A intolerância ao glúten é um assunto em voga, devido ao crescente número de pessoas a sofrer desta condição.
A intolerância pode ser dividida em duas patologias diferentes: doença celíaca e sensibilidade ao glúten.
O glúten é uma proteína estrutural do trigo, centeio e cevada, componentes base de alguns dos mais pratos mais apreciados por todo o mundo.
Entre eles, o trigo é o mais consumido mundialmente e chega a fazer parte das refeições diárias de várias pessoas.
Seja na forma de pães, massas, bolachas, bolos ou mesmo bebidas como a cerveja, o contacto com o glúten aumentou drasticamente nos últimos 40 anos. Paralelamente, verificou-se também um aumento de casos de intolerância ao glúten, levando-nos a crer que possa existir aí uma ligação.
Na Europa, 1 em cada 300 pessoas será atingida pela intolerância ao glúten. Esta está também presente nos Estados Unidos e Norte de África, sendo a sua maior prevalência na zona do Sahara. Em contrapartida, é muito rara nos países asiáticos.
Em Portugal, tendo em conta a prevalência europeia, deveria existir cerca de 30.000 pessoas com intolerância ao glúten, mas o número de casos diagnosticados e conhecidos é muito inferior.
Efetivamente, estima-se que 99% dos indivíduos com intolerância nunca serão devidamente diagnosticados.
Doença Celíaca vs. Sensibilidade ao Glúten
1. Doença Celíaca
A doença celíaca é uma reação do sistema imunitário à presença de glúten, através de uma agressão do organismo contra o seu próprio intestino delgado. Este responde com a atrofia progressiva das suas vilosidades, responsáveis pela absorção de nutrientes no intestino delgado.
Deste modo, todo o processo resulta numa malabsorção intestinal e, consequentemente, desnutrição.
2. Sensibilidade ao Glúten
A sensibilidade ao glúten não-celíaca ocorre quando, após análise de todos os sintomas e exames clínicos, é diagnosticada uma sensibilidade ao glúten, provavelmente devido à exposição frequente à proteína.
Apesar de não ser considerada doença celíaca, os sintomas intestinais melhoram, ou até desaparecem, após a retirar o glúten da dieta, mesmo em indivíduos com intestino saudável e que não apresentam, nos exames clínicos, os mesmos anticorpos presentes na doença celíaca.
Indivíduos com sensibilidade ao glúten não podem ser considerados celíacos, pois são capazes de tolerar e processar o glúten, apesar dos sintomas desagradáveis provocados pela sua ingestão.
O que causa a intolerância?
As causas da intolerância ao glúten podem ser genéticas ou devido a uma alteração ambiental. Contudo, o desenvolvimento desta condição só é possível em indivíduos geneticamente predispostos desde a nascença. Existindo os fatores genéticos, alguns fatores ambientais são suscetíveis de desencadear a fase ativa da doença: infeções, cirurgias, situações de stress ou outra situação traumática.
A introdução precoce do glúten na alimentação dos recém-nascidos é igualmente um fator negativo reconhecido, enquanto o aleitamento materno é um fator protetor.
A intolerância ao glúten é também fortemente relacionada com o Síndrome de Down, hepatite crónica, colite, doença autoimune da tiroide ou síndrome do colon irritável.
Quais são os sintomas?
Os sintomas da intolerância ao glúten podem aparecer em qualquer idade e em indivíduos de ambos os sexos. Contudo, existem duas situações de aparecimento mais frequente:
- Na infância, entre os 6 meses e os 2 anos, após a introdução do glúten na alimentação;
- Na idade adulta, entre os 20 e os 40 anos, após um acontecimento traumático.
Quanto mais precoce é o diagnóstico, menos lesões existirão no intestino delgado. Uma vez diagnosticada, serão necessários 2 a 3 meses para recuperar a estrutura intestinal fisiológica normal numa criança, e 2 a 3 anos para um adulto. Na criança, o desaparecimento dos sintomas e a recuperação funcional do intestino são muito rápidas.
A intolerância ao glúten é difícil de diagnosticar dado que os sintomas podem ser muito variados. Os mais comuns são:
- Diarreia frequente, de 3 a 4 vezes ao dia, com grande volume de fezes;
- Flatulência;
- Vómitos;
- Irritabilidade;
- Perda do apetite;
- Emagrecimento sem causa aparente;
- Distensão e dor abdominal;
- Fadiga crónica;
- Palidez;
- Anemia ferropriva;
- Diminuição da massa muscular.
Os sintomas também podem ser agravados pela gravidez e pelo stress do parto, por doenças, infeções e cirurgias.
Se se identificou com alguns destes sintomas, procure a ajuda de um médico ou profissional de nutrição.
E o tratamento?
Até à data, não existe nenhum tratamento médico ou farmacológico para a intolerância ao glúten. Apenas uma dieta totalmente isenta de glúten pode tratar a doença.
O tratamento, para ser eficaz, deve iniciar aquando do diagnóstico e manter-se durante o resto da vida do indivíduo.
O glúten está presente no trigo, centeio e cevada, cereais usados para fabricar farinhas, que por sua vez, constituem uma inúmera variedade de alimentos, como o pão, massas, bolos e bolachas. As farinhas tradicionais deverão então ser substituídas por farinha de milho, farinha de arroz, fubá, amido de milho, farinha de amendoim ou fécula de batata.
Por forma a substituir os alimentos proibidos, o arroz, a batata, a soja, a tapioca e a quinoa são alguns dos alimentos permitidos para celíacos.
É importante que o intolerante ao glúten siga a dieta que lhe é prescrita corretamente, para evitar as complicações que podem advir da patologia. Deste modo, é essencial verificar sempre os rótulo alimentares. Aqueles que são isentos de glúten estão devidamente rotulados com essa informação.
Nunca deve iniciar uma dieta sem antes consultar um profissional de nutrição.
Contaminação cruzada
É importante destacar que apesar de alguns alimentos serem isentos de glúten, estes podem sofrer contaminação cruzada.
A aveia, por exemplo, não contém glúten, contudo é normalmente processada nos mesmos equipamentos que o trigo e outros cereais, logo é provável que ocorra contaminação cruzada. Para indivíduos apenas com sensibilidade ao glúten, esta pode não desencadear sintomas. No entanto, os celíacos deverão excluir o cereal da dieta, por precaução.
Adicionalmente, a utilização dos mesmos equipamentos de cozinha, como panelas, facas ou colheres, para preparação de alimentos com glúten e alimentos isentos de glúten, leva a que também exista contaminação cruzada.