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A menstruação adiantada e as demais hemorragias uterinas anormais, correspondem a 1/3 das queixas que mais motivam a consulta ao médico de família e ao ginecologista, segundo a Federação das Sociedades Portuguesas de Ginecologia e Obstetrícia.
Esta hemorragia uterina anormal pode ter origem disfuncional ( ovulatória ou anovulatória) ou ser causada por doença orgânica de natureza sistêmica ou ginecológica (1).
Menstruação adiantada: o ciclo menstrual
O ciclo menstrual começa no primeiro dia da menstruação, sendo que o número de dias do ciclo menstrual conta-se do primeiro dia de menstruação até ao dia que antecede a próxima menstruação. É regido pelo eixo hipotálmo – hipófise /ovários – e dividido por fases (2).
O ciclo menstrual, na maioria das mulheres, é caracterizado por uma ovulação regular e uma sequência ordenada de sinais endócrinos que se traduzem na previsibilidade, regularidade e consistência das menstruações. Quando isso não ocorre, podemos estar diante de uma menstruação adiantada (3).
Os estudos sobre o padrão da menstruação costumam considerar três características do ciclo menstrual: periodicidade, intensidade e duração.
A periodicidade corresponde ao intervalo de tempo entre os sangramentos (geralmente descrito como em torno de 24-35 dias); a intensidade equivale à quantidade de sangue eliminada durante a menstruação (geralmente considerada como de 30-80ml); e a duração é o número de dias em que se dão as perdas sanguíneas (geralmente variando de dois a sete dias) (4).
Como saber se tem a menstruação adiantada?
Menstruação adiantada ou polimenorréia, refere-se a ciclo ovulatório com menos de 24 dias de intervalo e é geralmente devida a um encurtamento da fase folicular, embora possa também ocorrer uma diminuição da fase lútea ou de ambas.
A temperatura basal identificará com precisão estas alterações. É aquela que, durante 6 meses, pelo menos uma vez, veio num intervalo de tempo inferior a três semanas entre uma menstruação e outra (4).
Quais as causas da menstruação adiantada?
A hemorragia uterina anormal, incluindo a menstruação adiantada, deve-se a causas orgânicas (perda ou ganho de peso, stress, atividade física intensa, entre outras) em aproximadamente 25% das mulheres e a anormalidade funcional do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano (hemorragia uterina disfuncional) no restante.
A idade é o fator mais importante: as causas orgânicas, incluindo neoplasias ginecológicas, tornam-se mais comuns com o avanço da idade, enquanto que na puberdade, o sangramento uterino anormal é geralmente disfuncional (endócrino).
Causas da anovulação
São causas de anovulação ou menstruação adiantada:
- Hiperandrogenismo (SOP, hiperplasia congénita da supra-renal, tumores produtores de androgénios)
- Hipotiroidismo
- Hiperprolactinemia
- Obesidade
- Disfunção hipotalâmica (anorexia)
- Doença hipofisária primária
- Falência ovárica prematura
- Excesso de exercício físico
- Iatrogenia (radiação e quimioterapia) e fármacos (hormonoterapia, antidepressivos com impacto no metabolismo da dopamina)
Também se incluem nesta categoria as hemorragias associadas a ciclos ovulatórios. Nestas, a função do eixo hipotálamo-hipófise-gónadas está intacta e os níveis hormonais são normais, ocorrendo hemorragia, provavelmente por síntese anormal ou excesso de regulação dos recetores de progesterona.
Causas da hemorragia uterina anormal
Como causas da hemorragia uterina anormal, deve-se sempre investigar (6):
- Possibilidade de gravidez
- Contracepção: a contracepção hormonal (regularidade no uso, tempo de uso), DIU
- Dor abdominal inferior ou aumento da dor menstrual
- Risco de doenças sexualmente transmissíveis (DST)
- Uso de medicação (incluindo anticoagulantes, tamoxifeno, misoprostol, corticosteróides )
- Sensações de calor repentino
- Início dos sintomas após cesariana
- Formação fácil de nódoas negras, sangramentos duradouros das feridas, alterações da coagulação familiares
- Sangramento pós relação sexual
Os quadros de irregularidade menstrual relacionados ao estresse ou a problemas na esfera psíquica, embora dependentes do mesmo mecanismo fisiopatológico, variam em sua intensidade, assumindo diferentes formas clínicas. As manifestações mais frequentes referem-se a insuficiência lútea, anovulação crônica e amenorréia.
De entre as mulheres de maior risco para a menstruação adiantada ou amenorreia temos: as de baixo peso ou obesas; em atividade física intensa ou atletas; quadros de esterilidade sem causa aparente e hiperprolactinemia; alteração hormonal que ocasiona a produção de leite, fora do período da amamentação (5).
Quando deve consultar um médico?
Sempre que houver alteração no período menstrual ou outro sintoma ginecológico, o médico deve ser consultado. A história clínica e o exame físico completos são valiosos tanto na investigação da hemorragia uterina anormal, como da menstruação adiantada.
Os métodos diagnósticos complementares incluem a curva de temperatura basal, a biopsia endometrial e a dosagem de progesterona. A identificação de eventos stressantes ou de distúrbios psíquicos deve ser cuidadosamente avaliada.
Tratamento a menstruação adiantada
Por serem variáveis biológicas do ciclo menstrual normal, sem maiores consequências clínicas, estas necessitam apenas esclarecimento.
Pode-se registar a sua curva de temperatura basal durante um ciclo completo. Se, entretanto, os ciclos forem muito curtos, a ponto de incomodar a paciente, ou a perda sanguínea for abundante ou prolongada, justifica-se um tratamento hormonal (4).