Share the post "Macroalgas: o que são e quais as principais implicações do seu consumo"
Seguramente que já ouviu falar das algas como alimento e é possível que até já tenha tido a curiosidade em experimentar. A verdade é que as algas são alimentos muito utilizados na alimentação oriental e que, atualmente, começam a ganhar destaque na alimentação ocidental. O termo “algas” engloba as macroalgas, organismos complexos multicelulares, e as microalgas, um grupo altamente diversificado de microrganismos unicelulares.
As algas, apesar de não serem plantas terrestres, são um grupo muito variado de organismos que recorrem, em regra, à fotossíntese para obtenção de energia.
Macroalgas vs Microalgas
As microalgas são seres de tamanho microscópico que crescem em condições diversas, e não apenas em ambiente marinho, como acontece com as macroalgas.
Outra grande diferença é que as macroalgas são seres multicelulares complexos, visíveis a olho nu, enquanto as microalgas são seres unicelulares, dos quais existem vários grupos taxonómicos, como as diatomáceas (eucariontes – células com núcleo) ou as cianobactérias (procariontes – células sem núcleo), apresentando uma grande diversidade de cores e aparências.
No caso das macroalgas, são classificadas de acordo com a sua pigmentação em: Algas verdes (Chlorophyta), Algas vermelhas (Rhodophyta) e Algas castanhas (Ochrophyta, Phaeophyceae).
Que tipos de macroalgas existem e em que consistem?
As macroalgas podem chegar ao consumidor final por duas vias: ser cultivadas ou colhidas diretamente do ambiente selvagem, como acontece no sushi.
Alguns exemplos de algas marinhas utilizadas para consumo direto pela população são: Ulva rigida (Alface do mar), Laminaria digitata (Kombu), Undaria pinnatifida (Wakame), Fucus vesiculosus (Fava-do-mar), Porphyra umbilicalis (Nori) e Palmaria palmata (Dulse).
1. Algas Vermelhas (Erva Patinha e Dulse)
No que diz respeito às algas vermelhas, em Portugal, encontram-se em praias rochosas, junto da zona superior da costa.
A Erva Patinha é uma espécie resiliente e adaptável às condições atmosféricas. Pode ser utilizada na indústria cosmética e as suas lâminas podem ser utilizadas em substituição de alga Nori, importada da Ásia.
Já a alga Dulse pode ser consumida crua, sendo utilizada em sopas, caldos, pratos de peixe e como condimento. É também aplicada na indústria farmacêutica, cosmética, alimentação animal e como fertilizante agrícola.
2. Algas Castanhas (Kombu e Wakame)
Quanto às algas castanhas podem atingir cerca de 3m de altura.
Relativamente ao Wakame é uma espécie exótica maioritariamente utilizada na alimentação humana (p.ex.: sopa, condimentos, saladas).
Já a alga Kombu para além do consumo alimentar direto, é utilizada para a extração de alginato, manitol e iodo.
3. Algas Verdes (Alface do Mar)
Em Portugal, é comum encontrar esta alga em águas rasas, entre marés. É uma espécie anual, mas mais comum nos meses de verão.
É uma espécie oportunista e de rápido crescimento, sendo um indicador de contaminantes, de origem inorgânica. Em águas muito poluídas pode criar “marés verdes” devido ao aumento dos níveis de nutrientes.
Pode ser utilizada na alimentação humana, animal e como fertilizante agrícola.
Composição nutricional das macroalgas
À semelhança das microalgas, as macroalgas têm despertado interesse na comunidade científica e na sociedade devido ao seu potencial nutricional e industrial.
Micronutrientes
De uma forma transversal, as macroalgas são ricas em vitaminas (complexo B, vitaminas C e E), minerais (em particular cálcio, iodo, potássio e magnésio)
Neste contexto, importa salientar que, as algas são uma fonte vegetal importante para fornecer micronutrientes a indivíduos que seguem uma alimentação vegetariana, nomeadamente vitamina B12, iodo e ferro.
Recomenda-se, no entanto, atenção redobrada quanto ao iodo e ao sódio, visto que um consumo excessivo pode interferir com a glândula da tiroide e potenciar doenças cardiovasculares.
Além disso, as algas possuem também fitoquímicos, como os flavonóides, os ácidos fenólicos e os carotenoides, nomeadamente o β-caroteno, com potencial biológico muito relevante para a saúde.
Macronutrientes
Em termos de macronutrientes, a percentagem de hidratos de carbono varia entre 44 e 66%, a proteína entre 8 e 42 e a gordura entre 0,3 e 10%. Dentro da gordura, apresentam um teor moderado a elevado de ácidos gordos polinsaturados, nomeadamente ómega-3 e ómega-6.
O elevado teor de fibra (solúvel) torna as macroalgas um aliado na perda de peso, pois promove uma maior sensação de saciedade. Além disso, a fibra desempenha um papel de relevo na saúde, nomeadamente através da diminuição do risco de diabetes, de cancro do cólon e de doenças cardiovasculares. Deste modo, é fundamental perceber o real impacto da fibra proveniente das algas e o microbiota intestinal.
O perfil de aminoácidos das algas varia entre si. As macroalgas vermelhas apresentam menores quantidades de ácido aspártico e glutâmico, aminoácidos que caracterizam o sabor umami, e as macroalgas castanhas têm maiores quantidades destes aminoácidos.
Por outro lado, e tal como em qualquer alimento, o consumo de algas em excesso (e de fontes não seguras) pode induzir riscos para a saúde, em particular a ingestão de metais pesados, reações alérgicas, intoxicações alimentares, presença de pesticidas, entre outros.
Por fim, importa realçar que os fatores ambientais, sazonais, de processamento e confeção podem influenciar e fazer variar a composição nutricional das algas.
Aspetos relevantes no consumo das algas
A inovação alimentar tem vindo a desenvolver, cada vez mais opções que incluem as algas, principalmente destinadas a incluir na alimentação das populações ocidentais que não têm hábitos de consumo deste alimento. Deste modo, alguns exemplos da aplicação de algas em produtos alimentares são: pão, bolachas/tostas, gelo. sal, azeite e massa.
Neste contexto, as algas têm sido também utilizadas para formação de hidrocoloides, sendo o agár o exemplo mais conhecido dessa situação.
Hidrocolóides
Os hidrocolóides são compostos que conferem um efeito espessante, aquando da sua dispersão na água, existindo hidrocolóides com capacidade de formação de géis (agentes gelificantes).
No caso particular do agár, é produzido através de algas vermelhas, sendo utilizado, por exemplo, em produtos de panificação, sobremesas, como gelatina, e como substrato de crescimento microbiológico.
Quanto ao teor de metais pesados, as algas podem acumular estes metais, embora a sua concentração varie em função de fatores como, por exemplo, a espécie, a fase de crescimento, a localização e a contaminação da água.
As macroalgas castanhas tendem a apresentar maiores teores de metais pesados do que as vermelhas e verdes. As macroalgas castanhas apresentam níveis superiores de arsénio, por outro lado as macroalgas vermelhas e verdes tendem a ter maior concentração de ferro, cobre e magnésio.
É, por isso, necessária mais investigação para se compreender e avaliar os potenciais efeitos adversos do consumo humano de algas, considerando as diferentes variáveis, fomentar um consumo ponderado e a aquisição de algas que sejam seguras, do ponto de vista alimentar.
Onde comprar as algas e que cuidados ter?
A compra das algas deve ser realizada em empresas certificadas e lojas da especialidade. Deve também verificar o país de origem no rótulo dos produtos e privilegiar os de origem nacional.
Antes de consumir, deve lavar, cuidadosamente, em água corrente as algas frescas para se retirar a maioria das impurezas. No caso das algas secas hidrate antes da utilização, seguindo os conselhos de utilização presentes no rótulo.