Psicóloga Ana Graça
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18 Mai, 2023 - 08:40

7 mitos sobre o sono do bebé: descubra-os para dormir melhor

Psicóloga Ana Graça

O sono de uma criança pode ser uma das maiores dores de cabeça dos pais. Desvende os mitos sobre o sono do bebé.

mitos acerca do sono do bebé

A gravidez e os primeiros dois anos de vida do bebé estão repletos de pequenas aventuras diárias. As questões relacionadas com o sono do bebé são das que mais angústias e ansiedade causam. Para ajudar, vamos esclarecer alguns mitos sobre o sono do bebé.

7 mitos sobre o sono do bebé

As dificuldades que pais e mães sentem com o sono dos seus filhos são frequentemente desvalorizadas, o que dá origem a angústias e sentimentos de incapacidade.

Antes de mais, é importante que mães e pais não se sintam sozinhos, que recorram aos seus profissionais de saúde de referência e que procurem rodear-se de informações fidedignas. Para tal, importa combater alguns mitos sobre o sono do bebé que ainda persistem. Eis alguns exemplos:

Mito 1

O número de horas de sono não é importante

A duração do sono do bebé, simultaneamente com a sua continuidade e profundidade, influenciam fortemente a qualidade do sono. O tempo de sono diário recomendado, entre sestas e sono noturno, vai diminuindo à medida que o crescimento acontece (3).

IDADETEMPO RECOMENDADO
0-3 meses14 a 17 horas
4-11 meses12 a 15 horas
1 – 2 anos11 a 14 horas
Mito 2

Durante o dia, o bebé tem de dormir com luz para aprender a distinguir o dia da noite

Cada bebé tem o seu ritmo de sono e, nos primeiros meses é natural que o ritmo de sono-vigília se repita tendo em conta as necessidades de alimentação, ou seja, a cada 3 ou 4 horas.

Até aos 4 meses, a área do cérebro responsável pela regulação deste ritmo ainda não está formada pelo que são, muitas vezes, infrutíferas as tentativas de estabelecer uma rotina. De forma natural e gradual, o bebé irá, ser capaz de distinguir o dia da noite.

Assim, ao longo do tempo, o bebé vai tendo capacidade para estabelecer um ritmo de sono-vigília mais semelhante ao do adulto, fazendo um período mais longo de sono noturno e sestas diurnas de menor duração. Importa, acima de tudo, garantir um ambiente que seja confortável e propício ao sono (5, 6).

Relativamente às luzes de presença, as opiniões dividem-se. O ideal parece ser que estas não sejam necessárias, mas o importante mesmo é que pais e bebés consigam descansar e sentir-se seguros.

Mito 3

Os objetos de transição não têm utilidade

Objetos soltos pelo berço não são aconselhados quando o bebé é ainda muito pequenino, pelo perigo de poderem sufocar o bebé. Todavia, numa fase mais avançada, os objetos de transição – como um peluche ou doudou – podem ser úteis para que as crianças pequenas se sintam mais seguras na hora de adormecer (3).

Mito 4

As sestas não são importantes

A investigação permitiu já definir qual o número de horas de sono adequado a cada faixa etária. É desejável que todas as crianças, nomeadamente os bebés, consigam completar o tempo de sono recomendado para a sua idade. Assim sendo, a privação da sesta e a não realização do total de horas de sono diárias são problemáticas.

Todos os bebés são diferentes. Se para alguns as sestas são habitualmente curtas e mais frequentes, para outros são de maior duração e menos frequentes. O importante é que o bebé durma o número de horas recomendado, tenha um sono reparador e não esteja acordado demasiado tempo seguido (4).

Mito 5

Os bebé não dormem por manha

Os bebés não têm manhas e não dormem melhor se estiverem cansados. Pelo contrário, quanto menos compreendidos forem os sinais de sono que o bebé vai dando, mais este fica exausto e irritável e mais difícil se torna adormecê-lo.  

Os sinais de sono podem ser mais ou menos percetíveis e variar de bebé para bebé. Eis alguns dos mais comuns:

  • Bocejar;
  • Olhar fixo;
  • Maior tempo de resposta;
  • Esfregar os olhos;
  • Coçar as orelhas;
  • Choro, que tende a agravar quanto mais tempo demorar a ser atendido (7).
Mito 6

O ambiente envolvente não faz qualquer diferença

O quarto deve ser sentido pelo bebé como sendo um espaço agradável e seguro. Deve ser calmo, escuro e ter uma temperatura amena (3). Importa que o bebé durma confortável e para que tal aconteça os pais podem optar quer por lençóis, quer por sacos de dormir.

Quanto aos sacos de dormir, importa prestar atenção ao TOG (índice de calor). Os pais devem escolher o saco de dormir tendo em conta a temperatura habitual do quarto do bebé.

Importa também certificar que as roupas com que dorme (desde bodies a pijamas) são confortáveis e adequadas à temperatura ambiente. A música adequada também pode ser uma boa ajuda na hora de adormecer o bebé.

Mito 7

A qualidade de sono dos pais não é importante

Mães e pais felizes e saudáveis, fazem os seus bebés mais felizes e saudáveis. Naturalmente, os mais pequeninos são a principal prioridade, mas importa que os adultos se rodeiem de tudo o que os faça sentir mais seguros e serenos. Os profissionais de saúde certos são importantes, as informações fidedignas são indispensáveis e todas as ferramentas que possam ajudar devem ser tidas em conta.

Os intercomunicadores podem ser uma excelente ajuda na tranquilização de pais e mães. Permitem que estes supervisionem o bebé, falem para eles à distância, emitam canções de embalar para sossegar o bebé, entre outras funcionalidades possíveis.

bebé a dormir tranquilamente

Compreender o sono do bebé

O sono ocupa um terço das nossas vidas e desempenha funções de grande importância tais como:

  • Permitir a manutenção equilibrada do sistema nervoso central;
  • Permitir restaurar o sistema imunitário e as capacidades mentais;
  • Recuperar a energia gasta durante o período de vigília;
  • Regular a irritabilidade resultante do excesso de tempo em vigília.

O sono do bebé acrescenta às funções acima referidas outras muito importantes, tais como ser promotor da elaboração de sistemas de autorregulação essenciais para o seu desenvolvimento emocional, contribuir para a modulação da relação precoce entre os pais e o bebé e contribuir para um adequado crescimento físico e emocional.

O desenvolvimento dos estados de sono e vigília têm o seu início ainda durante a gravidez e prolongam-se no período após o nascimento. Nos lactentes e bebés mais pequeninos esta distinção não está ainda completa. É com o desenvolvimento que vão surgindo níveis progressivos de sono mais profundo.

Ao longo do desenvolvimento, são notórias alterações frequentes nos padrões de sono. Sobretudo em recém-nascidos, a alternância entre sono e vigília assume um carácter pouco estável, com horários incertos. Comummente, o bebé apenas assume um padrão de sono estável a partir do primeiro ano de vida (1).

E quando nem tudo corre bem?

Como vimos acima, apenas após os 12 meses do bebé é expectável que este tenha um padrão de sono mais estável. Todavia, todos os bebés são únicos e diferentes entre si, pelo que os 12 meses servem apenas como referência.

Independentemente de todas as referências e conselhos, as alterações frequentes do padrão de sono, os despertares constantes e o choro noturno tendem a diminuir a qualidade de sono dos pais, a causar frustração e stress e a diminuir o bem-estar geral de pais e mães que, para além do cuidado ao bebé, precisam manter outras atividades familiares, profissionais e pessoais (2).

Assim sendo, e porque nem sempre tudo corre bem, importa que pais e mães estejam consciencializados acerca da dimensão e da importância do sono do bebé e do seu próprio sono e que não permitam que crenças não fundamentadas causem maior confusão e insegurança.

Fontes

  1. Rico, A. (2015). O Sono e o Temperamento do Bebé – estudo Exploratório. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/31812/1/TESE%20MIP%20-%20Ana%20Rita%20Rico.pdf
  2. Martins, A., Carvalho, L., Pereira, Al. (2019). A qualidade do sono em pais de recém-nascidos. Disponível em: https://repositorio.ipcb.pt/bitstream/10400.11/6759/1/02_qualidade%20do%20sono_A.pdf
  3. Associação Portuguesa do Sono e Sociedade Portuguesa de Pediatria. Higiene do sono da criança e adolescente. Disponível em: http://criancaefamilia.spp.pt/media/124389/HIGIENE%20SONO%20CRIANcA%20ADOLESCENTE.pdf
  4. Sociedade Portuguesa de Pediatria. (2017). Recomendações SPS-SPP: prática da sesta da criança nas creches e infantários, públicos ou privados. Disponível em: https://www.spp.pt/UserFiles/file/Noticias_2017/VERSAO%20PROFISSIONAIS%20DE%20SAUDE_RECOMENDACOES%20SPS-SPP%20SESTA%20NA%20CRIANCA.pdf
  5. Pereira, N. (2019). Qual o impacto do sono do bebé nos pais? CUF. Disponível em: https://www.cuf.pt/mais-saude/qual-o-impacto-do-sono-do-bebe-nos-pais
  6. Neves, A. (2018). Fazer várias sestas pode não ser assim tão bom para algumas crianças. Crescer Contigo. Disponível em: https://www.crescercontigo.pt/fazer-varias-sestas-pode-nao-ser-assim-tao-bom-algumas-criancas/
  7. Pereira, M. Chegou a hora de dormir – Dicas para um melhor sono do bebé. HOSPITAL DE SANTA MARIA. Disponível em: https://www.hsmporto.pt/dicas/chegou-a-hora-de-dormir/

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