A gravidez é um período de grande exigência para o organismo da mulher, no sentido em que ocorrem modificações anatómicas e fisiológicas que afetam diferentes funções no organismo, nomeadamente o metabolismo materno, fazendo com que as necessidades nutricionais e energéticas sejam superiores.
No entanto, é importante monitorizar, com regularidade, o ganho de peso durante a gravidez, de modo a promover um adequado desenvolvimento fetal e evitar complicações durante o parto, assim como o desenvolvimento de problemas de saúde por parte da mãe, entre os quais a diabetes gestacional.
Necessidades nutricionais e energéticas na gravidez
Com efeito, e para assegurar o adequado desenvolvimento de um novo ser vivo, a mulher grávida tem necessidades aumentadas de energia e de nutrientes, as quais dependem diretamente do trimestre de gravidez em que se encontra (as necessidades vão aumentando até ao terceiro trimestre).
Tal facto deve-se, essencialmente, ao aumento do metabolismo basal da mulher, devido a um aumento do trabalho cardíaco e respiratório e do crescimento de tecidos maternos e fetais.
Para se ter uma ideia, relativamente ao valor pré-gravídico, o aumento médio do metabolismo basal pode ascender aos 19%, o que representa um aumento do gasto energético diário em repouso de cerca de 180 kcal.
Além do aumento do metabolismo, verifica-se também a alteração do metabolismo lipídico, no sentido de favorecer a acumulação de reservas lipídicas na primeira metade da gravidez, e a sua posterior mobilização na segunda metade.
Como se alteram as necessidades nutricionais na gravidez?
No caso do primeiro trimestre, o metabolismo basal e o gasto energético total não se alteram significativamente. Como tal, o ganho de peso deverá ser mínimo, não estando recomendado um consumo adicional de energia.
No caso do segundo e terceiro trimestres, e ainda que as necessidades energéticas diárias possam variar muito entre mulheres grávidas, preconiza-se um aumento da ingestão energética em cerca de 340 e 450 kcal, respetivamente, além das 2000 kcal recomendadas diariamente.
Relativamente ao valor energético total consumido pela grávida, cerca de 45%–65% desse valor deve provir dos hidratos de carbono, 20%–35% dos lípidos e 10%–25% da proteína.
Se a mulher respeitar os aumentos acima referidos e se se alimentar nessa proporção, o ganho de peso durante a gravidez será controlado e permitirá um adequado desenvolvimento do bebé.
Caso isso não aconteça, e o embrião / feto for exposto a défices ou excessos nutricionais, em períodos de particular sensibilidade de multiplicação celular, o desenvolvimento, a função e estrutura de diversos tecidos e órgãos pode ficar afetado, de forma irreversível, para toda a vida.
Ganho de peso durante a gravidez: como deverá ser?
Como já referido anteriormente, inerente ao aumento das necessidades energéticas na gravidez está o ganho de peso durante a gravidez, o qual influencia o peso da criança ao nascer, bem como a saúde e o retorno ao peso normal após este período.
Um ganho de peso da grávida aquém das suas necessidades, está associado ao aumento do risco de atraso de crescimento intrauterino e mortalidade perinatal, enquanto um ganho de peso excessivo está associado a maior probabilidade de excesso de peso / obesidade na infância e adolescência e, consequentemente, a um maior risco de problemas de saúde.
IMC da grávida
As recomendações do ganho de peso materno na gravidez são especificadas de acordo com o IMC pré-gravídico, na medida em que se o peso da mãe antes da gravidez for já excessivo, a margem de aumento será muito menor, de modo a não prejudicar o desenvolvimento da criança nem a saúde da mãe.
Assim sendo, e para mulheres normoponderais (IMC entre 18,5 e 25 Kg/m2), o ganho médio de peso no primeiro trimestre deverá rondar os 1,6 kg, enquanto no segundo e terceiro trimestres deverá corresponder a 0,44 kg/semana, o que perfaz um ganho ponderal total de cerca de 12,5 kg.
Caso a grávida apresente baixo peso antes da gravidez (IMC inferior a 18,5 Kg/m2), poderá aumentar até 18 Kg durante a gravidez. Por outro lado, se for uma mulher que, antes de engravidar, já apresenta excesso de peso ou obesidade (IMC superior a 25 Kg/m2), não deverá ganhar mais do que 9-10 Kg durante este período.
No caso de uma gravidez de gémeos, o ganho ponderal poderá ascender aos 20,4 kg.
IMC (Kg/m2) da mulher antes de engravidar | Ganho de peso total durante a gravidez |
Inferior a 18,5 | 12,5-18 Kg |
Entre 18,5-24,9 | 11 – 16 Kg |
Entre 25-29,9 | 7-11,5 Kg |
Superior a 29,9 | 5-9 Kg |
Fonte: Institute of Medicine (IOM 2009)
Em suma
Se a alimentação durante a gravidez for equilibrada e se incluir algum tipo de exercício físico, este ganho de peso mencionado será derivado do peso de tecidos, como útero, tecido mamário, placenta, da retenção de líquidos e o próprio peso do feto, e não propriamente do ganho de massa gorda.
Por último, importa referir que além do cumprimento das necessidades energéticas e do controlo do ganho ponderal, é crucial a adoção de um estilo de vida saudável, mesmo antes da gravidez, no sentido de otimizar a saúde da mãe e do bebé e reduzir o risco de complicações durante a gravidez.