Nutricionista Rita Lima
Nutricionista Rita Lima
10 Mai, 2019 - 16:22

Mitos da agricultura biológica: uma nova tendência alimentar

Nutricionista Rita Lima

Os alimentos biológicos são uma tendência emergente. No entanto, e antes de fazer a sua escolha, descubra alguns mitos da agricultura biológica.

Mitos da agricultura biológica: uma nova tendência alimentar

A procura por alimentos biológicos é, sem dúvida, uma das tendências da sociedade atual. Seja por questões de saúde ou ambientais, a verdade é que a procura por alimentos mais naturais é agora recorrente para um número crescente de pessoas, mas antes de fazer qualquer tipo de escolha, importa desmistificar alguns mitos da agricultura biológica.

Mitos da agricultura biológica: alimentos biológicos

mitos da agricultura biologica alimentos bio

Durante muito tempo, a agricultura foi praticada sem o uso de produtos químicos artificiais. Na realidade, os fertilizantes artificiais apenas foram criados em meados do século XIX e logo se começaram a aplicar novas técnicas agrícolas que, apesar de benéficas a curto prazo, tiveram efeitos colaterais a longo prazo no meio ambiente.

Neste contexto, surgiu a necessidade de procurar soluções alternativas, idealmente com menor impacto ambiental, tendo surgido a agricultura biológica.

A agricultura biológica pode definir-se como um sistema agrícola alternativo que surgiu no início do século XX, que proíbe a utilização de fertilizantes e pesticidas sintéticos, baseando-se apenas em produtos de origem orgânica, que ocorrem naturalmente, com objetivo de produzir alimentos mais saudáveis.

Neste tipo de agricultura, os organismos geneticamente modificados, reguladores de crescimento de plantas, hormonas e uso de antibióticos na pecuária são proibidos.

Neste modelo de agricultura são promovidas técnicas como a rotação de culturas e o plantio de espécies sinérgicas para diminuir o impacto ambiental.

Mitos da agricultura biológica

Apesar de todas as vantagens e benefícios que os alimentos biológicos podem trazer, existem alguns mitos da agricultura biológica ou aspetos desconhecidos que importa esclarecer, no sentido de poder fazer uma escolha mais informada sobre estes alimentos.

1. A agricultura biológica não usa pesticidas

mitos da agricultura biologica pesticidas

Este será uma das principais crenças que envolve os alimentos biológicos. Os alimentos biológicos supostamente não estarão contaminados com pesticidas que provocam doenças.

Um pesticida é um composto que se destina a matar um organismo, seja de origem natural ou química.

Neste contexto, é importante referir que bactérias, fungos, plantas, insetos e animais produzem constantemente pesticidas naturais para matar outras espécies.

A título de exemplo, bactérias e fungos produzem antibióticos naturais para matar outras bactérias, enquanto as plantas produzem pesticidas, como a cafeína e a nicotina, para matar insetos que se alimentam delas.

Por isso, quando come plantas, está, naturalmente a consumir pesticidas produzidos pelas próprias plantas, que representam cerca de 99.9% dos pesticidas que ingerimos .

Depois, também ao contrário do que se pensa, a agricultura biológica utiliza vários pesticidas, incluindo de origem sintética, os quais estão autorizados na ausência de soluções naturais.

2. Os pesticidas naturais são menos tóxicos do que os sintéticos

mitos da agricultura biologica toxicidade alimentos

Outro ponto ainda mais importante do que a origem dos pesticidas é a sua toxicidade. Por defeito, presume-se que os pesticidas que ocorrem naturalmente são menos nocivos para a saúde. Mas na realidade, alguns pesticidas naturais demonstraram ser muito mais tóxicos e nocivos para a saúde e o ambiente do que os sintéticos.

Ou seja, tanto os pesticidas orgânicos como convencionais são tóxicos a partir de uma determinada dose. Não é o facto de ser natural que torna o pesticida seguro.

E na agricultura biológica, a utilização de pesticidas poderá ser necessária numa quantidade superior à agricultura convencional, pois os pesticidas orgânicos tendem a ser menos eficazes na eliminação de pragas e porque os produtos orgânicos parecem ser mais propensos à contaminação bacteriana, em parte devido ao uso de estrume ao invés de fertilizantes artificiais, já que muitas bactérias são disseminadas por contaminação fecal.

3. Os alimentos biológicos são mais seguros do que os tradicionais

mitos da agricultura biologica alimentos biologicos

No que diz respeito à segurança do alimento, deve atentar na análise objetiva das quantidades/doses de pesticidas presentes, sejam eles produzidos pela agricultura convencional ou biológica.

Todos os pesticidas utilizados por ambos os métodos agrícolas deviam ser sujeitos a controlo anual. No entanto, esse controlo é muito mais apertado nesse aspeto, na agricultura convencional.

Neste sentido, as alegações de que os alimentos orgânicos são mais seguros do ponto de vista alimentar do que os alimentos convencionais , ainda não foram apoiadas por evidência científica definitiva.

4. Os alimentos biológicos são mais saudáveis

mitos da agricultura biologica tomates biologicos

Outro dos factos que surge quando se fala de alimentos biológicos, é que estes são mais saudáveis do que os convencionais, visto que como se desenvolvem de forma mais natural, as suas propriedades nutricionais ficam potenciadas.

No entanto, já vários estudos foram feitos para comprovar esta questão e os resultados foram praticamente os mesmos: pode haver algumas diferenças nutricionais entre os alimentos biológicos e convencionais, em particular a nível do teor de antioxidantes, mas essas diferenças não parecem ser significativas nem ter impacto relevante na saúde.

Sobre o perfil nutricional dos alimentos, também convém salientar que as diferenças nutricionais variam de acordo com vários fatores, nomeadamente fatores regionais locais, estações do ano e precipitação, estado de maturação no momento da colheita e época da mesma, sendo que esta variação pode ir de 100% a 200%.

5. Os alimentos biológicos têm um sabor mais agradável

mitos da agricultura biologica maca biologica

Relativamente a esta questão do sabor dos alimentos biológicos, é sempre um tema bastante subjetivo, visto tratar-se de uma questão sensorial.

No entanto, sabe-se que o sabor dos alimentos parece ser mais influenciado pelo cérebro do que pelo alimento em si. Se as expectativas forem altas relativamente ao alimento, irá dar a impressão de que é mais saboroso.

Com efeito, perante a aplicação de testes cegos, a maioria das pessoas não consegue distinguir se está a consumir alimentos convencionais ou biológicos.

Na verdade, não parecem existir diferenças estatisticamente significativas entre as propriedades sensoriais de frutas e hortaliças orgânicas e convencionais.

6. Os alimentos biológicos têm menor impacto ambiental

mitos da agricultura biologica trator na terra

Apesar de à primeira impressão fazer sentido, a realidade é que os alimentos biológicos requerem 25% a 110% a mais de uso da terra, apesar de usarem menos 15% energia do que os sistemas convencionais por unidade de alimento.

Além disso, sistemas orgânicos e convencionais não diferiram significativamente nas suas emissões de gases de efeito estufa ou potencial de acidificação.

Relativamente ao efeito de estufa, os resultados variam dependendo do tipo de alimento (menor para as leguminosas e fruta e maior para os produtos de origem animal), embora a maioria seja equivalente entre culturas biológicas e convencionais.

Concluindo…

Apesar de os alimentos biológicos apresentarem pontos positivos, é importante esclarecer que nem todo o marketing que os envolve é verdadeiro e por isso é importante estarmos atentos aos mitos da agricultura biológica.

Na realidade, estes alimentos também contêm pesticidas naturais, os quais podem ser mais prejudiciais à saúde do que os sintéticos.

A sua preocupação principal deverá ser com as doses de pesticidas existentes e não com a sua origem.

Também podemos concluir que não existe uma clara vantagem em termos nutricionais e sensoriais relativamente a alimentos convencionais e mesmo a nível do impacto ambiental, a diferença também não se faz sentir de forma relevante.

Veja também:

Artigos Relacionados