Apesar de ser importante estudar e compreender a questão dos orgasmos múltiplos femininos, esta é ainda muito pouco explorada na literatura científica.
Neste artigo, vamos procurar compreender a sexualidade e o orgasmo feminino, bem como explorar que diferenças existem entre mulheres que experienciam orgasmos múltiplos e mulheres que experienciam apenas um orgasmo, no que à satisfação sexual diz respeito.
A sexualidade feminina
A sexualidade é por todos reconhecida como um aspeto importante ao nível da saúde. Quando vivida de forma satisfatória, contribui para o equilíbrio e para a harmonia individual, bem como potencia uma atitude positiva em relação à vida em geral.
A sexualidade feminina é complexa e multifacetada. Menos centrada nos genitais e mais dependente do afeto, da qualidade da relação, das crenças e dos mitos acerca da sexualidade, ou até mesmo do ambiente envolvente. De facto, são vários os aspetos que representam um importante papel ao nível da sexualidade feminina, nomeadamente:
- aspetos de natureza médica, incluindo o historial de doenças, uso de medicação e alguns problemas ginecológicos;
- o historial obstétrico, nomeadamente o tipo de parto, a vivência de depressão pós-parto e a experiência de aborto prévio;
- comorbilidade com determinadas patologias, particularmente com as perturbações do humor e ansiedade (níveis mais elevados de bem-estar têm demonstrado estar associados a melhores índices de funcionamento e satisfação sexual);
- variáveis cognitivas, como as fantasias sexuais ou a existência de preocupações durante a atividade sexual.
O orgasmo feminino
Ao longo dos tempos, o orgasmo feminino tem sido bastante estudado, através de várias e diferentes perspetivas. Todavia, não existe ainda consenso em relação à sua definição e ao seu propósito. O que sabemos é que o orgasmo é uma resposta final à excitação e que a forma de lá chegar pode ser diferente, ou seja, diferentes formas de estimulação permitem que o orgasmo feminino seja atingido.
A ideia de que o orgasmo teria apenas uma função reprodutiva está hoje ultrapassada e os estudos acerca deste estado de auge sexual têm-se focado sobretudo nos aspetos psicológicos e relacionais. Como exemplo, alguns dos fatores que parecem influenciar o orgasmo durante a relação sexual são:
- fatores pessoais, como a ansiedade e o desejo sexual sentido;aA imagem corporal e a autoimagem (mulheres mais satisfeitas com a sua imagem corporal reportam maior atividade sexual, mais experiências de orgasmo e maior iniciativa sexual).
Orgasmos múltiplos: acontecem para todas as mulheres?
Se o orgasmo feminino carece de maior estudo, os orgasmos múltiplos femininos são um fenómeno ainda menos explorado. Dizem respeito à capacidade das mulheres atingirem orgasmos repetidos separados por um curto intervalo de tempo, na medida em que estas não estão sujeitas ao período refratário, tal como acontece nos homens.
Já alguns estudos se debruçaram acerca da proporção de mulheres com orgasmos múltiplos. Se alguns deles referem que 14% das mulheres da amostra experienciavam regularmente orgasmos múltiplos, outros estudos apontam para uma proporção maior de mulheres com capacidade para atingir estes vários orgasmos. Aparentemente, praticamente todas as mulheres têm o potencial para ter orgasmos múltiplos, dado que, apesar de incomuns, não requerem a existência de qualquer condição especial da mulher, no entanto, continuam a não ser um fenómeno vivido por todas as mulheres.
De acordo com os resultados destes estudos, as mulheres que têm orgasmos múltiplos exploram de forma mais significativa a atividade sexual, estão fisiologicamente mais satisfeitas com as relações sexuais e apontam como relevante o papel do parceiro. Por outro lado, ao nível dos pensamentos automáticos, mulheres que experienciam um único orgasmo parecem manifestar mais pensamentos de desistência ou passividade e escassez de pensamentos eróticos.
Como conclusão…
Importa referir que apesar de, por vezes, persistir a ideia de que é fácil e comum atingir o orgasmo, na verdade, são muitas mulheres que mostram dificuldades neste campo. Se algumas estatísticas são mais animadoras, outras mostram que cerca de 10% das mulheres não consegue atingir o orgasmo.
Acima de tudo, é importante que as mulheres se conheçam a si mesmas e ao seu corpo e que aceitem que a resposta sexual pode sofrer alterações ao longo da vida, conforme a idade, a maturidade e de acordo com diversas circunstâncias de vida (por exemplo, gravidez e pós parto).
Quanto aos orgasmos múltiplos, parecem não ser assim tão comuns e, mesmo a mulher que os consegue atingir, pode não ter sempre essa capacidade. Acredita-se que algumas mulheres possam ter maior predisposição para os atingir do que outras (por um aumento de excitabilidade ou por razões físicas).