Luís Cristino (nutricionista)
Luís Cristino (nutricionista)
13 Abr, 2023 - 11:07

Como introduzir legumes e frutas na diversificação alimentar

Luís Cristino (nutricionista)

A introdução de legumes e frutas na diversificação alimentar deve ser primordial, promovendo hábitos saudáveis. Saiba como.

as legumes e frutas na diversificacao alimentar do bebe

O início da alimentação complementar é uma fase importante no desenvolvimento da criança, para a promoção de hábitos saudáveis que devem ser mantidos ao longo de toda a vida, sendo que a introdução e consumo de legumes e frutas para bebés na diversificação alimentar deve ser primordial.

Considera-se alimento complementar qualquer alimento introduzido para além do leite materno ou de fórmulas para lactentes ou de transição, normalmente entre os 4 e 6 meses. Esta introdução gradual tem como objetivo a supressão das necessidades em energia, macronutrientes e micronutrientes (nomeadamente proteína e ferro) do bebé ao longo do seu desenvolvimento, assim como fazer com que este se aproxime da dieta da família, contactando com alimentos sólidos com diferentes texturas e sabores (123).

Legumes e frutas na diversificação alimentar: como introduzir

Alimentação do bebé de 4 meses: como iniciar a diversificação alimentar?

Não existe evidência científica que sustente uma ordem de introdução dos alimentos complementares rígida, devendo-se introduzir um alimento de cada vez e com uma periodicidade não inferior a 3-5 dias, de forma a avaliar possíveis alergias ou intolerâncias e para que o bebé se adapte a novas texturas e sabores (3). É mais importante oferecer uma variedade de legumes e frutas, crus, na sopa e nas papas, para que o bebé se adapte aos diversos sabores e texturas.

Inicialmente os alimentos oferecidos devem ser triturados, aumentando gradualmente de consistência até pequenos pedaços.

A introdução de legumes e fruta na diversificação alimentar deverá ser feita uma vez que são importantes fornecedores de hidratos de carbono, vitaminas, minerais e fibra e outros compostos como antioxidantes e fitoesteróis (4).

Esta introdução nem sempre é fácil, a capacidade do bebé aceitar novos sabores, nomeadamente amargos ou ácidos, onde se incluem as frutas e os vegetais, vai aumentando gradualmente com a exposição ao sabor, podendo ser necessárias 11 tentativas (4).

Legumes e frutas na diversificação alimentar: legumes

Conheça as frutas e legumes que podem causar gases

A Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) refere que usualmente se inicia a alimentação complementar com um caldo ou puré de legumes, uma vez que se enquadra no padrão de crescimento desejável no primeiro ano de vida. E, uma vez que o sabor a doce já é inato, não existe a necessidade de treiná-lo, sendo que é necessário estimular o paladar para sabores não-doces (4).

Assim, tradicionalmente é recomendado que para iniciar a sopa inclua 4 a 5 dos seguintes legumes:

  • Batata ou batata-doce (como base)
  • Cenoura
  • Abóbora
  • Cebola
  • Alho
  • Alho francês
  • Alface
  • Curgete
  • Brócolo
  • Couve Branca

É desejável que a esta lista vá introduzindo gradualmente maior variedade de legumes para que o bebé contacte com novos sabores e diferentes densidades nutricionais, introduzindo um a um, como explicado anteriormente. Posteriormente, pode introduzir as leguminosas na preparação das sopas (4).

A SPP, relativamente ao espinafrenabobeterraba e aipo, por conterem elevador teor de nitrato e fitato (diminui a absorção de ferro), recomenda que devem ser introduzidos mais tardiamente, a partir dos 12 meses de idade (4).

Adicionalmente, é recomendado que adicione 5 a 7,5 mL de azeite em cru a cada dose de puré ou caldo de legumes, uma vez que estas preparações não apresentam gordura naturalmente presente (4).

Legumes e frutas na diversificação alimentar: fruta

Alimentação do bebé de 4 meses: como iniciar a diversificação alimentar?

A fruta deve ser servida crua ou cozida (em puré) devidamente higienizada, mas nunca deve constituir uma refeição completa. Deve ser oferecida individualmente e não sob a forma de puré de vários frutos nem em sumo, de forma a permitir estimular e treinar o paladar (4).

À semelhança dos legumes, não existe nenhuma ordem específica e rigorosa para a introdução dos frutos (13). Assim, habitualmente são introduzidos primeiramente os seguintes frutos:

  • Maçã
  • Pêra
  • Banana

A esta lista, é necessário introduzir gradualmente maior variedade de frutos, um de cada vez, para que o bebé contacte com novos sabores.

De forma a aumentar a absorção de ferro não-heme (ferro presente em produtos de origem vegetal) é recomendado que introduza em simultâneo frutos ricos em vitamina C, tais como (356):

  • Laranja
  • Papaia
  • Kiwi*
  • Tomate
  • Manga
  • Morango*

*A SPP recomenda que estes frutos, assim como a amora e o maracujá, sejam introduzidos após o primeiro ano de idade, uma vez que são potencialmente alergénicos ou libertadores de histamina (4). No entanto, as recomendações europeias, baseadas em novos estudos, não fazem referência à introdução tardiamente destes frutos (13).

Relativamente aos frutos tropicais, não existe evidência que sustente a teoria que estes possam ser potencialmente alergénicos, nomeadamente a papaia, o abacate e a manga. Pelo que, podem ser introduzidos aquando o início da diversificação alimentar.

No entanto, se há história familiar de patologia alérgica, parece prudente não introduzir até aos 12 meses de idade estes alimentos (4).

Em suma, a introdução de legumes e frutas na diversificação alimentar é fundamental para que o bebé entre em contacto com diversos sabores e texturas, desenvolvendo hábitos alimentares saudáveis que deverá manter ao longo da infância e de toda a vida.

Fontes

1. Romero-Velarde, E. et al. (2016). Guidelines for complementary feeding in healthy Infants. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2444340917000401
2. World Health Organization. (‎2003)‎. Complementary feeding: report of the global consultation, and summary of guiding principles for complementary feeding of the breastfed child. World Health Organization. Disponível em:
https://apps.who.int/iris/handle/10665/42739
3. Fewtrell, M. et al. (2017). Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28027215
4. Guerra, A. et al. (2012). Alimentação e nutrição do lactente. Disponível em:
https://spp.pt/UserFiles/file/Protocolos/Alimentacao_Nutricao_Lactente.pdf
5. Domellof, M. et al. (2014). Iron Requirements of Infants and Toddlers. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24135983
6. DiMaggio, D.M. et al. (2017). Updates in Infant Nutrition. Disponível em:
https://pedsinreview.aappublications.org/content/38/10/449

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