Ao longo da vida, a experiência de luto é inevitável. É uma das mais dolorosas e intensas experiências de vida, e requer tempo, até alcançar a paz e a aceitação.
Importa compreender como decorre habitualmente o processo de luto e qual a melhor forma de lidar com a perda de alguém que amamos.
O que é luto?
O luto é a resposta natural que ocorre devido à perda de uma pessoa ou de algo importante. É uma parte natural da vida e não uma resposta patológica. Numa situação de luto, perante a perceção de perda, são experienciadas reações psicológicas, sociais e somáticas, naturais e esperadas face à situação.
Assim sendo, são vários os sintomas que de forma comum surgem durante o processo de luto, nomeadamente:
Sintomas físicos
- Hiperatividade ou baixa atividade
- Irrealidade
- Dores somáticas
- Alterações no apetite
- Flutuações de peso
- Cansaço
- Problemas de sono
- Falta de ar
- Aperto na garganta
Sintomas emocionais
- Tristeza
- Raiva
- Alívio
- Medo
- Solidão
- Saudade
- Ansiedade
- Abandono
- Falta de sentido
- Apatia
- Vulnerabilidade
Sintomas sociais
- Dependência dos outros
- Afastamento dos outros
- Evitamento dos outros
- Falta de iniciativa
Sintomas comportamentais
- Comportamentos de procura pela pessoa falecido
- Sentir a presença da pessoa falecida
- Vaguear sem objetivo
- Não falar sobre o que aconteceu para não deixar os outros desconfortáveis
- Precisar de contar a história da morte da pessoa querida
O normal processo de luto pode durar algum tempo e ser acompanhado por sofrimento físico e psicológico, o que torna difícil determinar quando este se torna patológico.
O luto patológico tende a ser mais prolongado (duração exagerada dos sintomas) e mais intenso (maior interferência dos sintomas nas atividades quotidianas ou maior intensidade dos sintomas).
Quais as fases do luto?
Diferentes autores apresentaram diferentes fases do processo de luto. Uma das posições defendidas passa pela existência de 3 fases essenciais.
1. Choque/Negação: processo de evitamento, com características como entorpecimento, incredulidade, procura.
2. Desorganização/Desespero: processo de consciencialização, com características como dor emocional, preocupações e recordações recorrentes, dificuldades de memória a curto prazo, desespero, perda de objetivos, isolamento e sintomas físicos.
3. Reorganização/Recuperação: processo de restabelecimento, reajustamento ao novo mundo e reinvestimento identitário.
O que fazer quando alguém que amamos vai embora?
Quando alguém que amamos parte de forma irremediável, há determinadas tarefas que têm de ser concretizadas para que se restabeleça o equilíbrio e para que o processo de luto fique concluído.
Aceitar a realidade da perda
Quando alguém que amamos morre, mesmo que essa seja uma morte de alguma forma previsível, há sempre um sentimento de que tal não aconteceu. Assim, para superar o sofrimento e ultrapassar o processo de luto, a primeira tarefa passa por aceitar a inevitabilidade da perda, aceitar que a pessoa que amamos não irá voltar.
Muitas pessoas recusam-se a acreditar e a aceitar esta realidade, ficam paralisadas. De facto, aceitar a realidade da perda leva tempo, já que envolve não só uma aceitação intelectual, mas também emocional, esta última mais morosa e dolorosa.
Apesar de levar inevitavelmente tempo e ser uma tarefa difícil de concluir, os rituais tradicionais, como o funeral, parecem ajudar na aceitação da perda.
Trabalhar a dor da perda
Perder alguém que amamos pode provocar diferentes tipos de dor (física; emocional). Evitar ou suprimir essa dor irá, muito provavelmente, prolongar o processo de luto e o sofrimento. Assim sendo, é importante que a dor da perda seja reconhecida, vivida e legitimada.
Ajustar-se ao ambiente onde está a faltar a pessoa que faleceu
O ajuste ao novo ambiente depende muito da relação que se tinha com a pessoa falecida e dos vários papéis que esta desempenhava.
Por exemplo, no caso de um casal, a perda de um dos cônjuges pode significar muitas perdas, dependendo dos papéis que este normalmente desempenhava (por exemplo, um parceiro sexual; um amigo; um bom gestor das finanças familiares; etc.).
Há três áreas de ajustamento a ter em consideração após perder alguém que nos é próximo: ajustamentos externos (funcionamento diário no mundo); ajustamentos internos (sentido de si mesmo); ajustamento de crenças (valores, crenças, considerações sobre o mundo).
Reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e continuar a vida
Esta última e importante tarefa passa por encontrar um local adequado na vida emocional para a pessoa que faleceu, que ao mesmo tempo permita à pessoa enlutada viver bem no presente.
O processo de luto termina quando a pessoa enlutada deixar de sentir a necessidade de reativar a representação da pessoa falecida com uma intensidade exagerada no dia-a-dia. Para muitas pessoas, esta é a tarefa mais difícil de alcançar, contudo, pode ser alcançada e a pessoa enlutada acaba por perceber que pode voltar a amar sem deixar de amar a pessoa que perdeu.
Conclusão
O processo de luto termina quando as quatro tarefas acima descritas estão concluídas. O processo de luto é intenso e doloroso, daí que algumas pessoas optem por contorná-lo ao invés de o vivenciar.
No entanto, de forma a diminuir o sofrimento imposto pela partida de alguém que amamos importa aceitar e expressar a dor sentida.
Por fim, importa ressalvar que durante o processo de luto é fundamental que sejam mantidas rotinas saudáveis (refeições regulares e nutritivas; períodos de descanso adequados; rotinas de sono regulares; atividade física; vigilância médica), bem como a interação social, já que o processo de luto não precisa ser um processo solitário.