Nutricionista Rita Lima
Nutricionista Rita Lima
29 Dez, 2016 - 18:12

Necessidades Energéticas na Gravidez : equivalente a comer por dois?

Nutricionista Rita Lima

Leia o nosso artigo e fique a perceber por que é que as verdadeiras necessidades energéticas na gravidez não corresponde a comer por dois!

Necessidades Energéticas na Gravidez : equivalente a comer por dois?
A gravidez acompanha-se de modificações anatómicas e fisiológicas que afetam diferentes funções no organismo, nomeadamente o metabolismo materno, no sentido de promover um adequado desenvolvimento fetal e preparar a mãe para o trabalho de parto, nascimento e lactação. 

Estas modificações são extraordinariamente complexas, influenciando as necessidades energéticas na gravidez.


Necessidades energéticas na grávida

Com efeito, a grávida tem necessidades aumentadas de energia e de nutrientes, estando este aumento dependente do trimestre de gravidez em que se encontra. 

Tal facto deve-se, essencialmente, ao aumento do metabolismo basal inerente a este estado, derivado de um aumento do trabalho cardíaco e respiratório e do crescimento de tecidos maternos e fetais. 

De facto, e relativamente ao valor pré-gravídico, o aumento médio do metabolismo basal durante o primeiro, segundo e terceiro trimestres da gravidez, pode aproximar-se de 4, 7 e 19%, respetivamente, algo que representa um gasto adicional que varia entre 106 e 180 kcal por dia. 

No último trimestre, cerca de metade do aumento das necessidades energéticas pode ser atribuído ao feto (pode gastar cerca de 56 kcal/kg/dia).

Além do aumento do metabolismo, verifica-se também a alteração de algumas vias metabólicas, como acontece no metabolismo lipídico, no sentido de favorecer a acumulação de reservas lipídicas na mãe, nomeadamente na primeira metade da gravidez, e a mobilização de gordura, na segunda parte.
 

Necessidades energéticas nas diferentes fases da gravidez

necessidades energeticas durante a gravidez

Como consequência do aumento do gasto energético basal, as necessidades energéticas na gravidez são superiores às de uma mulher não grávida e vão aumentando com o avançar da gestação até ao terceiro trimestre. 


1. Primeiro trimestre

No caso do primeiro trimestre, o gasto energético total não se altera significativamente. Como tal, e o ganho de peso deverá ser mínimo, não estando recomendado um consumo adicional de energia.

 


2. Segundo e terceiro trimestre 

No caso do segundo e terceiro trimestres, e ainda que a ração energética diária necessária possa variar muito entre mulheres grávidas, preconiza-se a ingestão de cerca de 340 e 450 kcal adicionais, respetivamente, além das 2000 kcal recomendadas diariamente.

Este aumento da ingestão energética corresponde, por exemplo, a fazer mais uma refeição intermédia composta por um pão com 1 fatia de queijo magro, uma peça de fruta e uma chávena de leite meio gordo. Por aqui se percebe por que é que este aumento de necessidades não é sinónimo de comer “por dois”! 

Relativamente ao valor energético total consumido pela grávida, cerca de 45%–65% desse valor deve provir dos hidratos de carbono, 20%–35% de ser proveniente dos lípidos e 10%–25% das proteínas

Além do aumento das necessidades energéticas na gravidez, também as necessidades nutricionais (macro e micronutrientes) estão aumentadas. 

A título de exemplo a necessidade de proteínas aumenta, visto que é este macronutriente é necessário para sintetizar tecidos maternos e fetais, assim como a necessidade de ácido fólico, para assegurar um adequado desenvolvimento do tubo neural do feto.

Os períodos particularmente importantes são os primeiros 2 meses após a conceção, visto que correspondem ao período de formação da maioria dos tecidos e órgãos do feto, existindo elevada vulnerabilidade a efeitos adversos de má alimentação e nutrição. 

A exposição do embrião ou do feto a défices ou excessos nutricionais, em períodos de particular sensibilidade de multiplicação celular, poderá afetar, de forma irreversível, a função e estrutura de tecidos e órgãos para toda a vida. 
 

Ganho de peso materno durante a gravidez

aumento de peso na gravidez

Inerente ao aumento das necessidades energéticas na gravidez está o aumento de peso materno, o qual influencia o peso da criança ao nascer, bem como a sua saúde.

Com efeito, além do tamanho para a idade gestacional, o peso ao nascer é um importante determinante da morbilidade e mortalidade da criança.

É, por isso, importante que o balanço nutricional resultante da alimentação da grávida previna o baixo e o excesso de peso ao nascer, sendo o padrão de aumento de peso um bom indicador da adequação das necessidades energéticas.

Um ganho de peso da grávida aquém das suas necessidades está associado ao aumento do risco de atraso de crescimento intrauterino e mortalidade perinatal, enquanto um elevado ganho de peso está associado a excesso de peso da criança na infância e na idade adulta e, consequentemente, a um maior risco de problemas de saúde.

As recomendações do ganho de peso materno na gravidez do “Institute of Medicine” (1990) dos EUA, são especificadas de acordo com o IMC prégravídico, na medida em que o peso materno pré-gravídico influencia o ganho de peso na gravidez e peso ao nascer.

Para as mulheres normoponderais, o ganho médio de peso no primeiro trimestre é de 1,6 kg, e de 0,44 kg/semana no segundo e terceiro trimestres, o que corresponde a um ganho ponderal total de cerca de 12,5 kg.

Claro que se a grávida apresentar baixo peso antes da gravidez, poderá aumentar até 18 Kg. Por outro lado, se for uma mulher que, à partida, já apresenta excesso de peso ou obesidade, não deverá ganhar mais do que 9-10 Kg.

No caso de uma gravidez de gémeos, o ganho ponderal poderá ascender aos 20,4 kg.


Em suma

Por último, importa referir que além do cumprimento das necessidades energéticas recomendadas na gravidez e do ganho ponderal, é crucial a adoção de um estilo de vida saudável, mesmo antes da gravidez, no sentido de otimizar a saúde da mãe e do bebé e reduzir o risco de complicações durante a gravidez.


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