Danielle Paiva
Danielle Paiva
12 Out, 2019 - 09:05

Flora vaginal saudável: 5 cuidados que deve ter

Danielle Paiva

Uma flora vaginal saudável tem uma proteção natural contra infeções, razão pela qual deve ter cuidados diários específicos para preservá-la.

Flora vaginal saudável: 5 cuidados que deve ter

Uma flora vaginal saudável é maioritariamente habitada por Lactobacillus (cerca de 95% dos microrganismos no trato genital feminino pertencem a este género), especialmente Lactobacillus crispatus, Lactobacillus gasseri e Lactobacillus jensenii.

O trato genital feminino e os microrganismos que nele habitam formam um ecossistema equilibrado, importante para garantir a saúde da mulher e fornecer defesas contra infeções. (1)

Vários factores podem interferir no bem-estar genital feminino e na flora vaginal saudável. A atividade sexual, tipo de alimentação, vestuário, estado hormonal, emocional e hábitos de higiene são factores reconhecidos para o bem-estar e, em certos casos, podem causar vários distúrbios nos genitais.

5 cuidados para manter uma flora vaginal saudável

Flora vaginal saudável: 5 cuidados que deve ter

1 . Cuidados de higiene para manter a flora vaginal saudável

É importante que as mulheres conheçam a sua própria anatomia. Para isso, devemos chamar a atenção para que, com um espelho, analisem com detalhe a região genital.

Importa saber que a região interna da vagina não está aconselhada a introdução de produtos, excepto sob prescrição médica, e que as zonas a lavar devem ser o monte púbico, a pele da vulva, a raiz das coxas, a região perianal e o interior dos grandes e dos pequenos lábios.

Produtos para a higiene genital feminina

Os produtos agrupam-se segundo a sua função, em agentes de limpeza, hidratação, protecção e facilitação das relações sexuais.

Agentes de limpeza

Os agentes de limpeza não têm a finalidade de esterilizar a região, que é normalmente colonizada por bactérias, mas sim garantir a eliminação de resíduos, de secreções e de terem dermocompatibilidade com as mucosas. Isto é, não irritar nem ressecá-las, não alterar o manto lipídico (função de barreira), manter o pH ligeiramente ácido, ter ação refrescante e desodorizante, viscosidade adequada e capacidade espumante.

Estes são alguns exemplos de agentes de limpeza:

Gel: por norma, estes produtos são constituídos por uma fase aquosa (95% de água ou álcool), com pouca ou nenhuma quantidade de lipídios. Têm agentes tensoactivos suaves, aos quais se associam agentes gelificantes hidrofílicos que fazem espuma com a massagem e lhe conferem poder adstringente, cujo uso é muito agradável, produzindo sensação de frescura;

Toalhetes humedecidos: têm base celulósica embebida em detergentes suaves e com adição de produtos amaciadores, fragrâncias e outros constituintes. Têm pH na faixa de 5 a 6, sendo úteis em algumas situações (higiene fora de casa, sanitários de uso público, etc.);

Sabonete em barra: os sabonetes em barra são os mais utilizados na higiene feminina em geral, seja pela tradição ou pelo preço. Apesar da sua popularidade, facilidade de uso e preços mais acessíveis, o uso rotineiro na genitália feminina pode trazer consequências indesejadas, uma vez que, pela sua composição e pH alcalino, podem promover secura e diminuição da acidez da pele vulvar e região adjacente.

Como factor negativo dos sabonetes em barra, considera-se, além do pH alcalino ou menos ácido, a maior probabilidade do uso compartilhado por outras pessoas do domicílio, aumentando o risco de contaminação;

Sabonetes líquidos íntimos: vários sabonetes líquidos íntimos são produtos à base de ácido láctico, por este ser um componente natural da pele, que diferem entre si pelos vários excipientes associados. Existem muitos compostos presentes nos sabonetes líquidos, sendo os mais importantes: ácido láctico;  glicerina; sais de ácidos gordos, que retiram a sujidade da pele, controlam o pH e EDTA para evitar a precipitação (combinação de cálcio e magnésio, quando usado com águas duras – água do mar).

O seu principal atributo é manter o pH mais próximo do ideal para o desenvolvimento e manutenção das células da pele. Os sabonetes líquidos específicos para higiene da genitália feminina são recomendados apenas para uso da genitália externa e não são indicados para fazer lavagens vaginais. Também não são indicados para tratar infecções ou inflamações genitais.

Hidratação

A última etapa da higiene é geralmente a mais negligenciada – a hidratação. Especialmente após a menopausa, em que a pele se encontra mais seca, devem ser recomendadas fórmulas não oleosas, as quais devem ser aplicadas apenas nas regiões de pele.

As peles secas deverão ser hidratadas, assim como se faz nas demais áreas do corpo. Os hidratantes deverão ser gel ou cremes vaginais de base aquosa e com pH ácido e compatíveis com a mucosa vaginal. Podem conter glicóis e ácido láctico.

Proteção

O uso sistemático do penso higiénico diário não é recomendado. Nas mulheres com excesso de transpiração ou incontinência urinária, é importante manter o ambiente genital seco recorrendo ao uso de pensos higiénicos respiráveis (sem película plástica) ou outro vestuário absorvente adequado.

Recomenda-se o recurso a roupa interior extra disponível quando necessário. (2)

2. O estado hormonal e as alterações na flora vaginal saudável

A morfologia e fisiologia da vulva e da vagina mudam ao longo da vida. Durante as diferentes fases da vida da mulher (puberdade, ciclo menstrual, gravidez e menopausa) surgem importantes variações influenciadas principalmente pelo estado hormonal.

As diferentes condições fisiológicas e variáveis, como o uso de agentes contraceptivos, a frequência do coito, o duche vaginal, o uso de pensos diários e desodorizantes vaginais, a utilização de antibióticos ou outros medicamentos com atividade imune ou endócrina, influenciam a composição do meio.

Nas mulheres em idade reprodutiva, a mucosa vaginal responde ao ciclo hormonal, exibindo espessura máxima  no meio do ciclo. No decurso do ciclo menstrual, os níveis vaginais de hormonas  variam.

A espessura da pele vulvar permanece inalterada, mas a nível citológico, celular,  existem alterações ao longo do ciclo menstrual. Contudo, os níveis de bacilos de Doderlein vaginais parecem manter-se constantes ao longo do ciclo.

As espécies não-lactobacilíferas aumentam durante a fase proliferativa, enquanto a concentração de Candida albicans, fungo presente na flora vaginal, sem causar doença quando em equilíbrio, é superior mais próximo da menstruação.

Menstruação

A mulher que normalmente apresenta pH ácido e flora vaginal com  (predomínio de lactobacilos), terá um achatamento celular por descamação intensa por influência das alterações hormonais.

Na pele da vulva em contacto com a menstruação surgem alterações da flora microbiológica local. O fluxo menstrual altera o pH vaginal, tornando-o alcalino e proporcionando um substrato para muitos microrganismos. Predominam as bactérias anaeróbicas na flora vaginal.

Gravidez

O epitélio vulvar e vaginal sofre influências hormonais nesta fase especial da mulher. Surge uma maior quantidade de secreção vaginal, alteração do pH e da flora vaginal.

A concentração dos lactobacilos eleva-se pelo estímulo hormonal, acidificando o meio (pH < 4,5). Quase todas as grávidas referem corrimento vaginal, prurido e ardor em algum momento da gravidez, o que dificulta o diagnóstico e tratamento correcto neste período.

As infecções genitais persistentes durante a gravidez aumentam o risco de parto pré-termo.

Climatério – Menopausa

Nesta fase o pH e flora vaginais tornam-se semelhantes ao da infância, visto que existe um declínio da produção hormonal, com atrofia e achatamento das camadas celulares da mucosa vaginal, com dificuldade para manutenção dos pH e floras ideais.

A presença de lactobacilos é da ordem de 62%, sendo mais prevalente nas mulheres em terapêutica hormonal de substituição.

A colonização pela Escherichia coli é maior nas mulheres com deficiência de estrógenos, não sendo necessariamente associada à actividade sexual. O ambiente vaginal torna-se muito semelhante ao do período pré-pubere, incluindo microrganismos da flora fecal e da pele.(2)

3. Integridade da pele e as alterações na flora vaginal saudável

A integridade da mucosa é importante factor de proteção. Constitui uma superfície capaz de sofrer distensão, retração e adaptação a diversas circunstâncias.

O equilíbrio da barreira cutânea pode ser facilmente alterado pelo uso de determinado tipo de vestuário, de pensos higiénicos, menstruação e uso de produtos de higiene inadequados (2).

Para manter a pele em perfeito estado, deve-se optar, preferencialmente, pelo uso de cuecas de algodão, não utilizar pensos higiénicos de uso diário e dormir sem roupa íntima. Deve-se ter atenção também para com a depilação da região, pois uma lesão na pele pode levar a alterações da flora vaginal.

4. A atividade sexual e as alterações na flora vaginal saudável

Nos casos em que existe secura e irritação durante o ato sexual, deve ser recomendado o uso de um lubrificante sem substâncias químicas que irritam a pele vulva/vagina.

Pode ser necessário utilizar preservativo para evitar o contacto do esperma com os genitais, diminuindo o ardor e irritação após a relação sexual. Após ato sexual, lavar a área genital externa com água e produto de higiene íntima. Não se recomendam lavagens vaginais (2).

5. A alimentação e as alterações na flora vaginal saudável

Os probióticos orais podem actuar na manutenção da flora vaginal saudável. Existem estudos que indicam que certas espécies de lactobacilos são capazes de sobreviver ao pH do estômago e à exposição dos sais biliares, podendo passar para o intestino.

Depois de atingirem o cólon, podem atingir a vagina e o tracto urinário com viabilidade. Como alternativa, podem ser aplicados na vagina (1).

Beber água e manter uma alimentação rica em fibras, frutas, vegetais e pobre em açúcar, contribui para a manutenção da flora vaginal saudável.

Veja também

Fontes

1. FERREIRA, C. (2014). “Comparação da microbiota vaginal entre mulheres Portuguesas saudáveis ou com vaginose bacteriana, através de tipagem molecular”. Disponível em:  http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/34083/1/Carla%20Sofia%20da%20Silva%20Ferreira.pdf
2. ÁGUAS, F. (2012). “Sociedade Portuguesa de Ginecologia.Revisão dos consensos em infecções vulvovaginais”.  Disponível em: http://www.spginecologia.pt/uploads/revisao_dos_consensos_em_infeccoes_vulgovaginais.pdf

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