Share the post "Leishmaniose: saiba que doença é esta que pode afetar o seu cão"
A Leishmaniose é uma doença causada por um parasita protozoário do género Leishmania e é transmitida através da picada de um mosquito flebótomo fêmea (mosca da areia).
É uma doença que afeta humanos, cães, gatos e certos animais silvestres e roedores e, é endémica no Sul da Europa, Norte de África, partes da Ásia e da América Central e do Sul.
Leishmaniose canina
Os cães são o principal reservatório deste parasita, o que causa um problema veterinário sério com um crescente impacto na saúde pública.
As principais espécies de Leishmania que afetam o cão são a L.donovani, a L.tropica e a L.infantum, sendo esta última a mais prevalente na bacia do Mediterrâneo.
Em Portugal, as zonas mais afetadas são a do Douro, Alto Douro, Lisboa, Setúbal e Algarve.
Ciclo de vida
A Leishmania é um parasita difásico, ou seja, completa o seu ciclo de vida em dois hospedeiros:
- O mosquito fêmea Phlebotomus alberga a forma extracelular (promastigota);
- O mamífero, que alberga a forma intracelular (amastigota) em desenvolvimento.
Transmissão
A transmissão do parasita para o cão dá-se através do mosquito, quando este realiza uma “refeição” do sangue do cão. Desde a deposição do parasita na pele do cão até à chegada aos macrófagos (células do sistema imunitário), podem passar-se meses ou anos: é o chamado período de incubação.
A qualquer momento, outro mosquito pode voltar a picar o cão, infeta-se com o parasita e leva-o consigo, podendo vir a infetar outro animal. Também pode ocorrer a transmissão através de uma transfusão sanguínea de um cão infetado para um não infetado.
A idade, raça, genética e estado de saúde e do sistema imunitário, entre outros, são fatores que podem influenciar a progressão do estado de infeção para doença clínica. Estão mais suscetíveis cães com menos de 3 e mais de 8 anos de idade.
Cães infetados mas assintomáticos continuam a representar uma fonte de infeção para os mosquitos.
Sinais clínicos
Os sinais clínicos variam consoante se trate da forma cutânea, mucocutânea ou da forma visceral da Leishmaniose. Por norma, apresentam uma evolução lenta.
- Perda de peso e do apetite, intolerância ao exercício e apatia;
- Lesões dermatológicas – começam na cabeça e estendem-se pelo resto do corpo. Zonas com perda de pelo, descamação, úlceras, alterações na transição da pele do nariz, os olhos e os cantos da boca;
- Aumento do tamanho dos gânglios linfáticos;
- Lesões oculares;
- Crescimento exagerado das unhas;
- Sangramento nasal;
- Atrofia muscular;
- Alteração da locomoção (mancam);
- Anemia – mucosas pálidas;
- Aumento da frequência com que bebem água e urinam;
- Alterações nos rins, vasos sanguíneos e articulações;
- Aumento do tamanho do baço e do fígado.
Atenção: nem todos estes sinais têm de estar presentes! Há casos em que apenas através de exames complementares se descobre a patologia, muitas vezes são achados clínicos.
A principal causa de morte por Leishmaniose deve-se à insuficiência renal desenvolvida pela presença do parasita no sistema imunitário do cão.
Diagnóstico
O diagnóstico da Leishmaniose é feito através de três pilares.
- Epidemiológico: Através da história clínica consegue-se perceber se o cão vive ou se viajou para zonas endémicas, qual o seu modo de vida e há quanto tempo surgiram os primeiros sinais clínicos. Com apenas estes elementos muitas vezes inicia-se uma suspeita de Leishmaniose que é posteriormente investigada.
- Clínico: Numa fase inicial, feito através da avaliação do estado geral e de um exame físico ao animal, de forma a identificar os sinais clínicos acima referidos.
- Laboratorial: Aqui realizam-se análises de urina e de sangue para avaliar a função renal e o valor das proteínas, e pesquisar a presença de anticorpos ou do próprio parasita. Através destas análises também se obtém uma avaliação do estado geral do animal.
O teste de diagnóstico mais fidedigno é a observação do parasita em amostras de medula óssea ou de gânglios linfáticos.
Tratamento
É importante perceber que a Leishmaniose canina é uma doença crónica e que o tratamento nem sempre é eficaz, sendo comum haver recidivas.
Existem protocolos de tratamento que são instituídos consoante o estadiamento da doença. Os diferentes fármacos têm diferentes objetivos: matar o parasita, não o deixar reproduzir-se ou estimular a imunidade do animal. A melhor estratégia será definida pelo seu médico veterinário.
Prevenção
O sucesso da luta contra a Leishmaniose apoia-se na prevenção. O seu médico veterinário ira aconselhá-lo consoante se vive ou não numa zona endémica.
- Controlo dos vetores: a prevenção da picada do mosquito através de inseticidas repelentes evita a ocorrência e perpetuação de todo o ciclo;
- Realizar anualmente o despiste da doença: quanto mais precoce o diagnóstico, maiores as hipóteses de sucesso do tratamento;
- Vacinação: em Portugal já está disponível uma vacina; informe-se com o seu médico veterinário sobre os benefícios desta;
- Ter especiais cuidados com os animais cuja a confirmação da infeção já foi feita.
Risco zoonótico – infeção humana
A Leishmaniose humana visceral causada pela L.infantum representa um problema sério de saúde publica em áreas onde a Leishmaniose canina é endémica. No entanto, o parasita é maioritariamente transmitido pela picada do mosquito pelo que os esforços devem concentrar-se na disrupção do ciclo de transmissão e infeção, prevenindo que os cães se tornem reservatórios do parasita.
Crianças desnutridas e indivíduos imunocomprometidos, nomeadamente pacientes com SIDA, e indivíduos que partilhem seringas contaminadas, representam grupos de risco.