O uso de máscara, a etiqueta respiratória, a manutenção de uma distância social segura e a higienização correta e frequente das mãos são as medidas mais seguras e eficazes para combater a atual pandemia da COVID-19 (1).
Para além destas medidas de prevenção, a comunidade científica tem-se dedicado ao estudo de potenciais fatores influenciadores da gravidade dos sintomas associados à doença, entre os quais a alimentação. A questão que aqui abordamos trata, então, sobre o impacto da dieta mediterrânica na COVID-19.
O impacto da dieta mediterrânica na COVID-19: o que diz a evidência cientítica?
A evidência existente demonstra que a obesidade (principalmente com distribuição central de gordura) e consequentes doenças crónicas associadas ao excesso de peso e obesidade (como a diabetes Mellitus ou outros distúrbios cardiometabólicos) podem estar associados ao agravamento dos sintomas da COVID-19 (2, 3).
Entre os possíveis fatores que podem exacerbar os sintomas encontram-se: a inflamação crónica, o stress oxidativo, a desregulação imune ou o possível papel do tecido adiposo enquanto reservatório viral.
No entanto, são necessários mais estudos para que se consigam compreender com clareza os mecanismos de ação associados ao agravamento dos sintomas (3, 4).
Sabe-se que o seguimento de uma dieta pouco saudável e desequilibrada é um dos fatores que mais contribui para o desenvolvimento de algumas doenças crónicas, não transmissíveis, associadas ao estilo de vida, como a obesidade, diabetes tipo II ou doença cardiovascular (5). Estas estão associadas a um estado de stress oxidativo e inflamação crónica, que poderá influenciar negativamente o outcome da doença (2, 3, 4).
Assim, uma das hipóteses colocadas para combater o agravamento da situação pandémica tem sido a promoção de hábitos alimentares saudáveis. A adoção de práticas alimentares equilibradas e nutritivas tem efeitos benéficos no excesso de peso e obesidade e ainda na prevenção e gestão de outras patologias associadas ao agravamento de sintomas da COVID-19 (3, 6, 7).
No entanto, é importante destacar que, sendo uma pandemia relativamente recente, a evidência cientifica existente, que associa os hábitos alimentares à COVID-19, é limitada e pouco robusta.
Características da Dieta Mediterrânica e o seu impacto na COVID-19
A dieta mediterrânica é considerada um dos padrões alimentares mais saudáveis a nível mundial. É um regime alimentar baseado em produtos de origem vegetal como frutas, vegetais, cereais, leguminosas e frutos secos, em que o azeite é a fonte de gordura de eleição. Há uma ingestão baixa a moderada de peixe, lacticínios e carnes brancas, baixo consumo de carne vermelha ou processada e baixo a moderado consumo de vinho às refeições.
Dieta Mediterrânica e efeitos benéficos na saúde
Ao longo dos anos, tem sido evidenciado que a adesão à dieta mediterrânica tem um efeito preventivo e impacto favorável em doenças cardiovasculares e outros distúrbios cardiometabólicos, como a diabetes tipo 2 (8, 9, 10).
Os alimentos de origem vegetal na qual a dieta mediterrânica se baseia são ricos em polifenóis bioativos. Estes polifenóis (particularmente os flavonoides e os seus metabolitos) possuem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antitrombóticas que demonstraram efeitos de saúde benéficos, especialmente em distúrbios metabólicos e cardiovasculares (11, 12).
A evidência demonstra que os polifenóis aliviam a resposta imunitária, aumentam as defesas antioxidantes, melhoram a reatividade vascular e reduzem a inflamação dos tecidos orgânicos e a infiltração celular, promovendo a saúde cardiovascular e metabólica.
Estas propriedades poderão ser uma importante mais valia quando falamos do contexto atual em que vivemos e das características inflamatórias e pró-trombóticas associadas à COVID-19 (13, 14).
O azeite e os frutos secos e oleaginosos (não só as amêndoas ou nozes, mas também as passas ou damascos secos) têm uma composição rica em nutrientes e fitoquímicos bioativos (entre os quais os polifenóis) que apresentam potenciais propriedades antimicrobianas. No entanto, é necessário que estas propriedades sejam consideradas em investigações realizadas futuramente, de forma a esclarecer os efeitos protetores dos flavonoides e outros polifenóis contra a infeção pelo novo coronavírus (14, 16).
À luz da evidência atual, a comunidade científica aconselha uma alimentação saudável e variada, baseada em produtos frescos e não processados de origem vegetal, como vegetais, fruta e cereais integrais.
Para além disso, sublinha a importância de algumas vitaminas e minerais como a vitamina C (presente em citrinos, papaia ou pimentos), a vitamina A (presente na batata doce, cenoura ou vegetais de folha verde escura), a vitamina E (presente em óleos vegetais, frutos secos ou sementes) ou o zinco (presente em leguminosas como o feijão e as lentilhas, nozes ou sementes de abóbora ou sésamo).
O consumo de fontes alimentares de vitamina D (como peixe, gema de ovo ou alimentos fortificados) assume também um papel de extrema importância, especialmente numa fase de confinamento social em que há menor exposição solar.
As recomendações alimentares aconselham ainda a manutenção de um adequado estado de hidratação, um consumo adequado de gorduras insaturadas (como o azeite, frutos secos ou peixes gordos) e a restrição do consumo de açúcares simples e sal (13, 17).
Dieta Mediterrânica e atenuação da severidade dos sintomas da COVID-19
Todos os nutrientes e características nutricionais acima descritas estão incluídas na dieta mediterrânica, que representa uma abordagem alimentar saudável a ser seguida durante o período de confinamento social e uma potencial estratégia terapêutica para as condições associadas à infeção COVID-19 e respetiva severidade (13, 17, 18).
Para além disso, pelas suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias e pelo seu potencial imunomodulatório e antimicrobiano, a dieta mediterrânica representa uma abordagem alimentar promissora, potencialmente capaz de atenuar a severidade da infeção pelo novo coronavírus e melhorar o bem-estar geral das populações afetadas.
No entanto, a evidência científica ainda é muito recente e pouco esclarecedora (13, 18). Assim, há uma necessidade crítica e iminente em realizar um maior número de estudos, bem desenhados e em população humana, de forma a explorar todos os potenciais efeitos benéficos da dieta mediterrânica e/ou de alguns dos seus alimentos ou nutrientes-chave, na prevenção da infeção por COVID-19 ou na melhoria dos outcomes associados (13).
Por enquanto, e do ponto de vista da saúde pública, devem ser promovidos programas que estimulem a social awareness para a importância de uma alimentação saudável, variada e equilibrada, principalmente em tempos de pandemia.
Sendo de fácil adesão e de elevada riqueza nutricional, a dieta mediterrânica parece ser uma estratégia alimentar eficaz para fomentar hábitos alimentares adequados capazes de melhorar o estado de saúde geral dos indivíduos. Assim, com a redução de fatores de risco como a obesidade ou patologias cardiometabólicas será possível, potencialmente, melhorar as complicações associadas à infeção pelo novo coronavírus.
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