A má absorção de frutose, muitas vezes designada por intolerância à frutose, é um problema comum. No entanto, é pouco reconhecido, diagnosticado e tratado.
Primeiramente, é importante distinguir dois tipos de intolerância à frutose:
- A má absorção da frutose a nível intestinal: quando ocorrem alterações nos mecanismos de absorção intestinal da frutose, levando a um aumento da concentração de frutose no lúmen intestinal, acumulando-se no cólon.
- A intolerância hereditária à frutose: quando há falta de uma enzima necessária para o metabolismo da frutose.
Ao longo deste artigo iremos debruçarmo-nos sobre o primeiro tipo.
Intolerância à frutose: a má absorção a nível intestinal
Intolerância a hidratos de carbono
A má absorção e a intolerância aos hidratos de carbono, como a frutose ou a lactose, são problemas comuns e frequentemente encontrados entre as queixas gastrointestinais de vários pacientes. No entanto, e devido ao seu pouco reconhecimento para realização de diagnóstico, a sua prevalência é desconhecida (1).
A sintomatologia gastrointestinal associada a estas intolerâncias passa por inchaço abdominal, excesso de produção de gases, flatulência, dor, distensão abdominal, náuseas e diarreia. A presença destes sintomas em indivíduos com intolerância alimentar aos hidratos de carbono tem um enorme impacto negativo na qualidade de vida (1).
Intolerância a hidratos de carbono: intolerância à frutose
A frutose é um monossacarídeo, vulgarmente designada como um dos “açúcares simples”, e está amplamente distribuída de forma natural em vários alimentos, como são exemplos o mel e a fruta. Pode ainda ser encontrada como adoçante em diversos alimentos processados, sob a forma de frutose ou de sacarose (frutose + glicose).
A capacidade de absorção da frutose é limitada e bastante variável (2, 3). A má absorção intestinal da frutose provoca o influxo de água para o lúmen intestinal, levando a uma rápida transição do conteúdo intestinal para o cólon, aumentando a matéria orgânica disponível para ser fermentada pelas bactérias da microbiota intestinal, levando ao aumento da produção de gás (4).
Esta situação pode resultar em sintomas como dor abdominal, excesso de produção de gases, inchaço, episódios de diarreia e/ou obstipação.
Onde encontrar a frutose?
A frutose pode ser encontrada naturalmente em muitos alimentos ou sob a forma de adição durante o processamento de vários alimentos. Destacam-se os seguintes (1):
- Fruta
- Legumes
- Mel
- Açúcar (sacarose)
- Sorbitol
- Xarope de agave
- Xarope de milho
- Cereais
- Produtos lácteos adoçados com frutose, por exemplo alguns iogurtes
- Produtos processados que apresentem frutose ou outro ingrediente que apresente na sua constituição frutose.
Na tabela abaixo pode ver uma lista de Hortofrutícolas com alto valor de frutose e com alternativas com baixo valor de frutose para a “fase de eliminação” da frutose (1).
Grupo Alimentar | Alternativas com baixo valor de frutose | Alimentos com alto valor de frutose |
Fruta | Abacate, arandos, limão, meloa cantaloupe, abacaxi, kiwi, pêssego morangos, tangerina e banana. | Restantes frutas, sumo de frutas, fruta seca e desidratada (como: ameixas, passas, tâmaras, figos, maçã desidratada, etc.), frutas enlatadas e compotas. |
Hortícolas | Beterraba, couve chinesa, cenoura, aipo, cebolinha, pimento verde, tomate, rabanete, ruibarbo, espinafre, batata doce, nabo, batata branca, abóbora. Legumes permitidos com maior probabilidade de causar gás: couve de Bruxelas, couve, couve-flor, alface. | Alcachofra, aspargo, brócolos, alho-francês, cogumelos, quiabo, cebola, ervilha, pimento vermelha, chalota, pasta de tomate, produtos à base de concentrado de tomate (tomate enlatado, ketchup). |
Diagnostico da intolerância à frutose
Os testes respiratórios, através da medição do ar expirado, são a forma padronizada para detetar a intolerância a determinado hidrato de carbono, como a frutose, sendo essencial para o diagnóstico e tratamento dessas condições, especialmente na população ocidental.
O teste respiratório é realizado após a ingestão de uma quantidade padronizada de frutose, geralmente 25g. Durante o teste, tanto o hidrogénio quanto o metano devem ser analisados a partir das amostras de ar expirado recolhido em intervalos de 30 minutos até às 3 horas após a ingestão das 25g de frutose.
Um aumento de 5 ppm em três medições consecutivas ou superior ou igual a 20 ppm de hidrogénio ou superior ou igual a 10 ppm metano acima da medição da expiração basal, antes da ingestão da frutose, é considerado um teste positivo (5).
É de notar que estes testes não são perfeitos, mas são as melhores ferramentas disponíveis para o diagnóstico de intolerância à frutose. A sintomatologia associada à má absorção de frutose pode ocorrer tardiamente, após as 3h do teste.
Quando ocorre presença de sintomatologia, como diarreia ou inchaço, durante o teste, mesmo sem resultado positivo no teste respiratório de hidrogénio, considera-se que o individuo apresenta má absorção da frutose (6, 7).
A presença de má absorção e reprodução de sintomas durante um teste de respiração fornece a melhor evidência objetiva e correlação de sintomas provocados pela intolerância à frutose, aumentando a eficácia terapêutica e diminuindo, consequentemente, as intervenções nutricionais desnecessariamente restritivas.
Em suma
Não existem protocolos ou diretrizes estabelecidas para a intervenção dietético de má absorção ou intolerância à frutose e, portanto, a sua gestão irá depender da experiência do profissional e da adesão do paciente à terapêutica, sendo que geralmente ocorre uma redução inicial da ingestão de frutose e posteriormente a reintrodução de um alimento de cada vez de forma a avaliar a tolerância ao mesmo. Por norma, os pacientes conseguem tolerar 10 a 15g de frutose por dia sem desenvolver qualquer sintomatologia (1).
Assim, é prudente que recorre a um profissional de saúde, nomeadamente a um nutricionista ou gastroenterologia, com vista a diminuição da sintomatologia, antes de iniciar qualquer dieta excessivamente restritiva que lhe possa trazer desequilíbrios nutricionais futuros.
- Fedewa, A etl al. (2015). Dietary fructose intolerance, fructan intolerance and FODMAPs. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3934501/
- Wilder-Smith, CH et al. (2013). Fructose transporters GLUT5 and GLUT2 expression in adult patients with fructose intolerance. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24918004
- Riby JE, et al. (1993). Fructose absorption. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8213606
- Barrett, JS et al. (2010). Dietary poorly absorbed, short-chain carbohydrates increase delivery of water and fermentable substrates to the proximal colon. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20102355
- Rao, SS et al. (2007). Ability of the normal human intestine to absorb fructose: evaluation by breath testing. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17625977
- Gibson, PR et al. (2007). Review article: fructose malabsorption and the bigger picture. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17217453
- Barrett, JS et al. (2012). Fructose and lactose testing. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22558619