Já alguma vez se questionou sobre a origem dos doces de Natal? Neste artigo vamos contar-lhe sobre a origem dos doces mais tradicionais da época de natalícia.
Bolo-rei, pão de ló, rabanadas, sonhos… Só de pensar já ficamos com água na boca. Mas o contexto hoje é diferente: conhecer a origem dos doces de Natal vai ajudar a perceber por que motivo eles são uma presença assídua na ceia de natal, ajudando a compor o cenário perfeito para um momento feliz em família.
Origem dos doces de Natal
Bolo-rei
Sabia que o Bolo-Rei já tem perto de dois mil anos de existência? Diz a lenda que a origem deste doce de Natal se relaciona com os três Reis Magos, Gaspar, Belchior e Baltazar.
Este bolo simboliza, assim, os presentes que os Magos levaram ao Menino Jesus aquando do seu nascimento: o ouro, a mirra e o incenso. De acordo com a simbologia, a massa simboliza o ouro, as frutas cristalizadas e secas representam a mirra, e o aroma do bolo assinala o incenso.
Certo é que o bolo, devido às frutas e à forma circular com um buraco no centro, aparenta uma coroa incrustada de pedras preciosas. Mas a história não fica por aqui. Segundo a lenda, quando os Reis Magos viram a estrela que anunciava o nascimento de Jesus, disputaram entre si qual dos três teria a honra de ser o primeiro a brindar o Menino. Para acabar com a discussão, um padeiro confeccionou um bolo escondendo no seu interior uma fava, para que aquele que a apanhasse fosse o primeiro a entregar o presente. A história não conta no entanto, qual dos três, Gaspar, Baltazar ou Belchior, foi o feliz contemplado.
Uma explicação mais científica indica que os romanos usavam as favas para a prática inserida nos banquetes das Saturnais, durante os quais se procedia à eleição do Rei da Festa, também designado Rei da Fava, porque era escolhido usando favas para tirar à sorte. Terá sido a Igreja Católica a relacionar este jogo, característico do mês de dezembro, com a Natividade e, depois, também com a Epifania (os dias entre 25 de dezembro e 6 de janeiro). Esta última data acabou por ser designada pela Igreja como dia de Reis, do qual ainda hoje em Espanha se mantém a tradição para a oferta dos presentes às crianças, em vez do dia 24 ou 25 de dezembro, como é tradição em Portugal.
Tronco de Natal
O tronco de Natal nasceu em Paris, no final do século XIX, nos fornos do historiador e confeiteiro Pierre Lacan. O bolo tem a cor da madeira e é coberto de chocolate ou de creme de café. É uma espécie de enrolado recheado com creme de manteiga e a sua forma assemelha-se à da madeira, imitando um verdadeiro tronco de árvore.
Na origem do doce de Natal está a tradição das famílias em reunir-se diante da chaminé, na véspera de Natal: um tronco de lenha era aceso pelo filho mais jovem e pelo mais velho. Depois, era benzido pelo chefe da família com óleo, aguardente ou água benta. As cinzas da madeira eram guardadas para proteger a família do diabo no ano seguinte.
Com o desaparecimento da tradição da cavaca de Natal, o tal tronco que se colocava a arder, o símbolo dessa época passa a ser um bolo, ao qual se apelidou de tronco de Natal.
Pão de ló
Em Portugal, existem variedades regionais de pão de ló que se tornaram símbolos dessas regiões, como o de Alfeizerão, o de Ovar, o de Margaride e o de Arouca.
Diz a tradição que a receita de pão de ló pertencia às freiras do Convento de Coz, que ensinaram as técnicas do seu preparo a uma família de Alfeizerão. E se a origem do nome é portuguesa, as suas raízes são espanholas já que a origem do doce de Natal está num biscoito similar ao pão de ló que era preparado nos mosteiros e conventos de Castela, em Espanha e que estava sempre presente nas mesas dos padres mais abastados.
Era indicado para as dietas de convalescentes, como também era enviado como presente e conforto a famílias enlutadas ou oferecido aos condenados à morte junto com um copo de vinho, quando subiam à forca.
Este doce é muito apreciado no Japão: os primeiros portugueses que lá chegaram no século XVI levaram consigo a receita do pão de ló, também chamado pão de Castela, acabando por cair no gosto popular e é hoje um dos doces mais típicos do Japão, o Kasutera.
Aletria
No “Libre de sent soví” de autor anónimo e escrito em catalão no século XIV, há uma referência a “alatria” em duas receitas de origem árabe, sendo uma delas a aletria cozinhada com leite de amêndoas e mel.
Por isso a aletria portuguesa, tem origem na longínqua história da península ibérica, anteriormente designada por Al-Andalus, faz-se um pouco por todo o país, com mais ou menos massa, com ou sem gemas.
Nas Beiras, a aletria é de consistência compacta, para se poder cortar à fatia, já no Minho a sua consistência é mais cremosa.
Sonhos
Os sonhos são um doce de origem turca, muito populares também na Grécia, Chipre, Bulgária, Macedónia, Sérbia, Albânia, Irão, Egito.
A sua origem prende-se com a criação de um doce em forma de bola que representa o sol nascente, a luz, o amor, a paixão, a vitalidade, o conhecimento, a juventude, o fogo, o poder, a realeza, a força, a perfeição, o nascimento, a morte, a ressurreição, a imortalidade.
Azevias
As azevias nasceram no mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, e foram batizadas com o nome de Pastéis de Santa Clara, que ainda hoje existem.
As freiras de Santa Clara eram conhecidas por fazerem diversos tipos de pastéis e os que deram origem às azevias eram feitos com massa quebrada, recheada com uma mistura de doce de ovos com amêndoa, frita em azeite bem quente e no fim envolvida com açúcar e canela. Reza a história que eram feitos no maior dos secretismos e só as freiras conheciam a receita original.
Tornaram-se tão famosos que percorreram o país, chegando a outros mosteiros. Como nem sempre a matéria-prima abundava, algures noutro mosteiro no Alentejo recriou-se o recheio com o que mais havia à mão: grão, batata-doce, abobora, chila e amêndoa, nascendo assim um pastel diferente, ao qual foi dado o nome de azevias.
Filhós, coscorões ou malassadas
Antigamente eram as mulheres que as amassavam e preparavam no joelho para serem fritas no azeite e os homens é que as viravam e observavam o tempo em que estavam a fritar. Nesse tempo, há cinco décadas atrás, esta receita típica do Natal português era um luxo, pela dificuldade que representava para algumas famílias terem acesso ao azeite e à farinha.
Gil Vicente escreveu sobre este doce de Natal: “Mando-vos eu sospirar pola padeira d’Aveiro que haveis de chegar à venda e entam ali desalbardar e albardar o vendeiro senam tever que nos venda vinho a seis, cabra a três pão de calo, filhós de manteiga moça fermosa, lençóis de veludo casa juncada, noite longa chuva com pedra, telhado novo a candea morta e a gaita à porta. Apre zambro empeçarás olha tu nam te ponha eu o colos na rabadilha e verás”.
Rabanadas
As rabanadas foram criadas pela necessidade do reaproveitamento do pão seco e, tal como a grande maioria das tradições natalícias, as rabanadas também são um doce importado.
A origem é incerta, mas o mais provável é que sejam de origem francesa – daí que seja amplamente designada de French Toast. As rabanadas variam de região para região e cada família tem a sua receita.
No entanto, há ingredientes comuns como sumo de laranja ou raspas da casca da fruta, alguns licores e especiarias como canela e noz-moscada que são misturados aos ovos batidos com leite ou creme de leite, açúcar e essência de baunilha.