O óleo de coco tem sido apontado como um superalimento, um pouco por todo o mundo. No entanto, este facto deveu-se maioritariamente a um estudo que sugeria a suplementação do óleo de coco na ajuda de perda de peso. No entanto, faltou enquadrar devidamente as características do óleo de coco estudado em comparação ao que é comercializado.
De utilização centenária em várias regiões tropicais e subtropicais, a histeria associada ao óleo de coco pode ser rastreada até um único estudo de 2003.
Nele, os investigadores sugerem que a suplementação da alimentação diária com este óleo ajudava na perda de peso. Não é de estranhar que a população geral tenha parado de ler logo ali.
No entanto, a ideia não é assim tão linear, como explicado por uma das autoras, visto que o papel no peso se devia não ao óleo de coco, mas ao seu conteúdo em ácidos gordos de cadeia média (MCT).
O que faltou reiterar foi que o estudo foi realizado com um óleo de coco “design”, no qual o conteúdo em ácidos gordos de cadeia média era de 100%, em contraste com os 13 – 15% presentes nas formulações comerciais. Embora a autora tenha referido que os resultados nunca poderiam ser transponíveis para os produtos do mercado, o mal já estava feito e a febre do óleo de coco já estava disseminada.
Óleo de coco: propriedades
Este tipo de óleo tem estado associado a vários benefícios que incluem a promoção da perda de peso, da saúde cardiovascular, aumento da imunidade, cicatrização e higiene oral entre outros.
Na verdade, cada 100 g de óleo de coco contem 82.4 g de ácidos gordos saturados, ou seja, mais de 80% de gordura saturada, mais do que a manteiga e a banha.
Uma vez que os ácidos gordos de cadeia média apresentam vários benefícios para a saúde, maioritariamente devido ao facto de não necessitarem da ação da lípase pancreática para ser digeridos, os investigadores descrevem frequentemente o óleo de coco como uma excelente fonte deste tipo de gorduras.
Na verdade, este óleo é composto pelos seguintes ácidos gordos de cadeia média: ácido láurico (≈ 51%), ácido caprílico (≈ 8%) e ácido cáprico (≈ 6%).
No entanto, o ácido láurico comporta-se mais como um triglicerídeo de cadeia longa em termos de solubilidade e baixa absorção intestinal. Ou seja, o óleo de coco não pode ser considerado um composto rico em ácidos gordos de cadeia média como é globalmente referido.
Para além disso, e sendo extremamente rico em gordura saturada com referido acima, várias entidades de saúde têm uma posição cética relativamente à sua utilização e benefícios para a saúde.
Uma vez que está descrito que o consumo de gordura saturada pode ter impacto nos fatores de risco cardiovascular, nomeadamente na subida dos valores séricos de colesterol LDL, a American Heart Association (AHA) desencoraja a utilização de óleo de coco para além das recomendações diárias de consumo de gorduras saturadas, ou seja, menos de 10% do total calórico diário.
O corpo de estudos utilizados para estabelecer os benefícios do óleo de coco é maioritariamente baseado em estudos observacionais com metodologia duvidosa e, embora o seu papel na saúde cardiovascular seja intrigante, tem ainda que ser bem definido.
Óleo de coco: efeito no metabolismo do colesterol e doença cardiovascular
O efeito dos macronutrientes nos níveis sanguíneos de mau colesterol é já reconhecido, sendo uma componente importante da patogénese da doença cardiovascular e da aterosclerose. No entanto, diferentes ácidos gordos têm diferentes efeitos nos níveis de colesterol.
Quando comparado com misturas de hidratos de carbono, os ácidos láurico, mirístico e palmítico aumentam os níveis de colesterol total, bom (HDL) e mau (LDL) colesterol e reduzem os níveis de triglicerídeos. Uma vez que as gorduras alimentares consistem numa mistura de vários ácidos gordos, o efeito nas gorduras do sangue não é assim tão linear.
A verdade é que, embora frequentemente apontado como forma de melhorar os níveis de colesterol HDL devido á suposta riqueza em ácidos gordos de cadeia média, os resultados dos estudos não são suficientes para apontar recomendações específicas de ingestão de óleo de coco quando comparado com outras gorduras vegetais como o azeite.
Para além disso, o consumo indiscriminado de óleo de coco pode elevar os níveis de colesterol LDL e triglicerídeos de forma semelhante a alimentos ricos em ácidos gordos de cadeia curta.
Óleo de coco: efeito na perda de peso
Os ácidos gordos de cadeia média comerciais têm sido apontados como potenciadores da perda de peso uma vez que, diferentemente dos ácidos gordos de cadeia longa, a sua absorção hepática é direta, contribuindo numa lipemia pós-prandial muito menos marcada, o que resulta numa menor deposição de gordura nas reservas. Para além disso, o rápido metabolismo e cetose consequente pode resultar em saciedade precoce.
Independentemente das teorias propostas, o mecanismo exato está ainda por definir, havendo estudos que associam o óleo de coco à perda de peso e outros que não, sendo necessárias intervenções a curto e a longo prazo para definir o impacto deste produto na composição corporal.
Efeito na saúde oral
O oil pulling é uma técnica de desintoxicação oral que consiste na utilização de 10 a 15 mL de óleo vegetal durante 10 minutos, uma prática que parece ter efeito na prevenção de caries, gengivite e formação de placa.
Embora a eficácia desta prática esteja ainda por definir, acredita-se que o bicarbonato da saliva reage com os ácidos gordos do óleo de coco, potenciando o seu efeito antibacteriano, para além de a viscosidade impedir a adesão de bactérias e os antioxidantes aumentarem os processos de desintoxicação. Com efeito, estudos mostram que a eficácia do oil pulling é semelhante à utilização de clorexidina.
No entanto, devido ao risco de aspiração de óleo para a árvore respiratória superior, a prática é desaconselhada pela American Dental Association.
Efeitos nas doenças de pele
A aplicação tópica de óleo de coco virgem pode ter vários benefícios com reparação da barreira cutânea, ação antibacteriana, efeito anti-inflamatório, antioxidante e cicatrizante. Na dermatite atópica, a aplicação deste produto resultou na diminuição da severidade da doença e na colonização por Staphylococcus aureus.
O óleo de coco é mais saudável? Não
Ver o óleo de coco como um alimento funcional é extremamente exagerando e está associado a técnicas de marketing. Os benefícios das formulações comerciais são extrapolados a partir dos estudos com ácidos gordos de cadeia média, num clássico processo de generalização precipitada.
Com efeito, e de acordo com os estudos, o impacto do consumo de óleo de coco no aumento dos níveis de colesterol LDL é semelhante ao de outras gorduras saturadas, caindo por terra o seu efeito na saúde cardiovascular.
Quanto ao efeito no peso, e independentemente do burburinho na comunicação social, o consumo de óleo de coco não é considerado uma estratégia viável para o aumento da saciedade ou para aumentar o gasto energético em repouso.