Share the post "Yoga: mais do que um desporto, o caminho para uma vida plena"
É no meio de uma paisagem verde exuberante que vive Inez. Um lugar calmo e tranquilo, onde só existimos nós e a natureza. Um lugar que, tal como o yoga, nos convida a parar. Nesta bonita e tranquila quinta em Sintra, existe uma horta biológica, onde colhe os vegetais que utiliza na sua alimentação. Da sua dieta excluiu a carne e escolheu a frescura dos legumes e frutos que vê diariamente crescer. É na “paz do campo” que se sente bem. É aqui que agora quer estar.
A prática do yoga entrou na vida de Inez quando cursava Engenharia do Ambiente, na cidade do Porto. O curso era exigente e Inez sentia a sua cabeça “ativa de mais”. Com a prática do yoga alcançou a concentração de que precisava e aprendeu “a estar no momento presente, a não viver no futuro, nem no passado”.
Com o yoga desligamo-nos de tudo que está do lado de fora e aprendemos a ter tempo para nos ligarmos ao que está dentro de nós. O yoga ajuda-nos a melhorar a nossa maneira de estar na vida, porque a prática do yoga, na verdade, não é para nos tornarmos melhores no yoga, é para nos tornarmos melhores a viver a nossa vida.
Foi há 20 anos que Inez sentiu, pela primeira vez, o bem-estar que o yoga proporciona e, desde aí, nunca mais parou. Todos os dias, dedica uma parte do seu tempo a esta prática milenar.
Uma filosofia e um estilo de vida
Quando Inez Aires fala sobre a forma como o yoga transformou e melhorou a sua vida, a sua voz ganha um tom entusiástico. Talvez por isso, um dos seus mais recentes projetos passe precisamente por provar cientificamente os benefícios desta prática milenar. Para isso, juntou-se ao neurocientista Francisco Marques Teixeira, e à sua clínica Human2Human, para aliar a tecnologia e a ciência, ao yoga e à meditação.
O propósito deste projeto é provar que os benefícios do yoga vão muito além da componente física. Isto será possível, por exemplo, medindo as ondas cerebrais através de um eletroencefalograma, enquanto fazemos uma aula de yoga ou de meditação.
O yoga não pode ser separado da meditação. É um método, uma filosofia, um estilo de vida. Está relacionado com a nossa conduta e como nos vamos melhorando e conhecendo a cada dia.
Aprender a respirar
A prática do yoga começa com a respiração. “A capacidade respiratória que temos e usamos no nosso dia-a-dia é muito curta, relativamente à volumetria dos pulmões. Respiramos com metade da capacidade dos nossos pulmões. Uma respiração profunda expande, cresce de dentro para fora e aumenta o espaço dentro de nós. Vai criar espaço onde antes ele não existia”.
A forma como respiramos é tão importante que pode mesmo regular a nossa temperatura corporal, acalmar-nos ou encher-nos de energia.
Na prática do yoga sequencial, a respiração tem de estar sintonizada com o movimento. É na dança entre a inspiração e a expiração que vamos mudando de postura. A prática pode ser mais rápida ou mais lenta, consoante o ritmo da nossa respiração”
Uma prática acessível a todas as idades
Inez já teve nas suas aulas um aluno de 94 anos que veio acompanhado do seu filho de 70, provando assim que qualquer pessoa, com qualquer condição física, pode praticar yoga. Até mesmo pessoas que não se possam mover, já que estamos a falar de princípios éticos, disciplina, observação, meditação, relaxamento e foco.
Muito mais importante do que fazer uma postura perfeita, é entender a forma como chegamos a essa postura, o que é que temos de silenciar na nossa mente, a consciência que temos de ter do nosso corpo, até no mais ínfimo movimento. As posições que vemos são bonitas, fantásticas, belas, mas o yoga é uma viagem interna, que nos leva a parar e a olhar para dentro de nós, e, para além disso, também ajuda a dormir melhor.
Yoga e outros desportos
A prática desportiva esteve sempre presente ao longo da vida de Inez. Aos quatro anos de idade começou a fazer ballet clássico, equitação e ginástica desportiva. Mas foi com o yoga que assumiu “um compromisso com responsabilidade e seriedade, porque o bem-estar que nos dá é tão bom que já não conseguimos viver sem ele”.
Como prática conjunta com outras atividades físicas, considera que o yoga é excelente: “os resultados a nível das articulações, flexibilidade, leveza e até de foco, tornam o yoga num modelo ótimo para ser praticado em simultâneo com outros desportos”. Para além disso, é perfeito para evitar lesões: “Sei que vou montar a cavalo, fazer wakeboard, ou escalar e não ganho lesões e sei que isto acontece porque tenho o meu corpo preparado pelo yoga”.
Levar tranquilidade e paz aos estabelecimentos prisionais
O yoga ajuda-nos a não ser impulsivos, a lidar com o stress, a entender melhor as nossas emoções e a ser menos violentos. É uma filosofia que tem a paz como princípio ético.
Graças ao yoga, Inez fez inúmeras viagens para ensinar e aprender mais sobre esta prática ancestral. A paz e a tranquilidade dos mosteiros e conventos que visitou nas suas viagens à Índia ou ao Nepal, serviram de inspiração para levar o yoga aos estabelecimentos prisionais portugueses. Com persistência e determinação, começou por divulgar o seu projeto, primeiro entre amigos, depois como oradora no TEDxPorto, uma organização dedicada à difusão de ideias através de poderosas palestras e, finalmente, à Ministra da Justiça, Dra. Francisca Van Dunem.
Inez acredita que com a ajuda do yoga os reclusos ganham uma maior autoconsciência corporal e equilíbrio emocional, o que se repercutirá na sua reinserção social. “A maior parte dos reclusos cometeram crimes, porque sofreram traumas na sua infância, adolescência e idade adulta que não foram processados na íntegra. Muitas vezes respondem a um determinado tipo de estímulo que os faz ativar uma memória antiga ou que faz com que reajam de forma inconsciente. É nestas situações que podem vir a cometer crimes. Então, quando começamos a entender melhor as nossas emoções, os nossos traumas, os nossos padrões, conseguimos começar a olhar para as nossas reações.
O projeto “Yoga nas Prisões” já foi aprovado e Inez Aires está, atualmente, a criar um programa nacional em parceria com o Ministério da Justiça para concretizar a sua missão.
Inez encontrou no yoga o seu caminho, mas acredita que “as pessoas devem fazer aquilo que funciona para elas, pode ser yoga, andar de bicicleta, caminhar, consultar um psicólogo, fazer uma viagem. O importante é que seja algo que a pessoa faz por si própria e que faça com que tenha tempo para si”.
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