A icterícia neonatal, também conhecida como icterícia do recém-nascido ou hiperbilirrubinemia neonatal, é uma situação que aparece habitualmente entre o 2º e o 3º dia de vida. Cerca de 60% dos recém-nascidos desenvolvem hiperbilirrubinemia clinicamente detetável.
É caracterizada pela coloração amarelada da pele e mucosas observando-se primeiro na face e podendo progredir para o peito, abdómen e por último, para as pernas.
Na maioria dos casos a hiperbilirrubinémia é normal e transitória e com alguns cuidados médicos reverte facilmente. Contudo, existem alguns casos em que pode haver um aumento excessivo da bilirrubina no sangue, atingindo quantidades prejudiciais para o organismo, denominada icterícia patológica.
O que é a icterícia neonatal?
Este fenómeno fisiológico ocorre devido ao aumento da concentração de bilirrubina, um pigmento amarelo, no sangue do bebé.
Esta condição normalmente acontece devido ao aumento da bilirrubina indireta, devido a 3 motivos:
- Os glóbulos vermelhos dos recém-nascidos apresentam um tempo de vida mais curto quando comparado com os adultos. Enquanto um glóbulo vermelho de um adulto vive cerca de 120 dias, os dos bebés vivem apenas cerca de 80 dias;
- Nos recém-nascidos o sangue apresenta 60% de glóbulos vermelhos, enquanto no adulto apenas 40% do sangue é composto por glóbulos vermelhos;
- O fígado do recém-nascido é imaturo e sua capacidade de excreção de bilirrubina é insuficiente.
Em suma, o recém-nascido apresenta uma maior produção de bilirrubina do que um indivíduo adulto e uma menor taxa de excreção da mesma. Isto faz com que a bilirrubina vá ficando acumulada no sangue (bilirrubina indireta) dando coloração amarela à pele.
Que sinais e sintomas apresenta?
Todos os recém-nascidos desenvolvem alguma coloração amarela da pele e conjuntivas nos primeiros dias, mas nem sempre é detetável clinicamente.
O exame físico deve ser sempre realizado sob a luz natural. Uma maneira simples de detetar a icterícia é pressionar a testa do bebé, de forma a afastar o sangue desse local. Caso não haja icterícia, ao retirar o dedo a pele está temporariamente branca. Se, pelo contrário, a pele se mantiver com a cor amarelada, estamos na presença de icterícia.
Para confirmar o diagnóstico o médico aconselha a realização de exames auxiliares de diagnóstico e análises laboratoriais para determinar os valores de bilirrubina (total e indireta).
Qual é o tratamento?
Quando se trata de uma icterícia leve, o recém-nascido consegue facilmente reverter esta situação sozinho e expulsar a bilirrubina em excesso entre 4 a 7 dias.
No caso de existirem níveis mais altos de bilirrubina presente no sangue é necessária a realização de fototerapia. Normalmente, este procedimento é suficiente para eliminar a coloração amarelada da pele.
O tratamento da icterícia neonatal consiste na incidência de uma luz UV na pele do bebé, que atua partindo a molécula de bilirrubina e facilitando a sua eliminação através da urina e das fezes.
Como a eliminação deste pigmento é feita através da urina e das fezes é essencial que haja uma boa hidratação. Neste caso aconselha-se o reforço das mamadas ou da ingestão de leite artificial.
Quais são as possíveis complicações da icterícia neonatal?
Na maioria dos casos, a icterícia neonatal é tratada com sucesso através da fototerapia. Porém, existem alguns casos em que a bilirrubina pode atingir níveis tóxicos para o cérebro do recém-nascido. Este tipo de icterícia é chamado kernicterus manifestando-se entre o 3º e 6º dia de vida e passa a ser patológica.
Os primeiros sinais clínicos desta condição são:
- Sonolência;
- Falta de apetite;
- Diminuição do tónus muscular.
Se houver agravamento da situação pode surgir:
- Espasmos;
- Choro inconsolável;
- Febre;
- Vómitos.
O tratamento desta patologia requer grandes cuidados e vigilância. A reversão da situação é feita através da administração de imunoglobulina humana e exsanguineotransfusão. Este procedimento consiste na substituição de uma parte do sangue do bebé por outro de um dador compatível.
Se a icterícia patológica não for tratada atempadamente, pode provocar danos irreversíveis no cérebro do recém-nascido. As principais repercussões do kernicterus só são detetadas após o primeiro ano de vida:
- Dificuldade em sentar, gatinhar e andar;
- Alterações na oclusão dentária;
- Alterações na visão e audição;
- Atraso do desenvolvimento neurológico;
- Tremores e movimentos involuntários.