A gastroenterite infantil é a doença gastrointestinal mais frequente, sendo associada na maioria dos casos a crianças em idade pré-escolar ou escolar.
É uma patologia com impacto a nível mundial, uma vez que é responsável por um elevado número de recorrências à urgência e internamentos hospitalares, bem como pode levar a abstenção escolar e impossibilidade do cuidador da criança ir trabalhar durante o período de tratamento.
Esta situação é particularmente grave nos países em desenvolvimento, devido à falta de cuidados médicos e tratamento, não esquecendo a maior vulnerabilidade das crianças, provocando a morte de um número considerável de crianças anualmente.
Já nos países desenvolvidos, como é o caso de Portugal, as crianças têm um fácil acesso aos cuidados de saúde, que são prestados com uma qualidade de excelência, bem como se verifica que as mesmas são bem alimentadas e hidratadas, quer em casa, como nas escolas, o que contribui para uma diminuição do seu aparecimento, bem como uma diminuição do número de complicações associadas à doença.
Gastroenterite infantil: em que consiste a doença?
Esta doença surge nas crianças, principalmente as que frequentem infantários, creches ou escolas, e consiste numa inflamação do sistema digestivo, manifestando-se na maioria das vezes por vómitos e/ou dejeções líquidas (diarreia).
Esta inflamação pode ser provocada por:
- Vírus, é a causa mais comum, sendo que os vírus mais frequentes são o Norovírus (mais comum nos Estados Unidos), Rotavírus, Adenovírus ou o Astrovírus. A forma vírica é altamente contagiosa e dissemina-se facilmente, especialmente de uma criança para outra.
- Bactérias, sendo as mais usuais de causar a infeção:
- Escherichia coli [E. coli];
- Salmonella;
- Campylobacter;
- Clostridium difficile.
- Parasitas.
Gastroenterite infantil: quais são os sintomas associados?
Esta patologia pode ser pautada por um ou mais dos seguintes sintomas, variando de pessoa para pessoa:
- Vómitos;
- Diarreia (aumento da frequência das dejeções, que apresentam uma consistência líquida);
- Falta ou diminuição do apetite;
- Desidratação (desequilíbrio dos eletrólitos no sangue) devido aos sintomas anteriores, que se manifesta por olhos encovados, boca seca, sensação de língua grossa e redução do volume de urina, que adquire uma coloração escura. As crianças com desidratação leve sentem sede, mas as que se encontram gravemente desidratadas ficam apáticas, irritáveis ou letárgicas;
- Febre (temperatura corporal acima dos 38ºC);
- Cólicas abdominais intensas.
Gastroenterite infantil: como prevenir o seu aparecimento?
A melhor forma de evitar a gastroenterite infantil é incentivar as crianças e as pessoas (pais, professores, auxiliares de educação, cozinheiros, etc.) que cuidam delas a lavarem as mãos e ensiná-las a evitar alimentos mal cozinhados ou armazenados inadequadamente, bem como, evitar ingerir água contaminada.
Atualmente existem duas vacinas que não se encontram incluídas no plano nacional de vacinação, a Rotarix e a Rotatec que ajudam a prevenir a infeção pelo rotavírus, mas que são muito recomendadas pela comunidade dos pediatras. A administração da vacina na criança não significa que não vá desenvolver a doença, mas ajuda a diminuir a incidência da mesma.
Outros cuidados a ter para evitar a gastroenterite infantil são:
- Amamente o seu filho sempre que assim lhe for possível;
- No caso dos bebés que são alimentados com leite artificial, quem prepara o leite deverá lavar muito bem suas mãos antes de preparar os biberões, bem como ter os cuidados de higiene e limpeza adequados com os biberões e tetinas, e utilizar água fervida na preparação do leite;
- Não se esqueça de ter os cuidados inerentes à troca da fralda, isto é, lavar sempre as mãos com cuidado depois de trocar a fralda, bem como desinfetar bem a área de mudar as fraldas.
Gastroenterite infatil: como se transmite?
A forma vírica desta doença costuma disseminar-se através da transmissão fecal-oral, isto é, é transmitida quando o vírus que se encontra nas fezes da pessoa contaminada é levado à boca de outra pessoa, na maioria das vezes de forma indireta.
Esta contaminação ocorre quando, por exemplo, acontece algum dos seguintes casos:
- A criança contaminada ou cuidador apresentam as mãos contaminadas e não têm os cuidados de higiene adequados com as mãos;
- Através do toque em objetos contaminados (por exemplo uma fralda) e posteriormente, essa pessoa leva as mãos à boca;
- A gastroenterite viral também pode ser disseminada através da saliva, quando a pessoa contaminada espirra ou cospe.
No caso da gastroenterite infantil de causa bacteriana, esta pode-se transmitir quando a criança:
- Toca ou come alimentos contaminados ou que não foram cozinhos adequadamente, denominada muitas vezes de intoxicação alimentar;
- Bebe leite ou sumos não pasteurizados;
- Mexe em animais portadores de determinadas bactérias (exemplo: tartarugas, sapos, etc.);
- Engole ou nada em água contaminada (por exemplo, do poço, parques aquáticos, etc.);
- Após a toma de antibióticos, pode desenvolver uma infeção designada de Clostridium difficile.
Gastroenterite infantil: como se diagnostica?
O diagnóstico desta patologia é feito, essencialmente, através dos sintomas descritos pela criança e pelos pais da criança, histórico da criança e o exame físico realizado pelo médico.
Em geral, não são pedidos exames de diagnóstico, uma vez que, na maior parte dos casos, a gastroenterite apresenta uma curta duração. No entanto, em determinadas situações poderá ser necessário realizar um exame a uma amostra das fezes da criança, para ajudar a diagnosticar o agente causal, bem como orientar melhor tratamento.
Outro exame que é solicitado em alguns casos é a análise ao sangue, para despistar complicações, como por exemplo, a desidratação.
Gastroenterite infantil: quais são as formas de tratamento?
Na maior parte dos casos, a forma de tratamento consiste no controlo dos sintomas, ou seja, consiste em:
- Aumento da administração de líquidos e soluções de reidratação oral para prevenir ou tratar a desidratação:
- Fazer uma pausa alimentar e hídrica de 30 minutos e depois começar por incentivar a beber pequenas quantidades de líquidos (pequenos goles), mas com elevada frequência (a cada 5-10 minutos ingerir uma pequena porção);
- Se tolerar (ou seja, se não vomitar), deverá aumentar a quantidade de líquidos a ingerir e depois progredir para uma dieta adequada e pobre em gorduras e produtos lácteos;
- No caso de diarreia significativa, poderá ser necessária, a redução do consumo de produtos lácteos;
- No caso de apresentar febre, é necessária a administração de antipiréticos (por exemplo, o Paracetamol). Se a criança estiver a vomitar convém que a administração seja retal. No caso de apresentar diarreia, é necessário esperar que a criança tolere os líquidos para lhe administrar o medicamento oralmente);
- Repouso absoluto;
- Administração de medicamentos para parar os vómitos e diarreia, se prescritos pelo médico, tais como:
- Ondasetron: no caso de vómitos incoercíveis. Pode ser administrado por via oral ou intravenosa;
- Probióticos, podem reduzir a duração da diarreia, caso as pessoas comecem a tomá-los logo após a doença começar.
- Quando o estado de desidratação é moderado a grave (a criança apresenta-se letárgica, boca seca, chora e não caem lágrimas, bem como apresenta uma redução significativa da produção de urina), é necessário que a hidratação seja feita via intravenosa (pela veia);
- No caso de uma infeção bacteriana, administração de antibióticos;
- As crianças com diarreia não devem regressar à creche/escola, enquanto os seus sintomas não tenham desaparecido.