Share the post "Gestão de stress e importância do exercício físico durante o confinamento"
O stress e a incerteza são uma presença constante nos tempos em que vivemos e, nesse sentido, o exercício físico e as atividades que nos relaxem podem ajudar não só a acalmar o nosso lado mais emocional, mas também a dormir melhor.
Com a entrada em vigor do período de desconfinamento, ainda que gradual, avizinham-se mais dúvidas e até inseguranças sobre como agir no trabalho e em sociedade.
Com este propósito, o Vida Ativa esteve à conversa com José Soares, Professor de Fisiologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde foi abordado o tema: “E depois da quarentena? A gestão do stress e a importância do exercício físico”.
Conheça, então, os conselhos de quem sabe bem do que fala, para que o regresso ao trabalho e a algumas atividades sociais possa decorrer da forma o mais pacífica possível e sem aumentar significativamente os níveis de stress e de ansiedade.
Gestão de stress e importância do exercício físico: a opinião de José Soares
“Acho que estamos preocupados por um lado com a saúde, mas por outro lado, com uma pressão muito grande do ponto de vista económico e isso é uma coisa que vamos pagar.”
Na opinião do professor José Soares, “a sociedade não está preparada, de um dia para o outro, num curto espaço de tempo, para o desconfinamento”, seja por não se saber bem o que fazer, seja por falta de hábitos ou até de material de proteção.
A título de exemplo, José Soares refere o uso de máscaras, agora obrigatório em determinados contextos. “As máscaras são uma forma de proteção e toda a gente deve usar. Se não usar, na minha perspetiva vai ter de ser penalizado por isso, porque não só não se está a proteger a si próprio como não está a proteger os outros.” O professor admite que existe “indecisão nesta área e deveria haver mais assertividade dos órgãos de decisão.”
“Podemos vir a baixar a nossa produtividade”
“Falar em medidas de proteção e de distanciamento social com crianças de 4, 5 ou 6 anos ou até no caso das universidades em que houve um ímpeto de se abrir rapidamente” são assuntos complexos e que podem ter repercussões na atividade profissional dos diferentes intervenientes do processo.
Enquanto professor, José Soares antevê dificuldades em lidar com os alunos e com os cuidados a ter nesta fase.
“Hoje vivemos como se tivéssemos uma nuvem sobre a cabeça, o que significa que estamos a ocupar uma parte do nosso cérebro de uma forma subliminar, sem quase nos apercebermos com preocupações que vêm da doença, que vêm dos nossos familiares e desta loucura de informação que recebemos a todo o momento.” Além de que isto gasta energia, visto que há mais emoções para gerir, e que poderia ser utilizada para “estarmos mais concentrados, para não termos falhas de memória a curto prazo, para podermos fazer as nossas coisas normalmente.”
Estamos num momento de indecisão, sem sabermos o que vai acontecer “não estou a conseguir antecipar o meu contacto com alunos”, defende.
Como atenuar todos estes efeitos?
Na opinião do professor, “há poucas formas relativamente fáceis de gerirmos o stress”. Técnicas de relaxamento e meditação – muito faladas atualmente – podem ser uma alternativa, “mas são extremamente difíceis de alcançar”, porque não basta ver um webinar para se tornar num especialista.
“O exercício físico é uma forma muito mais simples de as pessoas conseguirem relaxar e estimular o sistema nervoso simpático”, o que ajuda na gestão de stress pela produção de serotonina, como se a sua prática provocasse um efeito calmante. Porém o que deve fazer para relaxar e descontrair “não é o exercício de alta intensidade, não é o exercício demasiado prolongado. É um exercício de muito baixa intensidade, um exercício pouco exigente, sem grande exigência física, porque esse é altamente relaxante, pois o contrário pode ser altamente estimulante.”
A importância de uma boa noite de sono
Existem vários relatos de pessoas com perturbações de sono durante este período e uma dessas razões, na opinião, de José Soares, é “termos um grau de participação do sistema nervoso simpático relativamente elevado, sem nos apercebermos” e isto tem impacto na qualidade do sono. Não é, então, de estranhar que muitas pessoas “acordem a meio da noite, ou acordem de manhã sem a sensação de que descansaram devidamente”.
Mas existe ainda outro problema para tal: “a falta de luz. Ao estarmos confinados apanhamos pouca luz, particularmente raios UV”. Por isso, deixa a sugestão: mesmo que não tenha jardim ou varanda, fique durante cerca de 15 a 20 minutos na janela, a apanhar sol, porque “tal é decisivo para regular os nossos ritmos circadianos.”
A juntar a esta dificuldade em dormir bem está ainda a perda de rotinas: “as pessoas deitam-se mais tarde, acordam mais tarde e naturalmente que isso tem impacto na qualidade do sono.” Até porque “uma das regras fundamentais para mantermos um sono retemperador é mantermos os nossos horários para nos deitarmos e levantar.”
Não estamos nesta fase a ter cuidado com o sono, a “preparar o sono”, isto é, por exemplo, desligar o computador atempadamente e não prolongar o horário de trabalho pela noite dentro, permitindo que o corpo acalme e se prepare para o descanso. Por isso, aproveite as horas antes de se deitar para fazer algo que o deixe tranquilo e relaxado, seja ler, ouvir música, fazer uma caminhada. “Cada um tem de encontrar as suas técnicas”.