da placenta;
- Normalmente, os partos na água são mais rápidos.
Desvantagens do parto na água
1. Risco de infeção
Aquando do nascimento do bebé, é possível que se dê uma perda da continuidade da mucosa do colo do útero ou mesmo de laceração perianal, o que aumenta o risco de infeção.
2. Desapontamento por não sentir alívio/diminuição das dores das contrações
Cada caso é um caso e a tolerância à dor é diferente de mulher para mulher. Assim, caso as dores sejam incomportáveis, pode existir a necessidade de sair da piscina para lhe ser administrada anestesia epidural ou petidina. Se esta situação acontecer, não fique triste, os imprevistos acontecem e deve estar preparada mentalmente para os mesmos.
3. Situação de emergência durante o parto
Pode ser mais complicado ultrapassar qualquer complicação pelo simples facto de a mãe estar dentro de água e não numa cama do hospital.
4. Pequeníssimo risco de afogamento ou aspiração de água por parte do bebé
Apenas pode ocorrer quando parte do bebé é exposto ao ar ambiente antes do seu corpo todo sair do corpo materno, ou quando ocorre uma falha no mecanismo respiratório .
No entanto, na esmagadora maioria dos casos, não há risco de afogamento uma vez que, nos primeiros momentos fora do útero, a criança não utiliza o sistema respiratório continuando a respirar através do cordão umbilical, até ser exposto ao ar ambiente.
Parto na água: contra-indicações
Este tipo de parto deixa de ser uma opção viável nos seguintes casos:
- Durante a monitorização fetal se verifica que o bebé está em sofrimento;
- Trabalho de parto muito longo, poderá lhe ser sugerido sair da piscina de forma a poder caminhar, subir escadas e praticar os exercícios que lhe são ensinados nas aulas de preparação para o parto, de forma a tentar acelerar o parto;
- Gravidez de alto risco;
- Partos prematuros (com menos de 37 semanas de gestação);
- Gravidez gemelar (gémeos);
- Bebés em posições anómalas dentro do ventre materno;
- Mães com antecedentes de hemorragias;
- Mãe que começa com hemorragia vaginal durante o trabalho de parto;
- Mães diabéticas;
- Mães com pré-eclâmpsia ou hipertensão arterial;
- Grávida com sinas de febre e/ou infeções não tratadas;
- Grávida com parto anterior realizado por cesariana;
- Rutura prematura da placenta;
- Presença de mecónio (1ª dejeção do seu bebé) na água da piscina;
- Experiências anteriores de partos complicados, resultantes, por exemplo, de bebés muito grandes, com peso superior a 4 kg (pelo risco de distocia do ombro) ou mãe com a bacia estreita;
- A água da piscina fica muito suja;
- Se a mãe sentir-se sem forças e com a sensação que vai desmaiar.
Epidural no parto na água
Num parto na água não é possível administrar anestesia epidural porque entorpece as pernas não sendo possível à grávida suportar o seu próprio peso, movimentar-se, entrar ou sair da piscina.
Além disso, no caso de analgesia epidural, a mãe terá que estar ligada a monitores, sendo necessária a colocação de um cateter endovenoso numa veia para o soro e algália no meato urinário, o que seria incompatível com um parto na água.
Porém, a todo o momento pode alterar a sua escolha e optar pela epidural.
Parto na água: realidade em Portugal
Por fim, apesar das evidentes vantagens do parto na água e dos muitos estudos científicos que as comprovam, em Portugal, tanto quanto nos foi possível apurar, ainda não é possível realizar partos na água pelo Serviço Nacional de Saúde.
No setor privado, é possível realizar em vários hospitais ou clínicas privadas, existindo também quem se submeta a esta prática em contexto domiciliário.