Farmacêutica Cátia Rocha
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13 Abr, 2017 - 18:05

Hepatite A: o que é, origem, como se transmite e qual o risco?

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O surto de hepatite A já afetou mais de uma centena de pessoas em Portugal. Fique a conhecer esta doença e qual o verdadeiro risco de contágio.

Hepatite A: o que é, origem, como se transmite e qual o risco?

A hepatite A é uma doença infeciosa do fígado provocada pelo vírus da hepatite A (VHA).

Este vírus, descoberto em 1975, entra no organismo através do aparelho digestivo e multiplica-se no fígado, causando neste órgão uma forte inflamação. Pertence ao género hepatovírus e é eliminado nas fezes mesmo antes do aparecimento dos sintomas, sendo este um fator importante para a sua propagação.

O número de casos registados tem sofrido um declínio, muito devido a melhorias na higiene, nas políticas de saúde pública e no saneamento.

A vacinação também contribuiu com sucesso para a redução da doença em grupos de alto risco.

QUAIS OS SINTOMAS DA HEPATITE A?

febre e hepatite A

A infeção por VHA pode não levar ao desenvolvimento de sintomas (assintomática) ou provocar doença aguda. Quando tal acontece, provoca sintomas como:

  • Febre
  • Mal-estar
  • Icterícia (pele e mucosas de coloração amarelada)
  • Colúria (urina de cor escura)
  • Perda de peso acentuada
  • Náuseas e vómitos
  • Dor abdominal

Segundo a DGS (Direção Geral da Saúde) a infeção só é sintomática em 30% dos casos com idade inferior a 6 anos. Em crianças mais velhas e adultos a infeção provoca sintomas, geralmente, em mais de 70% dos casos.

A gravidade da doença aumenta com a idade sobretudo em pessoas que tenham subjacente doença hepática crónica como esteatohepatite (doença conhecida como fígado gordo, com origem alcoólica u não-alcoólica), cirrose ou hepatite B ou C crónicas.

Qual a taxa de mortalidade?

A taxa de mortalidade é baixa, 0,3-0,6%, embora aumente com a idade atingindo 1,8% em doentes com mais de 50 anos.

Apenas em casos raros a doença se prolonga, podendo atingir uma durabilidade até 1 ano. Não evolui assim para doença crónica e, uma vez contraída, confere imunidade para toda a vida.

COMO SE TRANSMITE?

transmissão hepatite A

O risco de infeção pelo vírus da hepatite A está associado à falta de água potável, de saneamento e à falta de higiene (mãos sujas, por exemplo). Daí que seja mais frequente em países menos desenvolvidos devido á precariedade de saneamento básico.

O principal modo de transmissão é por via fecal-oral, através de fonte comum por ingestão de alimentos ou água contaminados, sobretudo em viajantes, ou por contacto pessoa a pessoa. A transmissão sexual associada aos surtos, tem sido descrita através do contacto sexual de homens com outros homens (sendo este um dos motivos identificados em parte dos casos da presente epidemia em Portugal).

Na circular informativa enviada pela DGS é referido que o principal fator de risco está relacionado com as várias formas de contacto associadas às práticas sexuais que facilitem a transmissão fecal-oral quando um dos parceiros está infetado.

O período médio de incubação é de 28-30 dias. A risco de transmissão máximo ocorre na segunda metade do período de incubação (isto é, enquanto a infeção é ainda assintomática).

O vírus da hepatite A é eliminado nas fezes em elevadas concentrações desde duas a três semanas antes até uma semana após o aparecimento dos sintomas.

QUAIS AS PESSOAS EM MAIOR RISCO DE CONTRAIR HEPATITE A?

viajar para áfrica e transmissão de hepatite A

Estão em maior risco de adquirir hepatite A pessoas não vacinadas que:

  • Viagem para áreas endémicas (Ásia, África, América Central e do Sul);
  • Ingiram alimentos ou água contaminados;
  • Tenham práticas sexuais em que um dos parceiros esteja infetado que incluam sexo anal ou oro-anal. É também considerado comportamento de risco sexo anónimo com múltiplos parceiros;
  • Consumam drogas injetáveis ou não injetáveis;
  • Possuam défices nos fatores de coagulação, pois têm maior risco de desenvolver a doença quando entram em contacto com o vírus.

A higiene pessoal, familiar e doméstica, com particular ênfase na lavagem das mãos, região genital e perianal, são altamente efetivas no controlo da transmissão.

COMO É DIAGNOSTICADA E QUAL O TRATAMENTO DA HEPATITE A?

Diagnóstico

diagnóstico de hepatite A

O diagnóstico é estabelecido através da deteção de anticorpos anti-VHA IgM (anticorpos desenvolvidos pelo nosso organismo quando entram em contacto com o vírus da hepatite A).

Estes anticorpos são detetáveis no início da fase sintomática, atingem o seu pico durante a fase aguda e permanecem detetáveis aproximadamente durante 3 a 6 meses.

Tratamento

vacinação e hepatite A

O tratamento é efetuado no sentido de aliviar os sintomas, podendo passar por analgésicos e antipiréticos (para ajudar a baixar a febre) e medicamentos que ajudem a parar as náuseas e os vómitos (antieméticos).

Não existe um tratamento considerado específico no que à hepatite A diz respeito, pelo que a atenuação da dor é a melhor abordagem.

A ingestão de álcool é absolutamente desaconselhada e os fármacos com metabolização hepática ou que possam ser tóxicos para o fígado devem ser utilizados com precaução.

Pessoas com reconhecida exposição recente ao vírus, previamente não vacinadas, devem receber profilaxia pós-exposição com imunoglobulina ou a vacina contra o vírus, conforme recomendação médica.

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