Psicóloga Ana Graça
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03 Fev, 2021 - 10:45

A importância dos afetos em tempo de pandemia

Psicóloga Ana Graça

Não há forma de substituir a proximidade física mas, em tempo de pandemia, a importância dos afetos mantém-se e há que saber como manifestá-los.

Importância dos afetos: mãe e filho a abraçarem-se

Como seres humanos, vivemos orientados e em função da afetividade, das relações e das rotinas sociais. A importância dos afetos é inegável, no entanto, como consequência do surto, as relações sociais e as rotinas de interação social têm vindo a sofrer alterações significativas.

Então, como manifestar os afetos em tempo de distanciamento social? Como gerir as relações pessoais em situação de crise? Como lidar com a separação daqueles de quem mais gostamos? Como manter a união e o comprometimento entre amigos e família? Vamos tentar ajudar!

A importância dos afetos em tempo de pandemia

Homem a falar online com a família

A afetividade é uma dimensão psicológica que abrange de modo complexo e dinâmico o conjunto de emoções, sentimentos, afetos, estados de ânimo. É uma constante na vida humana e, idealmente, os afetos e as manifestações afetivas devem acrescentar algo de positivo ao dia a dia (1).

A pandemia por COVD-19 pode afetar negativamente o bem-estar psicológico, nomeadamente devido às medidas de contenção implementadas (isolamento; distanciamento social) que, sendo essenciais para o controlo da propagação do vírus, vieram alterar as nossas rotinas e as nossas relações.

O que várias investigações mostram é que as respostas emocionais das pessoas durante a ocorrência de grandes surtos infeciosos, semelhantes ao que vivemos, podem incluir sentimentos extremos de medo e incerteza que, juntamente com o afastamento/separação de familiares e amigos e com a supressão da liberdade, podem, eventualmente, levar a uma grande sobrecarga emocional (2).

A pandemia pelo novo coronavírus levou à implementação de extensas medidas de distanciamento social. Este distanciamento recomendado e os cuidados acrescidos no contacto com os outros não têm fim à vista, são o novo normal.

Perante este cenário é natural que as pessoas se questionem acerca de como vão viver, daqui em diante, as suas amizades, a vida familiar, as relações avós e netos, as relações amorosas e as relações profissionais. Como manter estas importantes interações sociais e preencher a necessidade de afeto em tempos de tanta distância?

Mesmo em tempo de pandemia, mesmo em tempo de distanciamento físico e social, a importância dos afetos continua a ser vital para o bem-estar humano. O desafio passa por saber como manifestar os afetos em tempos tão incomuns como o que vivemos.

Como manifestar os afetos em tempo de distanciamento social?

Avós a falar com os netos online

É importante reconhecer que estes são tempos difíceis e que é normal experienciar sentimentos de tristeza, ansiedade, preocupação, medo e incerteza, quer face ao problema de saúde pública em si, quer face ao distanciamento social a que a pandemia dos remeteu.

Felizmente, tendo em conta a importância dos afetos e o seu contributo para o bem-estar psicológico, há formas de gerir e encurtar a distância, mantendo relações e interações sociais felizes e saudáveis, enquanto simultaneamente se tenta impedir a propagação da doença.

1

Incentivar a partilha de sentimentos

É importante reconhecer a normalidade da presença de determinados sentimentos e emoções. Sentimentos como medo, ansiedade e incerteza estão entre as reações mais normais e saudáveis face a uma crise como a que vivemos, já que, como seres humanos, estamos biologicamente preparados para responder desta forma às ameaças.

A partilha e normalização destes sentimentos pode e deve ser feita em família ou entre amigos.

2

Prestar atenção às necessidades dos outros

Face às abruptas mudanças de rotina e face às enormes dificuldades que o COVID-19 trouxe, algumas pessoas podem estar a viver maiores dificuldades.

Manifestar afeto e carinho por aqueles de quem gostamos passa também por estar atento às suas necessidades. É importante antecipar essas necessidades, ser generoso, ser empático, ter iniciativa e não esperar que sejam as outras pessoas a pedir ajuda.

3

Equilibrar o contacto social com uma atitude responsável de distanciamento

Mesmo em tempos normais, todas as pessoas precisam viver um equilíbrio entre vida social e tempo a sós. Neste período, em que o distanciamento social continua a ser recomendado, esta situação não muda. É importante que existam momentos a sós, na mesma medida em que as atividades que envolvam família e/ou amigos são fundamentais.

Os momentos de interação social criam oportunidades únicas de crescimento e aprendizagem e transmitem a segurança emocional necessária para atravessar este momento difícil.

É importante que, em conjunto, famílias e grupos de amigos, definam as regras de uma convivência segura e saudável.

4

Não limitar as interações sociais ao contexto doméstico

Distanciamento social não é sinónimo de autoisolamento. É importante manter interações sociais e manifestar afetos por família, amigos, colegas de trabalho, ainda que, por vezes, essa interação não seja presencial.

Felizmente, temos à disposição várias formas de comunicar que não colocam em risco a saúde de ninguém, pelo que importa recorrer a essas ferramentas.

Fontes

  1. Pinto, F. (2015). O que é a dimensão afetiva? Psicologia.pt Disponível em: https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?o-que-e-a-dimensao-afetiva&codigo=AOP0367
  2. Lorenzo Moccia, et al. (2020). Affective temperament, attachment style and the psychological impact of the COVID-19 outbreak: a nearly report on the Italian general population. Brain, Behavior, and Immunit. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.bbi.2020.04.048
  3. Browne, D. (2020). Prioritizing One Another During COVID-19. Psychology Today.  Disponível em: https://www.psychologytoday.com/us/blog/why-family-matters/202003/prioritizing-one-another-during-covid-19
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