A obesidade infantil afeta um número crescente de crianças em Portugal e é já encarada como um problema de saúde pública, estando associada a um aumento da probabilidade de desenvolvimento de obesidade na idade adulta.
Como tal, a prática de uma alimentação infantil saudável e a identificação dos principais erros na alimentação da criança são importantes, não só para prevenir esta epidemia como para garantir o seu adequado crescimento e desenvolvimento.
De facto, a prática de uma alimentação infantil saudável aumenta a probabilidade de a criança manter esses hábitos ao longo da sua vida, tornando-se um adulto mais saudável e menos propenso ao aparecimento e desenvolvimento de doenças.
Neste sentido, é importante conhecer quais os principais erros na alimentação da criança de modo a ultrapassá-los e orientar a criança para uma alimentação saudável, adequada e equilibrada.
Quais os principais erros na alimentação da criança?
Em primeiro lugar, é fundamental salientar que as crianças imitam os pais em tudo, incluindo na alimentação.
Como tal, a melhor maneira de promover uma alimentação infantil saudável e minimizar os erros na alimentação da criança é dando o exemplo e praticar também uma alimentação equilibrada.
1. Incluir refrigerantes nas refeições
A água deve ser a bebida que acompanha as refeições, devendo ser consumida também durante o dia, entre as diferentes refeições.
Já os sumos de fruta e os refrigerantes devem ser evitados pelo seu elevado teor em açúcar e/ou adoçantes.
Por refrigerantes entende-se não são só os gaseificados, mas também os não gaseificados (ex. Ice Tea), pois todos possuem o que se chama “calorias vazias”, ou seja, as calorias que fornecem são quase exclusivas do açúcar e são desprovidas de qualquer valor nutricional importante para a saúde da criança.
Deixe este tipo de bebidas para ocasiões especiais, como festas e fins de semana.
2. Não incluir a sopa no início da refeição
Todas as refeições principais deverão iniciar-se com a sopa de legumes, preferencialmente sem batata, visto que é um alimento comummente incluído no prato da refeição.
A sopa é um alimento nutricionalmente muito rico, que fornece vitaminas, minerais e ajuda na hidratação, potenciando a saúde da criança. Além disso, é um alimento saciante, o que diminui a probabilidade de ingerir elevado volume de alimentos no prato e sobremesas.
3. Dispensar os hortícolas no prato
Além da sopa, também os hortícolas, tanto crus como cozinhados devem fazer parte do prato. Varie dentro dos diferentes hortícolas, de modo a que a criança obtenha uma maior diversidade de nutrientes.
Adicionar legumes na confeção do arroz/massa também poderá ser uma boa estratégia para introduzir os legumes na alimentação da criança.
Caso a criança se recuse a comer os legumes, insista com paciência, de modo a que ela os aceite cada vez melhor. Desistir à primeira tentativa, é um dos maiores erros na alimentação da criança.
4. Permitir o consumo de sobremesas doces em detrimento da fruta
A fruta deverá ser a sobremesa a privilegiar em detrimento de sobremesas doces, como bolos, biscoitos, gelados, chocolate, entre outros, visto que os açúcares que fornece são naturais e além disso é um ótimo veículo de vitaminas, minerais e fibras.
Os iogurtes de aromas / pedaços também não são uma boa opção, visto que a maioria tem teores de açúcar bastante altos (exceto os naturais) e o cálcio proveniente dos laticínios, quando é ingerido na refeição, diminui a absorção do ferro, fornecido pela carne, peixe e ovos.
5. Permitir o consumo de produtos de pastelaria, bolachas e cereais açucarados
Os produtos de pastelaria (croissants, bolos, pães de leite), as bolachas e a maioria dos cereais destinados ao pequeno-almoço das crianças são ricos em açúcar e / ou gordura, não sendo, por isso, uma opção interessante para as refeições do seu filho.
Prefira o pão, os flocos de aveia e os cereais sem adição de açúcar (ex. Corn Flakes), pois não contêm açúcar nem gordura, são alimentos mais saciantes e muito menos processados.
Prefira o pão fresco e mais escuro (mistura, centeio ou cereais), em vez do pão embalado.
6. Admitir que a criança não tome o pequeno-almoço
Depois de uma noite de sono, os níveis de energia estão baixos, razão pela qual o dia das crianças deve começar com um pequeno-almoço completo: com pão, fruta, leite ou iogurte.
A toma de um pequeno-almoço nutritivo irá permitir à criança ter mais energia durante o dia e mais concentração para as aulas / trabalhos, assim como um comportamento mais tranquilo.
7. Fazer uma alimentação pouco diversificada
Uma das regras básicas de uma alimentação saudável é apostar na variedade de alimentos, uma vez que as crianças necessitam de mais de 40 tipos diferentes de nutrientes para assegurar o bom funcionamento do organismo.
Tendo em conta que não existe nenhum alimento que os contenha todos, é importante equilibrar as escolhas diárias e variar.
8. Não incluir o peixe e os ovos nas refeições principais
Por norma, a criança tende a rejeitar o peixe em detrimento da carne. Não permita que esta situação seja recorrente, visto que o peixe fornece ácidos gordos ómega 3, importantes para o desenvolvimento cognitivo da criança. Além disso, na maioria dos casos, o peixe possui menor teor de gordura do que a carne, ajudando a prevenir a obesidade infantil.
Também os ovos deverão ser um alimento regular na alimentação da criança pelo facto de serem um alimento bastante completo do ponto de vista nutricional.
9. Não incluir leguminosas nas refeições
O feijão, grão, favas, ervilhas e as lentilhas são muito ricos do ponto de vista nutricional, mas são frequentemente esquecidos na alimentação da criança.
Recomenda-se que comece por doses pequenas, cerca de 1 a 2 colheres de sopa e que vá gradualmente aumentando, à medida que a criança for crescendo.
10. Forçar a criança a comer grandes quantidades de alimento
As necessidades energéticas da criança baseiam-se na soma da energia necessária ao processo natural de crescimento e ao desempenho adequado de outras funções vitais do organismo (como a manutenção da temperatura corporal, respiração, o batimento cardíaco, entre outras), ao dispêndio energético associado à prática de atividade física diária por parte da criança.
Como é evidente, estas necessidades são muito variáveis de criança para criança, na medida em que dependem da idade, sexo da criança, composição corporal (nomeadamente peso e altura), prática ou não de atividade física, fase de crescimento em que se encontra, entre outros fatores.
No entanto, e apesar de existirem valores padronizados para as diferentes idades e sexo, cada criança, por norma, tem uma capacidade inata para regular o seu apetite, sendo que quando se sente saciada, tende a rejeitar mais alimento.
Portanto, caso a criança esteja dentro do percentil de peso considerado saudável, não force a ingestão de mais quantidade. Este é um dos maiores erros na alimentação da criança. Deve deixar que seja a criança a regular as quantidades que ingere, de modo a prevenir desequilíbrios energéticos que poderão conduzir a estados de sobrenutrição da criança.