Será que que o excesso de videochamadas pode, de alguma forma, ser prejudicial à saúde mental? Será esta, sempre, uma boa escolha? Vamos tentar descobrir.
A tecnologia mudou – e muito! – a nossa forma de comunicar e interagir com os outros. Uma das grandes mudanças é a possibilidade de fazer videochamadas – que tornou-se num hábito, tanto para encurtar as distâncias profissionais, como para por a conversa em dia com aqueles de quem mais gostamos.
Excesso de videochamadas: como nos afeta?
Quantas videochamadas faz por dia? Provavelmente, muitas. Para os pais, amigos, colegas de trabalho, clientes, e muitos mais. Sejam quais forem os destinatários, o mais provável é que as videochamadas ocupem alguma parte do seu dia.
A tecnologia, que pareceu “salvar-nos” nos períodos de isolamento durante a pandemia, pode hoje estar a causar impacto negativo ao nível da saúde mental. E, ao que tudo parece indicar, este impacto pode estar associado ao excesso de videochamadas.
De facto, sentimo-nos gratos pelas inúmeras possibilidades que as novas plataformas de comunicação nos oferecem, mas alguns de nós sentem-se emocionalmente e energeticamente exaustos perante o excesso de videochamadas diárias.
A fadiga das videochamadas
A fadiga das videochamadas é uma experiência totalmente nova mas que parece ser prevalente e intensa. Descreve o cansaço, a preocupação e/ou o esgotamento associados à utilização excessiva das plataformas virtuais de comunicação.
A ciência tem feito um esforço para compreender este fenómeno e quais as suas motivações e implicações, nomeadamente ao nível da saúde mental. Vamos conhecer algumas delas.
A falta de recompensa percebida
Sentimo-nos mentalmente desgastados/exaustos quando apesar de despendermos a nossa atenção, energia e motivação, não recebemos a recompensa desejada por esse esforço/desempenho.
As interações sociais estão muito associadas aos nossos circuitos cerebrais de recompensa e, as interações sociais realizadas cara-a-cara ativam mais esses circuitos cerebrais quando comparadas com as interações virtuais, ou seja, fazem-nos sentir mais recompensados, mais satisfeitos, mais motivados e menos fatigados.
A falta de contacto ocular
O contacto ocular contribui para uma maior qualidade das interações sociais. Tendem a ser mais rápidas, facilita a memorização dos rostos, incentiva a maior simpatia e atratividade pelo outro.
A comunicação por vídeo parece comprometer estes benefícios, na medida em que o olhar tende a ser direcionado para a câmara e a dividir-se entre os diferentes interlocutores da videochamada.
Maior esforço cognitivo
Grande parte da comunicação é inconsciente e não-verbal, na medida em que o conteúdo emocional é rapidamente processado através de pistas sociais como o toque, a atenção conjunta e a postura corporal.
Estas pistas não-verbais não são usadas apenas para adquirir informações sobre as outras pessoas, mas também para preparar um resposta adaptativa e para permitir uma comunicação recíproca, tudo isto em milissegundos.
No vídeo, a maioria destas pistas são difíceis de visualizar (o ambiente não é compartilhado, limitando a atenção conjunta; as expressões faciais mais subtis e as de corpo inteiro dificilmente são visualizadas). Sem a ajuda destas pistas, das quais dependemos para avaliar o outro e criar vínculos sociais e emocionais, é necessário um esforço cognitivo e emocional compensatório.
Maior sedentariedade
A prática de atividade física está associada a uma redução do risco de fadiga mental. O nosso dia a dia moderno, repleto de atividades a serem realizadas na secretária e de videochamadas, torna-se mais sedentário.
O resultado disto é a fadiga mental, diante das redes sociais, das videochamadas, etc.
Mas quais são as soluções?
Há formas de aprimorar o uso destas plataformas, cuidando melhor do nosso bem-estar mental. Descubra-as de seguida.
1. Estar alerta para o nosso bem-estar mental. Avaliá-lo com frequência. Perceber as nossas necessidades e desejos. Respeitar os momentos de sobrecarga e exaustão e, nessas alturas, fazer uma pausa das interações por videochamada.
2. Escolher quais as plataformas de comunicação à distância que mais se adequam a cada um de nós. Refletir sobre quais são menos desgastantes, mais dinâmicas, menos exaustivas.
3. Ser criativo. Aumentar a espontaneidade e a autenticidade dos encontro digitais.