O mel é amplamente utilizado quer pelas suas propriedades adoçantes, quer como agente anti-inflamatório, antioxidante e antibacteriano e, embora muitos dos benefícios que lhe são atribuídos sejam verdadeiramente questionáveis – cicatrização de feridas e fertilidade humana –, a verdade é que o mel parece ajudar não no tratamento das infeções respiratórias, mas sim num dos seus sintomas, nomeadamente da tosse.
Os principais componentes nutricionais do mel – e razão para o seu potencial adoçante – são os hidratos de carbono na forma de monossacarídeos (frutose e glicose) e dissacarídeos (maltose, isomaltose, maltulose, sacarose e turanose).
Podem ainda ser encontrados vestígios de enzimas como a amílase, a peróxido oxidase, a catálase e a fosforilase, o que explica o uso deste alimento como agente terapêutico. Para além disso, o mel contém ainda aminoácidos livres, minerais, ferro, zinco e antioxidantes.
Mel e infeções respiratórias: que evidência existe?
Enquanto sintoma de doença, a tosse aguda é uma das principais queixas médicas, sendo bastante comum em crianças e frequentemente associada a outras causas patológicas. A sua origem depende muito da idade, bem como das condições meteorológicas e ambientais.
Independentemente disso, uma das principais causas de tosse são as infeções do trato respiratório superior, que afetam não só a qualidade de vida das crianças, mas também dos pais. Surpreendentemente, alguns dos fármacos disponíveis para o tratamento da tosse não são eficazes e podem ter efeitos secundários.
O volume de trabalhos que estudam o efeito do consumo de mel para a tosse aguda tem vindo a crescer e os seus resultados estão em concordância com as recomendações da Organização Mundial de Saúde em 2001.
De acordo com estes trabalhos, uma toma única de mel parece reduzir a inflamação da mucosa, diminuir a formação de muco e o número de episódios de tosse não só em crianças mas também em adultos.
Estes achados estão provavelmente associados aos seus efeitos antioxidantes e à sua capacidade para promover a libertação de citocinas com propriedades antimicrobianas. Comparemos, então, os efeitos do mel e de outros medicamentos de venda livre no tratamento da tosse.
Mel vs dextrometorfano
O dextrometorfano é um medicamento antitússico de venda livre. Em 2 estudos, ambos abordando a frequência e severidade da tosse, o mel não se revelou significativamente melhor do que o dextrometorfano na melhoria dos sintomas de tosse.
Mel vs difenidramina
A difenidramina é um anti-histamínico frequentemente utilizado no tratamento da tosse. Em 4 estudos analisados, o mel revelou-se significativamente superior à difenidramina na melhoria dos sintomas das infeções do trato respiratório superior, que incluíam frequência e severidade da tosse.
Mel e infeções respiratórias: quais são as limitações dos estudos?
O corpo de estudos existente mostra que o mel pode efetivamente melhorar os sintomas das infeções do trato respiratório superior, principalmente a severidade e frequência dos episódios.
Ao contrário dos antibióticos, o mel não apresenta efeitos secundários adversos e o seu consumo é seguro para a maioria da população acima dos 12 meses de idade.
No entanto, existem algumas limitações aos estudos realizados até ao momento, principalmente em indivíduos adultos. Um deles diz respeito à elevada variabilidade de diferentes intervenções utilizadas.
Grande parte dos estudos das meta-análises avaliam o efeito do mel puro, mas outros utilizaram formulações homeopáticas e mel combinado com leite e café, fazendo com que seja mais difícil estimar quanto desse efeito é devido ao mel e quanto é devido a qualquer um dos outros ingredientes.
De qualquer forma, e uma vez que os anti-histamínicos e outros fármacos não parecem ter efeitos significativos no tratamento da tosse aguda, o mel parece ser uma alternativa segura, em especial para as crianças. O efeito terapêutico do mel é conseguido em doses de 2,5 mL antes de deitar, para crianças.
Pode, todavia, haver risco de contaminação do produto com Clostridium botulinum pelo que esta recomendação apenas se aplica a crianças com mais de 1 ano de idade. Outros possíveis efeitos como insónia e hiperatividade devem ser mencionados aquando da recomendação.