Os nódulos na tiróide ou bócio nodular, são massas palpáveis na sua maioria esféricas, que surgem no interior desta glândula endócrina.
São mais comuns no sexo feminino (80% dos casos) e a sua prevalência aumenta com a idade.
Uma vez que a tiróide é responsável pela regulação de diversos processos corporais, importa perceber qual é o impacto que estas alterações podem ter.
O que é a tiróide e qual a sua função?
A tiróide é a maior glândula do sistema endócrino, pesa entre 15 a 20 g no adulto e mede aproximadamente 2,5 cm. É uma estrutura com localização anterior e bilateral em relação à cartilagem tiroideia (ou “maçã de Adão”), na zona de junção da laringe e traqueia. Possui dois lobos unidos anteriormente e na zona média pelo istmo, assemelhando-se a uma borboleta.
Produz as hormonas tiroideias T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina) e ainda a calcitonina, responsáveis pela regulação e velocidade dos processos metabólicos essenciais à vida. Estas hormonas desempenham também um papel importante no crescimento e desenvolvimento do organismo, nomeadamente:
- mecanismo de cálcio;
- temperatura corporal;
- frequência cardíaca;
- pressão arterial;
- funcionamento intestinal;
- controlo de peso;
- estados de humor.
Como se avalia a função da tiróide?
A atividade da tiróide é regulada pelas hormonas tiroideias T3 e T4 e outras duas importantes glândulas localizadas no cérebro: a hipófise e o hipotálamo. A hipófise produz TSH (hormona estimulante da tiróide ou tireotrofina) e o hipotálamo produz TRH (hormona libertadora da tireotrofina).
Interação do eixo hipotálamo-hipófise-tiróide
A interação deste eixo busca o equilíbrio hormonal.
- Níveis de T3 e T4 muito baixos: o hipotálamo liberta TRH que estimula a produção e libertação da TSH pela hipófise. Consequentemente os níveis de TSH vão potenciar a produção de T3 e T4 pela tiróide, repondo os valores normais destas hormonas tiroideias.
- Níveis de T3 e T4 muito elevados: o hipotálamo diminui a produção de TRH que inibe também a produção de TSH pela hipófise, havendo menor produção de hormonas tiroideias.
Nódulos na tiróide: o que são?
Os nódulos na tiróide são massas indolores que surgem no pescoço, geralmente benignas. Não existe uma causa específica para o aparecimento de nódulos na tiróide, mas existem fatores que podem desencadear o seu aparecimento, tais como: sexo, idade, a carência de iodo, fatores hereditários, tiroidite (inflamação da tiróide) e a exposição a radiações na infância.
Características dos nódulos da tiróide
Geralmente, o diagnóstico é feito por palpação ou em exame imagiológico de rotina (ecografia). A endocrinologia é uma das especialidades médicas que trata as doenças da tiróide.
Assim, quando surgem nódulos na tiróide, estes podem ser classificados como:
- benignos – são os mais comuns e podem ser quistos, nódulos hiperplásicos (colóides) ou adenomas;
- malignos – menos comuns, representam 5% dos nódulos na tiróide diagnosticados. O grau de malignidade está associado à capacidade de invasão das estruturas adjacentes e pode assumir várias histologias, nomeadamente: carcinoma papilar, carcionoma folicular, carcinoma anaplásico e carcinoma medular.
Quais os sintomas dos nódulos na tiróide?
A maioria das pessoas que apresenta nódulos na tiróide são assintomáticas. No entanto, e caso existam sintomas, estes podem ser decorrentes do mau funcionamento da tiróide (nódulos tóxicos ou hiperfuncionantes) ou quando são muito volumosos. O tratamento precoce faz toda a diferença, e deverá consultar um médico se verificar:
- um nódulo ou inchaço indolor na parte da frente do pescoço;
- saliência no pescoço;
- alterações no peso e humor;
- rouquidão inexplicável que não melhora após algumas semanas;
- dor de garganta sem melhoria;
- dificuldade em engolir ou em respirar.
Como são diagnosticados os nódulos da tiróide?
Exame físico
A palpação da tiróide pelo médico, associada aos sintomas descritos pelo paciente, é sugestiva do tipo de alteração da tiróide. No entanto, estas informações devem ser complementadas com os meios de diagnóstico abordados em seguida.
Análises sanguíneas
Os níveis séricos de T3 e T4 totais e suas fracções livres, assim como os níveis de TSH são atualmente suficientes para detetar alterações no funcionamento da tiróide. Os restantes parâmetros, podem ser pedidos de acordo com o paciente em questão e decididos pelo médico.
As alterações benignas mais comuns detetadas através das análises sanguíneas são:
- Hipertiroidismo (produção excessiva de T3 e T4) – sistema nervoso simpático exarcebado em que os principais sintomas são palpitações, perda de peso, irritabilidade e tiróide aumentada. Doença de Graves ou bócio tóxico é a mais comum, seguida do bócio multinodular tóxico;
- Hipotiroidismo (produção diminuída de T3 e T4) – associada normalmente a uma dieta deficiente em iodo, ou devido à presença de doença auto-imune como a Tiroidite de Hashimoto.
Ecografia
A ecografia (ou ultrassonografia) é um exame de diagnóstico por imagem muito preciso, de baixo custo, indolor e inócuo, pois não utiliza radiação ionizante. Pode ser realizado em qualquer faixa etária, inclusivamente em crianças e grávidas.
Através da interação de ultrassons com o corpo (utilizando a sonda ecográfica), são geradas imagens da área a estudar para que possam ser analisadas pelo médico radiologista.
Este exame tem a duração aproximada de 10 minutos e no caso do estudo da tiróide, não necessita de jejum. São obtidas informações sobre: dimensão do(s) nódulo(s), risco de malignidade (embora não seja um diagnóstico definitivo) e avaliação dos gânglios cervicais.
Citologia com Aspiração por Agulha Fina (CAAF)
A Citologia com Aspiração por Agulha Fina (CAAF), permite a recolha de células do nódulo identificado, para que sejam analisadas ao microscópio (exame anatomopatológico).
Guiada por sonda ecográfica, uma agulha de calibre fino punciona o nódulo e uma amostra de células são aspiradas. É um procedimento relativamente rápido e pouco doloroso. Caso existam vários nódulos, serão puncionados aqueles que sejam mais suspeitos.
A citologia não está indicada em nódulos de dimensões inferiores a 1 cm/ 1,5 cm. Mesmo com um diagnóstico de malignidade, a massa deverá ser analisada em laboratório na sua totalidade após cirurgia.
Em alguns casos, o médico pode ainda decidir recorrer a outros exames, nomeadamente: Tomografia Computorizada (TC) ou Cintigrafia da Tiróide.
Auto-exame da tiróide
O diagnóstico precoce de alterações na tiróide poderá fazer toda a diferença. Assim, o auto-exame assume especial importância, principalmente se existirem fatores genéticos associados. Lembrando que este exame não substitui a avaliação clínica e, por isso, devem também ser realizadas consultas periodicamente.
Para realizar o auto exame deve:
- começar por localizar e sentir a cartilagem tiroideia que sobe e desce quando engole (conhecida como maçã de adão e mais pequena nas mulheres);
- em seguida, deslize os dedos para baixo até sentir a próxima cartilagem saliente;
- por fim, coloque os dedos em ambos os lados e engula. Se sentir alguma proeminência, deve ser avaliada por um médico.
Tenho nódulos na tiróide. Qual é o tratamento?
Caso os nódulos sejam diagnosticados como benignos pela citologia, ou se forem de pequenas dimensões, a recomendação é para que sejam vigiados por ecografia a cada 6-12 meses e, anualmente, seja realizado exame físico pelo médico endocrinologista.
Na patologia benigna a cirurgia pode estar indicada no caso de nódulos múltiplos ou de maiores dimensões associados a dificuldade respiratória ou dismorfia cervical.
Se por outro lado forem diagnosticados como malignos, a cirurgia está indicada para remoção parcial ou total da tiróide e gânglios cervicais se afetados, de acordo com decisão médica.
Conclusão
Os nódulos na tiróide, apesar de maioritariamente benignos, devem ser alvo de avaliação periódica. É importante estar atento e caso verifique oscilações anormais de peso, no apetite, fadiga, palpitações cardíacas ou nervosismo em excesso, deve consultar o seu médico endocrinologista. O diagnóstico precoce resulta em um tratamento com melhores resultados.
- Sociedade Portuguesa de Diabetes e Metabolismo (2020). Cancro da tiróide. Acedido em 18 de Junho de 2020. Disponível em: http://www.spedm.pt/grupo-de-estudo-da-tiroide/cancro-da-tiroide-2/
- Direção-Geral da Saúde (2015). Abordagem Diagnóstica do Nódulo da Tiroide em Idade Pediátrica e no Adulto. Disponível em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0192013-de-26112013-pdf.aspx
- American Thyroide Association (2020). Thyroide Nodules. Acedido a 17 de Junho de 2020. Disponível em: https://www.thyroid.org/thyroid-nodules/
- American Thyroide Association (2020). Thyroide Function Tests. Acedido a 17 de Junho de 2020. Disponível em: https://www.thyroid.org/thyroid-function-tests/
- American Thyroide Association (2020). Thyroide Surgery. Acedido a 18 de Junho de 2020. Disponível em: https://www.thyroid.org/thyroid-surgery/
A não esquecer
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